{"@context":"https://schema.org","@type":"NewsArticle","mainEntityOfPage":"/noticias/brasil/792040/tragedia-da-boate-kiss-completa-10-anos-relembre","headline":"Tragédia da boate Kiss completa 10 anos; relembre!","datePublished":"2023-01-21T12:00:27-03:00","dateModified":"2023-01-21T15:21:53-03:00","author":{"@type":"Person","name":"Caue Fonseca / Folhapress","url":"/noticias/brasil/792040/tragedia-da-boate-kiss-completa-10-anos-relembre"},"image":"/img/Artigo-Destaque/790000/BOATE-KISS1_00792040_0_.jpg?xid=2532706","publisher":{"@type":"Organization","name":"DOL","url":"/","logo":"/themes/DOL/img/logoDOL.png","Point":{"@type":"Point","Type":"Customer ","telephone":"+55-91-98412-6477","email":"[email protected]"},"address":{"@type":"PostalAddress","streetAddress":"Rua Gaspar Viana, 773/7","addressLocality":"Belém","addressRegion":"PA","postalCode":"66053-090","addressCountry":"BR"}},"description":"Sobreviventes e familiares das 242 vítimas relatam cansaço e hostilidade em Santa Maria","articleBody":"\\u0026lt;p\\u0026gt;Um dos porta-retratos que Maria Aparecida Neves, a Cida, 64, exibe do filho em uma escrivaninha \\u0026#233; da noite da trag\\u0026#233;dia. Augusto Cesar Neves, 19, veste uma camisa listrada em azul, preto e branco. Sorri ao lado de duas adolescentes e do amigo Luiz Eduardo Viegas Flores, 24, na sa\\u0026#237;da de um churrasco.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A poss\\u0026#237;vel esticada at\\u0026#233; a boate Kiss, conta Cida, era incerta at\\u0026#233; minutos antes. Decidiram bancar os anfitri\\u0026#245;es para as duas jovens, forasteiras em Santa Maria (RS).\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Quando eram umas 22h30 da noite, ele entrou em casa. Pensei: \\u0026#39;Ai, gra\\u0026#231;as a Deus. Ele n\\u0026#227;o vai.\\u0026#39; Mas ele ou em casa s\\u0026#243; para trocar de camisa e se despediu\\u0026quot;, diz Cida.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/entretenimento/cinema/790216/netflix-divulga-trailer-da-serie-sobre-a-tragedia-boate-kiss\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Netflix divulga trailer da s\\u0026#233;rie sobre a trag\\u0026#233;dia Boate Kiss\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O inc\\u0026#234;ndio da boate Kiss, que completa dez anos na pr\\u0026#243;xima sexta-feira (27), comoveu o Brasil e o mundo por materializar o maior temor de Cida e de muitos pais: de os filhos sa\\u0026#237;rem para se divertir e jamais voltarem.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Naquela noite, a lota\\u0026#231;\\u0026#227;o da boate fez a dupla de amigas sair mais cedo. Ap\\u0026#243;s o inc\\u0026#234;ndio, Luiz Eduardo e Augusto estiveram entre os 242 jovens que n\\u0026#227;o voltaram para casa.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A idade m\\u0026#233;dia das v\\u0026#237;timas do inc\\u0026#234;ndio foi de apenas 23 anos. A maioria sofreu asfixia devido a gases t\\u0026#243;xicos liberados pela queima do revestimento de espuma instalado irregularmente no local e que foi atingido pelas chamas de um artefato pirot\\u0026#233;cnico acendido no show da banda Gurizada Fandangueira. Houve ainda 636 feridos.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/791962/lula-vai-decretar-estado-de-calamidade-em-terra-yanomami?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Lula vai decretar estado de calamidade em terra Yanomami\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Todavia, ao longo da \\u0026#250;ltima d\\u0026#233;cada, familiares, sobreviventes e amigos das v\\u0026#237;timas reclamam de que a imensa e imediata empatia na cidade universit\\u0026#225;ria se transformou.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Hoje, eles lutam para preservar a mem\\u0026#243;ria da trag\\u0026#233;dia, dentro e fora dos lares, e enfrentam conterr\\u0026#226;neos cada vez mais agressivos, que defendem que se encerre o cap\\u0026#237;tulo Kiss na hist\\u0026#243;ria do munic\\u0026#237;pio ga\\u0026#250;cho de 285 mil habitantes -mesmo n\\u0026#227;o havendo nem sequer uma pessoa responsabilizada pela Justi\\u0026#231;a pelo incidente.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/791916/novo-delegado-quer-menos-violencia-policial-na-cracolandia?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Novo delegado quer menos viol\\u0026#234;ncia policial na cracol\\u0026#226;ndia\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;div\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/div\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O j\\u0026#250;ri popular que condenou dois empres\\u0026#225;rios, um m\\u0026#250;sico e um assistente de palco a penas entre 18 e 22 anos de pris\\u0026#227;o foi anulado sete meses depois por dois desembargadores por erros processuais. O Minist\\u0026#233;rio P\\u0026#250;blico recorre da anula\\u0026#231;\\u0026#227;o no Superior Tribunal de Justi\\u0026#231;a e no Supremo Tribunal Federal, mas n\\u0026#227;o h\\u0026#225; prazo para uma decis\\u0026#227;o ou para novo julgamento.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Medo do esquecimento \\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;At\\u0026#233; a morte de Augusto, logo ap\\u0026#243;s a aprova\\u0026#231;\\u0026#227;o no vestibular em ci\\u0026#234;ncia da computa\\u0026#231;\\u0026#227;o, Cida exibia em porta-retratos apenas uma foto do filho, ainda beb\\u0026#234;, do anivers\\u0026#225;rio de um ano. Hoje, s\\u0026#227;o 15 espalhadas pela casa de madeira na Vila S\\u0026#227;o Jo\\u0026#227;o Batista, um banner que ela leva para as manifesta\\u0026#231;\\u0026#245;es por Justi\\u0026#231;a e uma no pingente do colar. Outras tantas est\\u0026#227;o impressas para serem folheadas longamente, vez por outra, no quarto vazio.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Com a minha idade, tenho medo de ir esquecendo de como ele era. Tem quem diga que esse monte de foto \\u0026#233; pior. Para mim, n\\u0026#227;o \\u0026#233;. Gosto de imaginar como ele estaria hoje. De assistir a uma reportagem na TV sobre tecnologia e saber que ele estaria trabalhando com isso hoje\\u0026quot;, diz Cida.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/791754/operario-morre-em-canteiro-de-obra-do-metro-de-sp?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Oper\\u0026#225;rio morre em canteiro de obra do metr\\u0026#244; de SP\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Sentimentos como o dela tornam compreens\\u0026#237;veis iniciativas como a exposi\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026quot;Tempo Perdido\\u0026quot;, mobilizada por um coletivo de amigos das v\\u0026#237;timas -chamado Kiss: Que n\\u0026#227;o se repita- que arrecadou recursos e contratou um designer gr\\u0026#225;fico para simular em fotografia como estariam hoje oito v\\u0026#237;timas.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Em 27 de janeiro, \\u0026#224;s 19h, as fotografias ser\\u0026#227;o exibidas na pra\\u0026#231;a Saldanha Marinho, como parte da programa\\u0026#231;\\u0026#227;o de eventos dos dez anos da trag\\u0026#233;dia. Entre 25 e 28 de janeiro, a cidade ter\\u0026#225; ainda a\\u0026#231;\\u0026#245;es como vig\\u0026#237;lia, missa, palestras e a exibi\\u0026#231;\\u0026#227;o p\\u0026#250;blica do primeiro cap\\u0026#237;tulo do document\\u0026#225;rio \\u0026quot;Boate Kiss - A Trag\\u0026#233;dia de Santa Maria\\u0026quot;, que estreia no mesmo dia 26 na Globoplay.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Eu percebo caras feias quando vou trabalhar com camisetas como essa [alusiva aos sete anos do inc\\u0026#234;ndio]. Muitas pessoas simplesmente n\\u0026#227;o querem ser lembradas da Kiss, mesmo que n\\u0026#227;o haja nada impedindo que algo assim aconte\\u0026#231;a novamente\\u0026quot;, diz Sindi Caroline Chaves, 28, integrante do coletivo.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/791737/trabalhador-morre-sugado-por-maquina-durante-manutencao?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Trabalhador morre sugado por m\\u0026#225;quina durante manuten\\u0026#231;\\u0026#227;o\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Cida tamb\\u0026#233;m cita a preven\\u0026#231;\\u0026#227;o de novas trag\\u0026#233;dias como um ponto fundamental da mem\\u0026#243;ria da Kiss. Menciona dois inc\\u0026#234;ndios recentes semelhantes ao de Santa Maria, coincidentemente ocorrido com dois dias de diferen\\u0026#231;a. Em 21 de janeiro de 2022, a falha em um equipamento pirot\\u0026#233;cnico, ainda em investiga\\u0026#231;\\u0026#227;o, deixou 20 feridos em um resort em Ces\\u0026#225;rio Lange (SP). J\\u0026#225; no dia 23, em Camar\\u0026#245;es, a chama de um fogo de artif\\u0026#237;cio atingiu o teto de uma boate da capital Yaound\\u0026#233;, matando 16 pessoas.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;H\\u0026#225; quatro meses, ada a fase cr\\u0026#237;tica da pandemia de Covid, a AVTSM (Associa\\u0026#231;\\u0026#227;o dos Familiares de V\\u0026#237;timas e Sobreviventes da Trag\\u0026#233;dia de Santa Maria) retomou as vig\\u0026#237;lias no centro de Santa Maria, em uma tenda que exibe um banner com as fotos das 242 v\\u0026#237;timas. Os familiares realizam um ato mensalmente, sempre no dia 27.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Relatam uma maior hostilidade, com olhares pouco amistosos de transeuntes e cr\\u0026#237;ticas nas redes sociais. \\u0026quot;\\u0026#39;Voc\\u0026#234;s n\\u0026#227;o deixam eles descansarem\\u0026#39;, eles nos dizem. Agora saiu o trailer da Netflix e eu tive de parar de ler os coment\\u0026#225;rios\\u0026quot; diz Marilene Santos, vice-presidente da AVTSM, em refer\\u0026#234;ncia \\u0026#224; miniss\\u0026#233;rie \\u0026quot;Todo Dia a Mesma Noite\\u0026quot;, baseada no livro hom\\u0026#244;nimo da jornalista Daniela Arbex.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/791622/incendio-atinge-aeroporto-do-galeao-no-rio-de-janeiro?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Inc\\u0026#234;ndio atinge aeroporto do Gale\\u0026#227;o, no Rio de Janeiro\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Marlene, que perdeu a filha ca\\u0026#231;ula Nathiele dos Santos Soares, 21, e o genro, Alan Ra\\u0026#237; de Oliveira, 26, n\\u0026#227;o v\\u0026#234; possibilidade de descanso sem que haja culpados na pris\\u0026#227;o pelas centenas de mortes.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Nos mandam tirar a barraca da pra\\u0026#231;a, dizem que queremos dinheiro, que queremos vingan\\u0026#231;a. N\\u0026#227;o queremos vingan\\u0026#231;a, queremos Justi\\u0026#231;a. Para ter descanso, temos primeiro de encerrar isso [o processo]\\u0026quot;, diz a m\\u0026#227;e de Nathiele.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ao longo desses dez anos, Marilene tem cada vez mais dificuldade de encontrar solidariedade at\\u0026#233; de familiares pr\\u0026#243;ximos, que insistem que \\u0026quot;nada vai fazer eles voltarem\\u0026quot;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Mas o peito afundado de saudade ainda \\u0026#233; uma constante para ela. O sentimento piora aos domingos, dias em que a filha a visitava, e \\u0026#224;s vezes a toma de assalto. A \\u0026#250;ltima vez foi quando encontrou um bilhete antigo com a letra da filha perdido em uma gaveta, escrito atr\\u0026#225;s de uma receita de bolo. Virou rel\\u0026#237;quia.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Superar o trauma al\\u0026#233;m do tribunal Outra unanimidade entre os familiares \\u0026#233; o cansa\\u0026#231;o, acentuado com o avan\\u0026#231;o da idade dos pais - seis deles j\\u0026#225; faleceram desde 2013 -e pela frustra\\u0026#231;\\u0026#227;o com a anula\\u0026#231;\\u0026#227;o do julgamento, em agosto ado. Algo que o sobrevivente e testemunha no j\\u0026#250;ri popular Maike Adriel dos Santos, 30, classifica como \\u0026quot;tortura psicol\\u0026#243;gica\\u0026quot;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Os \\u0026#250;nicos punidos at\\u0026#233; aqui pela trag\\u0026#233;dia somos n\\u0026#243;s. Somos e continuamos a ser punidos. Mas vou procurar for\\u0026#231;as para testemunhar outras dez vezes se for preciso\\u0026quot;, diz o jovem que perdeu sete amigos na primeira e \\u0026#250;nica vez que entrou na Kiss.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/791617/esposa-tenta-salvar-marido-e-ambos-morrem-eletrocutados?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Esposa tenta salvar marido e ambos morrem eletrocutados\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Al\\u0026#233;m de Maike, hoje formado em desenho industrial e que dedicou seu TCC a estudar o ambiente da boate no quesito seguran\\u0026#231;a, ganham destaque nos eventos e a\\u0026#231;\\u0026#245;es jovens como Kelen Ferreira, terapeuta ocupacional que teve uma perna amputada em raz\\u0026#227;o dos ferimentos no inc\\u0026#234;ndio e que se tornou uma influenciadora PCD, e o psic\\u0026#243;logo Gabriel Rovadoschi Barros, 28, que, ap\\u0026#243;s oito anos praticamente sem falar sobre a trag\\u0026#233;dia, assumiu a presid\\u0026#234;ncia da AVTSM.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Tive diferentes fases nesses dez anos. Era a primeira vez que eu entrava em uma boate, e muito da minha juventude eu perdi ali. Coisas que eu deveria viver nos meus 20 e poucos anos acabaram se deslocando. Eu vinha amadurecendo esse assunto dentro de mim para enfim conseguir olhar nos olhos dele\\u0026quot;, conta Gabriel.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Gabriel se diz atento e inconformado com o andamento do processo na Justi\\u0026#231;a ga\\u0026#250;cha, mas pretende priorizar dois outros pontos \\u0026#224; frente da associa\\u0026#231;\\u0026#227;o: cuidar uns dos outros e batalhar por espa\\u0026#231;os seguros para se falar sobre o trauma na cidade. Um deles pode vir a ser a pr\\u0026#243;pria Kiss.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Desapropriada em 2017 pela Prefeitura de Santa Maria, a boate teve o interior conservado para servir de prova no processo. A fachada do pr\\u0026#233;dio foi grafitada com cobran\\u0026#231;as \\u0026#224; 1\\u0026#170; C\\u0026#226;mara Criminal do Tribunal de Justi\\u0026#231;a do RS, onde atuam os desembargadores respons\\u0026#225;veis pela anula\\u0026#231;\\u0026#227;o.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A fachada tamb\\u0026#233;m recebeu in\\u0026#250;meros cartazes e mensagens de crian\\u0026#231;as, todos desbotados por anos de sol a pino. Um projeto de memorial j\\u0026#225; foi aprovado para ser constru\\u0026#237;do ap\\u0026#243;s a demoli\\u0026#231;\\u0026#227;o da boate, mas a hip\\u0026#243;tese de um novo julgamento trouxe mais essa incerteza.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;H\\u0026#225; familiares que defendem que a Kiss fique como est\\u0026#225; at\\u0026#233; que a Justi\\u0026#231;a seja feita, como um emblema. J\\u0026#225; Gabriel est\\u0026#225; entre os que preferem que o memorial seja constru\\u0026#237;do logo e sirva para reflex\\u0026#227;o e den\\u0026#250;ncia. Para que a hist\\u0026#243;ria da Kiss deixe de ser ignorada e e a ser contada \\u0026#224;s novas gera\\u0026#231;\\u0026#245;es o quanto antes, ainda que sem um ponto final.\\u0026lt;/p\\u0026gt;","keywords":"tragedia, boate Kiss, 10 anos"}
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Tragédia da boate Kiss completa 10 anos; relembre!

Sobreviventes e familiares das 242 vítimas relatam cansaço e hostilidade em Santa Maria

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Imagem ilustrativa da notícia Tragédia da boate Kiss completa 10 anos; relembre! camera Boate Kiss | Reprodução/ Redes Sociais

Um dos porta-retratos que Maria Aparecida Neves, a Cida, 64, exibe do filho em uma escrivaninha é da noite da tragédia. Augusto Cesar Neves, 19, veste uma camisa listrada em azul, preto e branco. Sorri ao lado de duas adolescentes e do amigo Luiz Eduardo Viegas Flores, 24, na saída de um churrasco.

A possível esticada até a boate Kiss, conta Cida, era incerta até minutos antes. Decidiram bancar os anfitriões para as duas jovens, forasteiras em Santa Maria (RS).

"Quando eram umas 22h30 da noite, ele entrou em casa. Pensei: 'Ai, graças a Deus. Ele não vai.' Mas ele ou em casa só para trocar de camisa e se despediu", diz Cida.

O incêndio da boate Kiss, que completa dez anos na próxima sexta-feira (27), comoveu o Brasil e o mundo por materializar o maior temor de Cida e de muitos pais: de os filhos saírem para se divertir e jamais voltarem.

Naquela noite, a lotação da boate fez a dupla de amigas sair mais cedo. Após o incêndio, Luiz Eduardo e Augusto estiveram entre os 242 jovens que não voltaram para casa.

A idade média das vítimas do incêndio foi de apenas 23 anos. A maioria sofreu asfixia devido a gases tóxicos liberados pela queima do revestimento de espuma instalado irregularmente no local e que foi atingido pelas chamas de um artefato pirotécnico acendido no show da banda Gurizada Fandangueira. Houve ainda 636 feridos.

Todavia, ao longo da última década, familiares, sobreviventes e amigos das vítimas reclamam de que a imensa e imediata empatia na cidade universitária se transformou.

Hoje, eles lutam para preservar a memória da tragédia, dentro e fora dos lares, e enfrentam conterrâneos cada vez mais agressivos, que defendem que se encerre o capítulo Kiss na história do município gaúcho de 285 mil habitantes -mesmo não havendo nem sequer uma pessoa responsabilizada pela Justiça pelo incidente.

O júri popular que condenou dois empresários, um músico e um assistente de palco a penas entre 18 e 22 anos de prisão foi anulado sete meses depois por dois desembargadores por erros processuais. O Ministério Público recorre da anulação no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, mas não há prazo para uma decisão ou para novo julgamento.

Medo do esquecimento

Até a morte de Augusto, logo após a aprovação no vestibular em ciência da computação, Cida exibia em porta-retratos apenas uma foto do filho, ainda bebê, do aniversário de um ano. Hoje, são 15 espalhadas pela casa de madeira na Vila São João Batista, um banner que ela leva para as manifestações por Justiça e uma no pingente do colar. Outras tantas estão impressas para serem folheadas longamente, vez por outra, no quarto vazio.

"Com a minha idade, tenho medo de ir esquecendo de como ele era. Tem quem diga que esse monte de foto é pior. Para mim, não é. Gosto de imaginar como ele estaria hoje. De assistir a uma reportagem na TV sobre tecnologia e saber que ele estaria trabalhando com isso hoje", diz Cida.

Sentimentos como o dela tornam compreensíveis iniciativas como a exposição "Tempo Perdido", mobilizada por um coletivo de amigos das vítimas -chamado Kiss: Que não se repita- que arrecadou recursos e contratou um designer gráfico para simular em fotografia como estariam hoje oito vítimas.

Em 27 de janeiro, às 19h, as fotografias serão exibidas na praça Saldanha Marinho, como parte da programação de eventos dos dez anos da tragédia. Entre 25 e 28 de janeiro, a cidade terá ainda ações como vigília, missa, palestras e a exibição pública do primeiro capítulo do documentário "Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria", que estreia no mesmo dia 26 na Globoplay.

"Eu percebo caras feias quando vou trabalhar com camisetas como essa [alusiva aos sete anos do incêndio]. Muitas pessoas simplesmente não querem ser lembradas da Kiss, mesmo que não haja nada impedindo que algo assim aconteça novamente", diz Sindi Caroline Chaves, 28, integrante do coletivo.

Cida também cita a prevenção de novas tragédias como um ponto fundamental da memória da Kiss. Menciona dois incêndios recentes semelhantes ao de Santa Maria, coincidentemente ocorrido com dois dias de diferença. Em 21 de janeiro de 2022, a falha em um equipamento pirotécnico, ainda em investigação, deixou 20 feridos em um resort em Cesário Lange (SP). Já no dia 23, em Camarões, a chama de um fogo de artifício atingiu o teto de uma boate da capital Yaoundé, matando 16 pessoas.

Há quatro meses, ada a fase crítica da pandemia de Covid, a AVTSM (Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria) retomou as vigílias no centro de Santa Maria, em uma tenda que exibe um banner com as fotos das 242 vítimas. Os familiares realizam um ato mensalmente, sempre no dia 27.

Relatam uma maior hostilidade, com olhares pouco amistosos de transeuntes e críticas nas redes sociais. "'Vocês não deixam eles descansarem', eles nos dizem. Agora saiu o trailer da Netflix e eu tive de parar de ler os comentários" diz Marilene Santos, vice-presidente da AVTSM, em referência à minissérie "Todo Dia a Mesma Noite", baseada no livro homônimo da jornalista Daniela Arbex.

Marlene, que perdeu a filha caçula Nathiele dos Santos Soares, 21, e o genro, Alan Raí de Oliveira, 26, não vê possibilidade de descanso sem que haja culpados na prisão pelas centenas de mortes.

"Nos mandam tirar a barraca da praça, dizem que queremos dinheiro, que queremos vingança. Não queremos vingança, queremos Justiça. Para ter descanso, temos primeiro de encerrar isso [o processo]", diz a mãe de Nathiele.

Ao longo desses dez anos, Marilene tem cada vez mais dificuldade de encontrar solidariedade até de familiares próximos, que insistem que "nada vai fazer eles voltarem".

Mas o peito afundado de saudade ainda é uma constante para ela. O sentimento piora aos domingos, dias em que a filha a visitava, e às vezes a toma de assalto. A última vez foi quando encontrou um bilhete antigo com a letra da filha perdido em uma gaveta, escrito atrás de uma receita de bolo. Virou relíquia.

Superar o trauma além do tribunal Outra unanimidade entre os familiares é o cansaço, acentuado com o avanço da idade dos pais - seis deles já faleceram desde 2013 -e pela frustração com a anulação do julgamento, em agosto ado. Algo que o sobrevivente e testemunha no júri popular Maike Adriel dos Santos, 30, classifica como "tortura psicológica".

"Os únicos punidos até aqui pela tragédia somos nós. Somos e continuamos a ser punidos. Mas vou procurar forças para testemunhar outras dez vezes se for preciso", diz o jovem que perdeu sete amigos na primeira e única vez que entrou na Kiss.

Além de Maike, hoje formado em desenho industrial e que dedicou seu TCC a estudar o ambiente da boate no quesito segurança, ganham destaque nos eventos e ações jovens como Kelen Ferreira, terapeuta ocupacional que teve uma perna amputada em razão dos ferimentos no incêndio e que se tornou uma influenciadora PCD, e o psicólogo Gabriel Rovadoschi Barros, 28, que, após oito anos praticamente sem falar sobre a tragédia, assumiu a presidência da AVTSM.

"Tive diferentes fases nesses dez anos. Era a primeira vez que eu entrava em uma boate, e muito da minha juventude eu perdi ali. Coisas que eu deveria viver nos meus 20 e poucos anos acabaram se deslocando. Eu vinha amadurecendo esse assunto dentro de mim para enfim conseguir olhar nos olhos dele", conta Gabriel.

Gabriel se diz atento e inconformado com o andamento do processo na Justiça gaúcha, mas pretende priorizar dois outros pontos à frente da associação: cuidar uns dos outros e batalhar por espaços seguros para se falar sobre o trauma na cidade. Um deles pode vir a ser a própria Kiss.

Desapropriada em 2017 pela Prefeitura de Santa Maria, a boate teve o interior conservado para servir de prova no processo. A fachada do prédio foi grafitada com cobranças à 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do RS, onde atuam os desembargadores responsáveis pela anulação.

A fachada também recebeu inúmeros cartazes e mensagens de crianças, todos desbotados por anos de sol a pino. Um projeto de memorial já foi aprovado para ser construído após a demolição da boate, mas a hipótese de um novo julgamento trouxe mais essa incerteza.

Há familiares que defendem que a Kiss fique como está até que a Justiça seja feita, como um emblema. Já Gabriel está entre os que preferem que o memorial seja construído logo e sirva para reflexão e denúncia. Para que a história da Kiss deixe de ser ignorada e e a ser contada às novas gerações o quanto antes, ainda que sem um ponto final.

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