Fã clubes de brega resgatam tradições por meio do amor pela dança

É em meio aos sons de DJs de aparelhagens e às luzes coloridas que o brega permanece vivo como um símbolo da cultura paraense. Declarado Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Pará em 2021, para muitas pessoas o gênero é muito mais do que um ritmo musical: é uma expressão de identidade e de paixão pela dança.

Entre camisas padronizadas e os coreografados, os famosos “caquiados”, os fã clubes de brega vêm se reinventando para manter viva uma tradição que teve auge entre os anos 2000, período em que dominavam as festas de aparelhagens em Belém e nos interiores do estado.

Após anos de um cenário marcado por mudanças no gosto musical do público, violência urbana, dificuldades econômicas e readaptação das festas de aparelhagens, esses grupos ajudam a manter viva a herança cultural paraense e seguem mobilizando jovens e adultos.

Fã clubes mantêm viva a tradição

Fundado em setembro de 2007 por Katiane Oliveira, o fã clube ‘Potentes do Brega’ é um dos mais antigos que segue em atividade na cena paraense. Conhecida carinhosamente como “Rainha”, a fundadora e presidente do grupo conta que não chegou a viver o auge dos fãs clubes.

“Em 2005 eu encontrei meu primeiro marido e juntos começamos a ir nas festas. Ele começou a me contar dos fãs clubes que ele tinha participado e aquilo me encantou. Eu pedi para que ele me levasse em algum ensaio e na época, 2006, eles estavam se acabando, tinham poucos”, disse.

Segundo Katiane, o Potentes do Brega começou a partir de uma sugestão do companheiro dela naquela época, após ela ter participado de uma aula do ritmo e não ter se sentido acolhida. A ideia era resgatar a tradição do movimento. No início, era formado apenas por três pessoas: ela, o ex-marido e uma amiga.

Já o nome do grupo surgiu em homenagem a uma aparelhagem de brega que eles gostavam. De acordo com Katiane, eles escutavam o programa de rádio apresentado pelo DJ Vandinho, que tocava na ‘Super Potentes’, e todo dia eles ligavam para que ele mandasse um abraço para os três.

“Todo dia às três horas da tarde a gente ligava e um dia ele falou ‘Por que vocês não montam logo um fã clube pra eu mandar um abraço só?’. Nesse dia, eu disse: vamos colocar um nome no fã clube e depois nós chamamos outras pessoas. Surgiram vários nomes estranhos e eu pensei: ‘Existem os Príncipes do Brega por causa do Principe Negro e por causa do brega. Se a gente gosta do Super Potentes, podemos colocar o nome do nosso fã clube de Potentes do Brega”, explicou.

Atualmente, o grupo reúne cerca de 100 integrantes e é conhecido por realizar os “Ensaios do Potentes" toda semana, onde as pessoas encontram uma oportunidade para aprender a dançar brega. Após a aula com um professor, os participantes também podem aproveitar um baile com músicas marcantes tocadas por DJs para colocar em prática o que aprenderam no ensaio.

Além disso, o grupo também realiza e participa de diversas ações sociais ao longo do ano, seja engajando campanhas ou se apresentando em eventos, mantendo viva a memória cultural do brega e ajudando a comunidade local.

“Nós temos como base respeito e união, amor e carinho. Temos uma base familiar muito forte, não só para dentro do nosso fã clube, mas para fora também. A união e o respeito prevalecem dentro do nosso grupo sempre”, compartilha Katiane Oliveira.

Assim como os Potentes trilham um caminho do brega com mais de 15 anos de história, por outro, novos grupos surgem para fortalecer o movimento. É o caso do “The Legendários”, fundado há três anos, mas que já conta com cerca de 50 participantes ativos.

“Nosso grupo surgiu em 2022, quando eu dava aula em um centro comunitário no bairro de Canudos. Eu já era inserido nesse meio e tinha alguns contatos. Então, decidi juntar o útil ao agradável e expandir a cultura dos fã clubes com a fundação de mais um para somar”, disse Rick Veloso, fundador e presidente do The Legendários.

Ele conta que sempre gostou do brega e que começou a frequentar algumas festas de aparelhagens quando completou 18 anos de idade. Nesses eventos, ele via os frequentadores dançando e se divertindo, o que despertou nele a vontade de dançar o ritmo.

“Fui atrás de uma escola para dar os primeiros os. Mas, foi frequentando e andando com os bregueiros dos fã clubes que consegui desenvolver a minha dança. Hoje o brega representa uma necessidade pra mim. Além de entretenimento e lazer, ele é uma terapia, um remédio para a mente!”, compartilhou Rick.

No Legendarios os integrantes são escolhidos por mérito para garantir que compartilham do mesmo compromisso com a cultura e a tradição da dança. “Os interessados em entrar para o grupo se submetem a uma seleção, que se estende até dois meses. Isso serve para que a gente veja se a pessoa está apta para ter o compromisso de honrar nosso movimento”, explica o fundador do grupo.

Assim como outros fã clubes de brega, eles também realizam ensaios semanais para que as pessoas possam aprender a dançar o gênero musical e conhecer um pouco mais sobre a cultura. Os ensaios são abertos e antecedem um momento de ‘salão livre’, onde os visitantes podem aproveitar para colocar em prática os ensinamentos. Além disso, os The Legendários também participam de outros eventos com suas apresentações de dança.

Dança que aproxima

Além de manter viva a herança cultural paraense, os fã clubes de brega também são espaços onde podem surgir relações profundas, algumas delas, inclusive, amorosas. Foi o que aconteceu com Danielle Cristina e Waldo Maciel, conhecidos como Dani Morena e Mirinho, um casal que se formou nos ensaios do Potentes do Brega e estão há três anos juntos.

Dani conheceu o fã clube através de um amigo que era integrante. Já Mirinho descobriu os Potentes por meio das redes sociais. Ambos foram motivados pelo amor e paixão pela dança a entrar para o grupo. Eles começaram a conversar por troca de mensagens virtuais, até que marcaram de se encontrar em um ensaio dos Potentes.

“Marcamos de ir juntos ao ensaio. Então tocou aquele baile da saudade e foi aí que a gente percebeu que tínhamos uma sintonia bem grande”, contou Dani Morena. Desde esse momento, os dois não se separaram mais e até hoje estamos juntos. “Agradeço ao fã clube por ter conhecido ele!”, disse.

Para Mirinho, o fã clube foi peça fundamental para o encontro dos dois. “A gente fazer parte e ser integrante do mesmo fã clube foi de uma grande importância pra gente ter se conhecido. Primeiramente como amigos e depois começar a namorar. Hoje em dia somos marido e mulher graças ao fã clube ter juntado a gente”, enfatizou.

Histórias como a de Dani e Mirinho são mais comuns do que se imagina dentro dos fã clubes. A convivência próxima, o compartilhamento de experiências e a energia dos encontros criam um ambiente favorável para que surjam novas amizades e amores. Hoje, casados e frequentando os ensaios e os eventos do Potentes do Brega juntos, eles são uma prova de que os clubes,não apenas ajudam a difundir a dança, mas também criam um ambiente de união que envolve cada vez mais pessoas à tradição.

Valorização e reconhecimento

Embora os fã clubes enfrentam dificuldades, principalmente por conta da diminuição do apoio público e das mudanças no cenário musical, a cultura do brega segue forte. Os os ensaiados carregam tradição e memória, e os fã clubes funcionam como espaços de resistência cultural, onde os participantes unem o amor pela dança e pela identidade regional.

Para Rick, o movimento precisa ser reconhecido e valorizado pela população. "Levar de norte a sul e fazer com que milhares de pessoas tenham sensações únicas de como é se identificar com uma música ou uma dança, tendo em vista benefícios e investimentos maiores em nossa região que podem ser estabelecidos através de empresários, emissoras e governo", disse.

Já Katiane destaca a importância do brega para a identidade da região e a força dos coletivos “Os clubes clubes se quiserem crescer tem que trabalhar sozinhos ou entre sim. Nós do Potentes somos uma resistência porque surgimos quando os fãs clubes já estavam acabando. Nós surgimos e resistimos e com o tempo, outros foram surgindo também”, contou.

AULÕES DE BREGA

The legendários

• Dia e horário: todas as terça-feiras, a partir das 20h
• Local: Bar do Dinho (Rua São Domingos, 700 - Terra Firme)
• Valor: R$5,00
• Instagram: @_thelegendarios

Potentes do brega

• Dia e horário: todas quarta-feiras, a partir das 20h
• Local: Casa de show Império (Alameda Santa Inês, 90 - Mangueirão)
• Valor: R$5,00
• Instagram: @potentesdobrega

Os talibãs

• Dia e horário: toda quinta-feiras, a partir das 20h30
• Local: Avenida Show Bar (Av. Doutor Freitas, n° 47 - Sacramenta)
• Valor: R$5,00 até as 22h30, após esse horário R$10
• Instagram: @ostalibas_oficial

Aulão de brega com Allan Duarte

• Dia e horário: as segundas e quinta-feiras, a partir das 20h
• Local: Tenoné Beneficente Esporte Clube (agem Alacid Nunes, 32 - Tenoné)
• Valor: R$5,00
• Instagram: @allanvduarte