{"@context":"https://schema.org","@type":"NewsArticle","mainEntityOfPage":"/noticias/brasil/861203/rapper-denuncia-racismo-ambiental-em-meio-a-tragedia-no-rs","headline":"Rapper denuncia racismo ambiental em meio a tragédia no RS","datePublished":"2024-05-26T19:59:23-03:00","dateModified":"2024-05-26T20:03:12.24-03:00","author":{"@type":"Person","name":"Agência Brasil","url":"/noticias/brasil/861203/rapper-denuncia-racismo-ambiental-em-meio-a-tragedia-no-rs"},"image":"/img/Artigo-Destaque/860000/rapper_00861203_0_.webp?xid=2867499","publisher":{"@type":"Organization","name":"DOL","url":"/","logo":"/themes/DOL/img/logoDOL.png","Point":{"@type":"Point","Type":"Customer ","telephone":"+55-91-98412-6477","email":"[email protected]"},"address":{"@type":"PostalAddress","streetAddress":"Rua Gaspar Viana, 773/7","addressLocality":"Belém","addressRegion":"PA","postalCode":"66053-090","addressCountry":"BR"}},"description":"Rapper fez críticas ao que chama de \"apagamento\" da negritude gaúcha e de reclama da falta de artistas negros do estado no programa \"Altas Horas\", de Serginho Groismann dedicado ao Rio Grande do Sul só com brancos","articleBody":"\\u0026lt;p\\u0026gt;Em menos de seis meses de funcionamento, o rec\\u0026#233;m-inaugurado Museu da Cultura Hip Hop, o primeiro e \\u0026#250;nico do g\\u0026#234;nero na Am\\u0026#233;rica Latina, localizado na zona norte de Porto Alegre, se tornou um espa\\u0026#231;o importante na log\\u0026#237;stica de coleta e distribui\\u0026#231;\\u0026#227;o de doa\\u0026#231;\\u0026#245;es \\u0026#224;s fam\\u0026#237;lias afetadas pela enchente na regi\\u0026#227;o metropolitana da capital ga\\u0026#250;cha.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Quem d\\u0026#225; as coordenadas na a\\u0026#231;\\u0026#227;o, que envolve dezenas de pessoas, \\u0026#233; o ativista, rapper e MC Rafa Rafuagi, uma das principais refer\\u0026#234;ncias da cultura de periferia no Rio Grande do Sul. 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Se a gente for no Sarandi, que \\u0026#233; o bairro que mais alagou [em Porto Alegre], s\\u0026#227;o pouqu\\u0026#237;ssimos espa\\u0026#231;os de lazer, espa\\u0026#231;os arborizados ou espa\\u0026#231;o que, de fato, as pessoas possam pensar em a\\u0026#231;\\u0026#245;es coletivas, como hortas comunit\\u0026#225;rias, uma a\\u0026#231;\\u0026#227;o popular. N\\u0026#227;o h\\u0026#225; um plano que pense a mudan\\u0026#231;a desse paradigma, de construir mais espa\\u0026#231;os que possam pensar a qualidade do ar\\u0026quot;, analisa Rafuagi.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para ele, isso se combina de forma perversa com um negacionismo cient\\u0026#237;fico que predominou nas pol\\u0026#237;ticas p\\u0026#250;blicas no estado.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Rafa Rafuagi aponta ainda neglig\\u0026#234;ncia nos alertas de evacua\\u0026#231;\\u0026#227;o por causa de rompimento de diques, o que impediu que os moradores conseguissem salvar bens e sair das casas antes das inunda\\u0026#231;\\u0026#245;es, al\\u0026#233;m da falta de manuten\\u0026#231;\\u0026#227;o do sistema de preven\\u0026#231;\\u0026#227;o nas \\u0026#225;reas mais pobres. \\u0026quot;Houve uma neglig\\u0026#234;ncia, tanto da informa\\u0026#231;\\u0026#227;o, da quest\\u0026#227;o de alertas, de rompimento de diques. [...] H\\u0026#225;, no estado mais racista do Brasil, um negacionismo sobre a quest\\u0026#227;o, de que n\\u0026#227;o \\u0026#233; investimento a quest\\u0026#227;o ambiental, mas custo\\u0026quot;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h4\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Negritude ga\\u0026#250;cha\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/h4\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Embora normalmente associado \\u0026#224; coloniza\\u0026#231;\\u0026#227;o europeia branca do s\\u0026#233;culo 19, o Rio Grande do Sul \\u0026#233; terra de nomes fundamentais do movimento negro, como o poeta e escritor Oliveira Silveira (1941-2009), um dos criadores do Grupo Palmares, que idealizou o dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, como o Dia da Consci\\u0026#234;ncia Negra, em detrimento do 13 de maio, data da Aboli\\u0026#231;\\u0026#227;o da Escravid\\u0026#227;o.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;E de Petronilha Silva, professora porto-alegrense, relatora no Conselho Nacional de Educa\\u0026#231;\\u0026#227;o do projeto que tornou obrigat\\u0026#243;ria o ensino de hist\\u0026#243;ria e cultura afro-brasileira nos curr\\u0026#237;culos das institui\\u0026#231;\\u0026#245;es de educa\\u0026#231;\\u0026#227;o b\\u0026#225;sica, com a edi\\u0026#231;\\u0026#227;o da Lei 10.639, em 2003, at\\u0026#233; hoje n\\u0026#227;o plenamente cumprida.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Na hist\\u0026#243;ria da constru\\u0026#231;\\u0026#227;o do pr\\u0026#243;prio estado, foram pretos escravizados que compam a lend\\u0026#225;ria infantaria dos Lanceiros Negros, que formou parte do ex\\u0026#233;rcito ga\\u0026#250;cho na Revolu\\u0026#231;\\u0026#227;o Farroupilha, mas que mais tarde acabaram sendo chacinados em uma emboscada preparada pelo ex\\u0026#233;rcito imperial comandando por Duque de Caxias. Muitos historiadores vinculam o massacre dos Porongos, como ficou conhecida a emboscada, a uma a\\u0026#231;\\u0026#227;o orquestrada em acordo com o chefe militar dos farrapos, David Canabarro, o que facilitou um acordo de paz entre a elite rio-grandense e o Imp\\u0026#233;rio.\\u0026amp;nbsp; \\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;\\u0026#201; fundamental que haja um processo de oportunizar que a hist\\u0026#243;ria do negro do Rio Grande do Sul possa ganhar escala nacional, uma evid\\u0026#234;ncia mais forte. Porque isso, inclusive, gera um processo inverso que os brancos xenof\\u0026#243;bicos racistas ga\\u0026#250;chos fazem com o Norte e Nordeste. Por exemplo, agora, com a enchente, tinha muita gente falando: \\u0026#39;ah, por que ajudar o Sul? O Sul s\\u0026#243; tem branco, o Sul n\\u0026#227;o sei o qu\\u0026#234;\\u0026#39;. E esquecem que existem negros, um monte de terreiro de matriz africana aqui no Sul\\u0026quot;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Agora, de fato, os negros n\\u0026#227;o s\\u0026#227;o a maioria da popula\\u0026#231;\\u0026#227;o no estado. Eles est\\u0026#227;o espalhados em regi\\u0026#245;es que n\\u0026#227;o s\\u0026#227;o, em grande parte, na \\u0026#225;rea metropolitana, embora haja muitos negros na metropolitana. Esses negros est\\u0026#227;o na regi\\u0026#227;o sul do estado, que foi o caminho da migra\\u0026#231;\\u0026#227;o durante a escraviza\\u0026#231;\\u0026#227;o, o porto de Rio Grande [litoral sul] como ponto de entrada. E eles ficaram mais por ali: Tapes, Camaqu\\u0026#227;, Aram Bar\\u0026#233;, Cangussu, Turu\\u0026#231;u, Cristal, Pelotas, Rio Grande e Jaguar\\u0026#227;o. Em todas essas regi\\u0026#245;es, a popula\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#233; negra, majoritariamente. Por outro lado, na regi\\u0026#227;o da Serra [Ga\\u0026#250;cha], que s\\u0026#227;o lugares majoritariamente mais brancos, por causa das col\\u0026#244;nias italiana e alem\\u0026#227;, onde se assentaram e tiveram seus privil\\u0026#233;gios, n\\u0026#227;o s\\u0026#227;o t\\u0026#227;o habitadas por negros\\u0026quot;, explica o rapper.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Afroturismo\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Rafuagi prev\\u0026#234; a retomada da programa\\u0026#231;\\u0026#227;o normal do Museu da Cultura Hip Hop j\\u0026#225; na pr\\u0026#243;xima semana. At\\u0026#233; e eclos\\u0026#227;o das enchentes, o espa\\u0026#231;o recebia um m\\u0026#233;dia de 1 mil visitantes por semana, a maioria estudantes do ensino b\\u0026#225;sico. Com cerca de 4 mil metros quadrados, o espa\\u0026#231;o conta com a exibi\\u0026#231;\\u0026#227;o de mais de 500 artefatos, pain\\u0026#233;is e arquivos digitais que contextualizam a hist\\u0026#243;ria do hip hop no estado, no Brasil e no mundo. Al\\u0026#233;m disso, na \\u0026#225;rea externa, h\\u0026#225; quadra, um multipalco, sala de oficinas e uma horta que produz frutas e hortali\\u0026#231;as doadas para comunidades.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A equipe do museu agora pretende dar andamento a um projeto que prev\\u0026#234; a estrutura\\u0026#231;\\u0026#227;o de um roteiro tur\\u0026#237;stico de cultura negra em Porto Alegre, em parceria com a Ag\\u0026#234;ncia Brasileira de Promo\\u0026#231;\\u0026#227;o Internacional do Turismo (Embratur).\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Esse afroturismo busca conectar pontos de mem\\u0026#243;ria ou a\\u0026#231;\\u0026#227;o pr\\u0026#225;tica do movimento negro, em todo o Brasil, para que as pessoas quando vierem aqui n\\u0026#227;o irem apenas a Gramado, um lugar branco e europeu. Virem no Museu do Hip Hop, irem no galp\\u0026#227;o cultural no Morro da Cruz, na casa do Hip Hop em Esteio, irem l\\u0026#225; no pavilh\\u0026#227;o eco sustent\\u0026#225;vel na Restinga, que \\u0026#233; um bairro perif\\u0026#233;rico daqui\\u0026quot;, prop\\u0026#245;e o MC ga\\u0026#250;cho.\\u0026lt;/p\\u0026gt;","keywords":"negritude gaucha,racismo ambiental,tragedia no rio grande do sul,cheias,chuvas,alagamentos,emergencia climatica"}
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NEGRITUDE GAÚCHA

Rapper denuncia racismo ambiental em meio a tragédia no RS

Rapper fez críticas ao que chama de "apagamento" da negritude gaúcha e de reclama da falta de artistas negros do estado no programa "Altas Horas", de Serginho Groismann dedicado ao Rio Grande do Sul só com brancos

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Imagem ilustrativa da notícia Rapper denuncia racismo ambiental em meio a tragédia no RS camera Rafa Rafuagi enfrentou catástrofe e coordena doações na capital | (Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil)

Em menos de seis meses de funcionamento, o recém-inaugurado Museu da Cultura Hip Hop, o primeiro e único do gênero na América Latina, localizado na zona norte de Porto Alegre, se tornou um espaço importante na logística de coleta e distribuição de doações às famílias afetadas pela enchente na região metropolitana da capital gaúcha.

Quem dá as coordenadas na ação, que envolve dezenas de pessoas, é o ativista, rapper e MC Rafa Rafuagi, uma das principais referências da cultura de periferia no Rio Grande do Sul. Ali, em pouco mais de três semanas de emergência climática, foram 200 toneladas de itens como roupas, cobertores, camas, colchões, água, alimentos, entre outros, escoados para as regiões mais atingidas de pelo menos 10 municípios do estado.

"A gente está na fase da retomada dos lares. Não estamos na fase mais crítica, quando tinha falta de alimento, de água, de tudo", descreve Rafuagi, que recebeu a reportagem da Agência Brasil na manhã de sábado (25), na sede do museu, onde comandava a saída de mais um caminhão de entrega, repleto de colchões e roupas de cama, com destino a Canoas.

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Ele próprio viveu na pele essa fase dramática do estado.

"Quando tu tá vendo a água subir, parece cena do [filme] Titanic, as pessoas com coisas na mão tentando correr para salvar algo, as mães com crianças no colo. Um vizinho me ajudou a subir a geladeira, os móveis, mas não adiantou nada. Foi tudo perdido", conta.

Rafuagi, 36 anos, é porto-alegrense de nascimento, mas cresceu em Esteio, na região metropolitana, onde fundou uma Casa de Cultura Hip Hop. O espaço é a semente do que veio a ser o museu, e berço de um ativismo que teve seu ápice no ano ado, quando rapper foi figura central na cerimônia que marcou a edição, pelo governo federal, de um decreto de fomento da cultura periférica e apresentação de um projeto de lei para instituir o Dia Nacional do Hip Hop no Brasil. Cultura preta por excelência, forjada nas periferias das metrópoles, o Hip Hop que corre nas veias de Rafuagi o faz denunciar o apagamento da presença afro-gaúcha em contexto de grande sofrimento da população.

Há cerca de 10 dias, em uma visita a São Leopoldo, outra cidade da região metropolitana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a expressiva presença de pessoas negras no do Rio Grande do Sul, sobretudo as vítimas da enchente, após visitar abrigo e ver imagens na televisão.

"Em São Leopoldo, onde o presidente estava, uma das maiores periferias é a Feitoria, bairro mais populoso da cidade, com dezenas de milhares de pessoas negras. (...) A enchente revelou, talvez, uma das faces que escancara tudo isso. Não estou dizendo que são majoritariamente pessoas negras, acho que todo mundo perdeu igual, e não estou aqui para dizer que um perdeu mais e outro perdeu menos. Todo mundo perdeu igual, infelizmente", diz Rafuagi.

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Apesar disso, argumenta, há um apagamento que recai sobre a pele negra quando se pensa no Rio Grande do Sul. Ele cita, por exemplo, que um programa de televisão foi dedicado a artistas gaúchos, porém só havia a presença de brancos e representantes de gêneros não periféricos.

"Populares [os artistas], talvez, mas não periféricos. Nesse sentido, a gente vê que é importante mostrar essa participação do negro na construção do estado e na ação própria emergencial que estamos vivendo", acrescenta.

Racismo ambiental

Mapas produzidos pelo Núcleo Porto Alegre do Observatório das Metrópoles mostram uma demarcação muito clara de desigualdade de renda e de raça nas pessoas que foram mais atingidas pela catástrofe. As áreas mais alagadas foram, principalmente, as mais pobres, com impacto proporcionalmente muito maior sobre a população negra, que representa cerca de 21% dos habitantes do estado, segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Nesse caso, as áreas que mais sofreram com as inundações apresentam concentração expressiva de população preta e parda, geralmente acima da média dos municípios. É o caso de bairros como Humaitá, Sarandi e Rubem Berta, em Porto Alegre, e de Mathias Velho, em Canoas.

"Existe uma questão de racismo ambiental na cidade que está relacionado à catástrofe, essa relação de falta de lugares mais arborizados e as periferias estarem viradas em concreto, não terem praças. Se a gente for no Sarandi, que é o bairro que mais alagou [em Porto Alegre], são pouquíssimos espaços de lazer, espaços arborizados ou espaço que, de fato, as pessoas possam pensar em ações coletivas, como hortas comunitárias, uma ação popular. Não há um plano que pense a mudança desse paradigma, de construir mais espaços que possam pensar a qualidade do ar", analisa Rafuagi.

Para ele, isso se combina de forma perversa com um negacionismo científico que predominou nas políticas públicas no estado.

Rafa Rafuagi aponta ainda negligência nos alertas de evacuação por causa de rompimento de diques, o que impediu que os moradores conseguissem salvar bens e sair das casas antes das inundações, além da falta de manutenção do sistema de prevenção nas áreas mais pobres. "Houve uma negligência, tanto da informação, da questão de alertas, de rompimento de diques. [...] Há, no estado mais racista do Brasil, um negacionismo sobre a questão, de que não é investimento a questão ambiental, mas custo".

Negritude gaúcha

Embora normalmente associado à colonização europeia branca do século 19, o Rio Grande do Sul é terra de nomes fundamentais do movimento negro, como o poeta e escritor Oliveira Silveira (1941-2009), um dos criadores do Grupo Palmares, que idealizou o dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, como o Dia da Consciência Negra, em detrimento do 13 de maio, data da Abolição da Escravidão.

E de Petronilha Silva, professora porto-alegrense, relatora no Conselho Nacional de Educação do projeto que tornou obrigatória o ensino de história e cultura afro-brasileira nos currículos das instituições de educação básica, com a edição da Lei 10.639, em 2003, até hoje não plenamente cumprida.

Na história da construção do próprio estado, foram pretos escravizados que compam a lendária infantaria dos Lanceiros Negros, que formou parte do exército gaúcho na Revolução Farroupilha, mas que mais tarde acabaram sendo chacinados em uma emboscada preparada pelo exército imperial comandando por Duque de Caxias. Muitos historiadores vinculam o massacre dos Porongos, como ficou conhecida a emboscada, a uma ação orquestrada em acordo com o chefe militar dos farrapos, David Canabarro, o que facilitou um acordo de paz entre a elite rio-grandense e o Império.

"É fundamental que haja um processo de oportunizar que a história do negro do Rio Grande do Sul possa ganhar escala nacional, uma evidência mais forte. Porque isso, inclusive, gera um processo inverso que os brancos xenofóbicos racistas gaúchos fazem com o Norte e Nordeste. Por exemplo, agora, com a enchente, tinha muita gente falando: 'ah, por que ajudar o Sul? O Sul só tem branco, o Sul não sei o quê'. E esquecem que existem negros, um monte de terreiro de matriz africana aqui no Sul".

"Agora, de fato, os negros não são a maioria da população no estado. Eles estão espalhados em regiões que não são, em grande parte, na área metropolitana, embora haja muitos negros na metropolitana. Esses negros estão na região sul do estado, que foi o caminho da migração durante a escravização, o porto de Rio Grande [litoral sul] como ponto de entrada. E eles ficaram mais por ali: Tapes, Camaquã, Aram Baré, Cangussu, Turuçu, Cristal, Pelotas, Rio Grande e Jaguarão. Em todas essas regiões, a população é negra, majoritariamente. Por outro lado, na região da Serra [Gaúcha], que são lugares majoritariamente mais brancos, por causa das colônias italiana e alemã, onde se assentaram e tiveram seus privilégios, não são tão habitadas por negros", explica o rapper.

Afroturismo

Rafuagi prevê a retomada da programação normal do Museu da Cultura Hip Hop já na próxima semana. Até e eclosão das enchentes, o espaço recebia um média de 1 mil visitantes por semana, a maioria estudantes do ensino básico. Com cerca de 4 mil metros quadrados, o espaço conta com a exibição de mais de 500 artefatos, painéis e arquivos digitais que contextualizam a história do hip hop no estado, no Brasil e no mundo. Além disso, na área externa, há quadra, um multipalco, sala de oficinas e uma horta que produz frutas e hortaliças doadas para comunidades.

A equipe do museu agora pretende dar andamento a um projeto que prevê a estruturação de um roteiro turístico de cultura negra em Porto Alegre, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur).

"Esse afroturismo busca conectar pontos de memória ou ação prática do movimento negro, em todo o Brasil, para que as pessoas quando vierem aqui não irem apenas a Gramado, um lugar branco e europeu. Virem no Museu do Hip Hop, irem no galpão cultural no Morro da Cruz, na casa do Hip Hop em Esteio, irem lá no pavilhão eco sustentável na Restinga, que é um bairro periférico daqui", propõe o MC gaúcho.

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