{"@context":"https://schema.org","@type":"NewsArticle","mainEntityOfPage":"/noticias/brasil/866482/caso-americanas-desafia-regulacao-no-mercado-financeiro","headline":"Caso Americanas desafia regulação no mercado financeiro","datePublished":"2024-07-06T15:51:12.67-03:00","dateModified":"2024-07-06T15:51:00.223-03:00","author":{"@type":"Person","name":"Laura Vasconcelos com informações da Agência Brasil","url":"/noticias/brasil/866482/caso-americanas-desafia-regulacao-no-mercado-financeiro"},"image":"/img/Artigo-Destaque/860000/americanas-1_00866482_0_.jpg?xid=2890659","publisher":{"@type":"Organization","name":"DOL","url":"/","logo":"/themes/DOL/img/logoDOL.png","Point":{"@type":"Point","Type":"Customer ","telephone":"+55-91-98412-6477","email":"[email protected]"},"address":{"@type":"PostalAddress","streetAddress":"Rua Gaspar Viana, 773/7","addressLocality":"Belém","addressRegion":"PA","postalCode":"66053-090","addressCountry":"BR"}},"description":"Explore os desafios e limitações da regulamentação do mercado financeiro no Brasil através do caso Americanas, com insights de especialistas e análise detalhada.","articleBody":"\\u0026lt;p\\u0026gt;Em 2023, as Lojas Americanas surpreenderam o mundo ao pedir recupera\\u0026#231;\\u0026#227;o judicial e acabaram virando at\\u0026#233; meme na internet por isso.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;As not\\u0026#237;cias dos \\u0026#250;ltimos dias envolvendo a Opera\\u0026#231;\\u0026#227;o Disclosure, da Pol\\u0026#237;cia Federal (PF), que mirou na antiga c\\u0026#250;pula do Grupo Americanas, trouxeram \\u0026#224; tona desafios e limites da regulamenta\\u0026#231;\\u0026#227;o do mercado financeiro no pa\\u0026#237;s. Especialistas ouvidos pela Ag\\u0026#234;ncia Brasil e o pr\\u0026#243;prio \\u0026#243;rg\\u0026#227;o regulador estatal reconhecem fatores que impedem o melhor acompanhamento de balan\\u0026#231;os cont\\u0026#225;beis e governan\\u0026#231;as de grandes companhias.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;CONTE\\u0026#218;DOS RELACIONADOS:\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/791461/o-que-pode-acontecer-com-os-trabalhadores-das-americanas?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot; data-rel-defined=\\u0026quot;true\\u0026quot;\\u0026gt;O que pode acontecer com os trabalhadores das Americanas?\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/colunistas/reporter-diario/794519/em-crise-unidades-da-americanas-em-belem-comecam-a-fechar?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot; data-rel-defined=\\u0026quot;true\\u0026quot;\\u0026gt;Em crise, unidades da Americanas em Bel\\u0026#233;m come\\u0026#231;am a fechar\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Entre os aspectos apontados pelos entrevistados, est\\u0026#227;o a necessidade de um equil\\u0026#237;brio entre regulamenta\\u0026#231;\\u0026#227;o estatal e do pr\\u0026#243;prio mercado; conflitos de interesses que minam a autorregula\\u0026#231;\\u0026#227;o; sofistica\\u0026#231;\\u0026#227;o de fraudes empresariais, com um “time” estruturado para manipular dados; e or\\u0026#231;amento inadequado e falta de pessoal no quadro de funcion\\u0026#225;rios do \\u0026#243;rg\\u0026#227;o regulador estatal.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Os investigados pela Disclosure, entre eles o ex-CEO (diretor executivo) Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Cristina Ramos Saicali s\\u0026#227;o suspeitos de envolvimento no esc\\u0026#226;ndalo fraudulento que levou a um rombo de mais de R$ 40 bilh\\u0026#245;es na companhia.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026#192; \\u0026#233;poca em que a fraude ganhou visibilidade, as a\\u0026#231;\\u0026#245;es da companhia, um dos principais nomes do varejo nacional, despencaram mais de 90%.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Saiba mais sobre o caso Americanas e a hist\\u0026#243;ria da empresa:\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;CVM\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A regulamenta\\u0026#231;\\u0026#227;o estatal \\u0026#233; exercida pela Comiss\\u0026#227;o de Valores Mobili\\u0026#225;rios (CVM). \\u0026#201; fun\\u0026#231;\\u0026#227;o da autarquia, ligada ao Minist\\u0026#233;rio da Fazenda, fiscalizar as atividades e os servi\\u0026#231;os do mercado de valores mobili\\u0026#225;rios, bem como a veicula\\u0026#231;\\u0026#227;o de informa\\u0026#231;\\u0026#245;es relativas ao mercado, \\u0026#224;s pessoas que dele participam e aos valores nele negociados, e impor penalidades aos infratores.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A Comiss\\u0026#227;o de Valores Mobili\\u0026#225;rios reconhece que o or\\u0026#231;amento da autarquia n\\u0026#227;o \\u0026#233; o ideal. Atualmente, a dota\\u0026#231;\\u0026#227;o or\\u0026#231;ament\\u0026#225;ria \\u0026#233; de R$ 330 milh\\u0026#245;es, sendo que R$ 300 milh\\u0026#245;es s\\u0026#227;o comprometidos com encargos fixos, como pagamento de funcion\\u0026#225;rios ativos e aposentados. Sobram R$ 30 milh\\u0026#245;es para despesas discricion\\u0026#225;rias, como investimentos.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“A CVM entende que o cen\\u0026#225;rio or\\u0026#231;ament\\u0026#225;rio ideal seria a autarquia poder utilizar os recursos oriundos da taxa de fiscaliza\\u0026#231;\\u0026#227;o cobrada aos regulados para o financiamento da entidade”, diz a autarquia em nota enviada \\u0026#224; Ag\\u0026#234;ncia Brasil.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Essa taxa gera uma arrecada\\u0026#231;\\u0026#227;o que ultraa R$ 1 bilh\\u0026#227;o por ano. Al\\u0026#233;m disso, multas e contrapartidas cobradas dos regulados rendem em torno de R$ 1 bilh\\u0026#227;o. No entanto, explica a autarquia, os recursos v\\u0026#227;o para a conta \\u0026#250;nica do Tesouro Nacional, ficando a CVM apenas com o or\\u0026#231;amento de R$ 330 milh\\u0026#245;es.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Al\\u0026#233;m da quest\\u0026#227;o or\\u0026#231;ament\\u0026#225;ria, a CVM reconhece que “a principal car\\u0026#234;ncia est\\u0026#225; relacionada \\u0026#224; insufici\\u0026#234;ncia do quadro de pessoal autorizado em lei”.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para tentar resolver a quest\\u0026#227;o, a comiss\\u0026#227;o informa que tem feito esfor\\u0026#231;os junto aos \\u0026#243;rg\\u0026#227;os centrais do Executivo “para que seja enviado ao Congresso Nacional o Anteprojeto de Lei de Fortalecimento da CVM, que inclui, entre outras iniciativas, o aumento do quadro de pessoal.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O \\u0026#243;rg\\u0026#227;o regulador enfatiza que reconhece o trabalho do governo federal em prol da autarquia no \\u0026#250;ltimo ano e meio, com a autoriza\\u0026#231;\\u0026#227;o de concurso p\\u0026#250;blico – que n\\u0026#227;o \\u0026#233; realizado desde 2014 – e amplia\\u0026#231;\\u0026#227;o do or\\u0026#231;amento discricion\\u0026#225;rio.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Quer mais not\\u0026#237;cias do Brasil?\\u0026lt;a href=\\u0026quot;https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9IlAw2v1J02cbfQ31H\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot; data-rel-defined=\\u0026quot;true\\u0026quot;\\u0026gt; e nosso canal no WhatsApp\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Estado e mercado\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O professor Lu\\u0026#237;s Andr\\u0026#233; Azevedo, da Escola de Direito da Funda\\u0026#231;\\u0026#227;o Getulio Vargas S\\u0026#227;o Paulo (FGV Direito/SP), explica que, al\\u0026#233;m da regula\\u0026#231;\\u0026#227;o realizada pela CVM, o mercado de capitais no pa\\u0026#237;s tem a contraparte das pr\\u0026#243;prias empresas, a chamada autorregula\\u0026#231;\\u0026#227;o.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Sobre a CVM, ele avalia que uma das principais frentes de atua\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#233; o combate \\u0026#224; pr\\u0026#225;tica de insider trading (uso de informa\\u0026#231;\\u0026#245;es privilegiadas para comprar ou vender a\\u0026#231;\\u0026#245;es a fim de obter ganhos), um dos crimes investigados no epis\\u0026#243;dio Americanas.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“O Brasil sempre teve uma regula\\u0026#231;\\u0026#227;o estatal muito boa, firme. A CVM esbarra em um problema de falta de or\\u0026#231;amento, de recursos, mas regula e fiscaliza muito bem o mercado”, considera.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Na autorregula\\u0026#231;\\u0026#227;o das corpora\\u0026#231;\\u0026#245;es, explica Azevedo, os controles s\\u0026#227;o realizados por departamentos espec\\u0026#237;ficos dentro das pr\\u0026#243;prias companhias. \\u0026quot;Autorregula\\u0026#231;\\u0026#227;o significa dizer que o Estado e a sociedade confiam que as empresas v\\u0026#227;o criar mecanismos internos para prevenir fraudes, por meio da chamada governan\\u0026#231;a corporativa\\u0026quot;, avalia.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;No caso das Americanas, ficou claro que esses controles internos eram insuficientes\\u0026quot;, adverte.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Fraude estruturada\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Gilberto Braga explica que, normalmente, fraudes cont\\u0026#225;beis s\\u0026#227;o descobertas durante procedimentos aleat\\u0026#243;rios e revis\\u0026#227;o de auditorias. “Normalmente t\\u0026#234;m um car\\u0026#225;ter mais limitado.”\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;No caso do Grupo Americanas, ele faz a ressalva de que havia um time estruturado para esconder as irregularidades. “Os instrumentos de controle, de uma forma geral, s\\u0026#227;o para processos e para pessoas, n\\u0026#227;o para uma quadrilha. Ent\\u0026#227;o, [a fraude] fica muito mais dif\\u0026#237;cil de ser identificada”, disse \\u0026#224; Ag\\u0026#234;ncia Brasil.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Braga lembra que as investiga\\u0026#231;\\u0026#245;es em curso indicam a exist\\u0026#234;ncia de um grupo de alto escal\\u0026#227;o, com pessoas de n\\u0026#237;vel gerencial participando da “maquiagem” dos n\\u0026#250;meros.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O economista considera que, apesar de sistemas de detec\\u0026#231;\\u0026#227;o de fraudes terem falhado, n\\u0026#227;o \\u0026#233; poss\\u0026#237;vel apontar de quem \\u0026#233; a culpa. “O sistema de governan\\u0026#231;a corporativa das Americanas era muito elogiado e, no papel, era perfeito.”\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Cada \\u0026#243;rg\\u0026#227;o, seja regulador, auditor, \\u0026#243;rg\\u0026#227;os internos de governan\\u0026#231;a da companhia, como os conselhos de istra\\u0026#231;\\u0026#227;o fiscal e de auditoria, atuavam dentro do que \\u0026#233; a regra legal da companhia. \\u0026#201; bastante prov\\u0026#225;vel que eles tenham sido enganados como os acionistas e o mercado.”\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Sobre todo o esc\\u0026#226;ndalo, a atual diretoria das Americanas tem dito que “foi v\\u0026#237;tima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Na opini\\u0026#227;o do professor, nunca se pode dizer que n\\u0026#227;o existem fraudes em grandes corpora\\u0026#231;\\u0026#245;es, mas ele considera o caso das Americanas “fora da curva”, e diz que nada sugere que possam ocorrer epis\\u0026#243;dios semelhantes. “N\\u0026#227;o \\u0026#233; prov\\u0026#225;vel.”\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Apesar de n\\u0026#227;o ser algo comum, Braga destaca que o evento que mexeu com o mercado financeiro brasileiro no come\\u0026#231;o de 2023 deve ser estudado para que sirva de aprendizado e aprimoramento das pr\\u0026#225;ticas empresariais.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Conflito de interesses\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O economista lembra que o grupo controlador das Americanas era reconhecido por ser extremamente ousado e ofensivo em rela\\u0026#231;\\u0026#227;o ao atingimento de metas, cobran\\u0026#231;a de resultados e recompensa para funcion\\u0026#225;rios. “\\u0026#201; necess\\u0026#225;rio que estruturas de governan\\u0026#231;a sejam muito mais r\\u0026#237;gidas em empresas com esse perfil”, avalia.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Braga lembra que, durante anos, os executivos foram recompensados com b\\u0026#244;nus financeiros em a\\u0026#231;\\u0026#245;es da pr\\u0026#243;pria companhia, cultura que servia de incentivo para as pr\\u0026#225;ticas irregulares. “Era uma corrida pela performance e pelas recompensas”, define.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ao apontar quest\\u0026#245;es pertinentes \\u0026#224; autorregula\\u0026#231;\\u0026#227;o exercida pelas companhias, Lu\\u0026#237;s Andr\\u0026#233; Azevedo, da FGV Direito SP, joga luz na quest\\u0026#227;o dos conflitos de interesses, que podem causar problemas graves.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“A empresa vai ter incentivos para criar regras que impe\\u0026#231;am comportamentos nocivos ou vai ter incentivos para, pelo contr\\u0026#225;rio, permitir comportamentos nocivos que tragam ganhos extremos em curto prazo”, questiona.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Na vis\\u0026#227;o de Gilberto Braga, os executivos das Americanas seguiam com a fraude e mantinham a expectativa de revers\\u0026#227;o nos neg\\u0026#243;cios. “Eles foram cada vez mais aumentando a aposta e a fraude, e n\\u0026#227;o conseguiram reverter ao longo dos anos”. O professor compara a situa\\u0026#231;\\u0026#227;o com a da pessoa que, seguidamente, contrai empr\\u0026#233;stimos para pagar d\\u0026#237;vidas anteriores. “Chega um momento em que n\\u0026#227;o tem mais condi\\u0026#231;\\u0026#245;es de reverter a situa\\u0026#231;\\u0026#227;o.”\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ele assinala que os controladores do Grupo Americanas tinham a op\\u0026#231;\\u0026#227;o de renovar o mandato dos executivos respons\\u0026#225;veis pelas fraudes, mas que n\\u0026#227;o chegavam a esse ponto, porque, encobrindo n\\u0026#250;meros reais, era poss\\u0026#237;vel entregar resultados positivos. “Isso gerava uma aprova\\u0026#231;\\u0026#227;o generalizada de acionistas e controladores”. Segundo Braga, era uma diretoria que tinha boa reputa\\u0026#231;\\u0026#227;o perante o mercado.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“A maioria quase absoluta das empresas mant\\u0026#233;m executivos que t\\u0026#234;m bom desempenho. Em tese, n\\u0026#227;o haveria nenhum ind\\u0026#237;cio para sugerir a troca da diretoria.”\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Auditorias\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A autorregula\\u0026#231;\\u0026#227;o do mercado conta tamb\\u0026#233;m com auditorias independentes. A PricewaterhouseCoopers (PwC) e a KPMG, duas empresas que fizeram a auditoria de contas das Americanas entre 2017 e 2022, negam ter cometido falhas.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Em depoimento na Comiss\\u0026#227;o Parlamentar de Inqu\\u0026#233;rito (I) das Americanas na C\\u0026#226;mara dos Deputados, em agosto de 2023, o s\\u0026#243;cio da PwC F\\u0026#225;bio Cajazeira Mendes classificou as fraudes como “de dif\\u0026#237;cil detec\\u0026#231;\\u0026#227;o”.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Em se confirmando a falsifica\\u0026#231;\\u0026#227;o de documentos, a omiss\\u0026#227;o deliberada no registro de opera\\u0026#231;\\u0026#245;es, a presta\\u0026#231;\\u0026#227;o intencional de falsas representa\\u0026#231;\\u0026#245;es aos auditores e o conluio de pessoas de diversas \\u0026#225;reas da companhia, estar\\u0026#225; caracterizada uma fraude de gest\\u0026#227;o de dif\\u0026#237;cil detec\\u0026#231;\\u0026#227;o, baseada em m\\u0026#225; conduta flagrante e intencional por parte da istra\\u0026#231;\\u0026#227;o, incluindo [as \\u0026#225;reas] comercial, financeira, tesouraria e cont\\u0026#225;bil, com participa\\u0026#231;\\u0026#227;o de, pelo menos, sete diretores executivos e dezenas de pessoas”, declarou aos deputados.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A s\\u0026#243;cia da KPMG, Carla Bellangero, contou que chegou a emitir cartas extraordin\\u0026#225;rias de controle externo em 2019, mas o contrato com a Americanas foi encerrado meses depois. “Os riscos estavam divulgados e eram de conhecimento da diretoria, do Conselho Fiscal, do Comit\\u0026#234; de Auditoria e da maioria do Conselho de istra\\u0026#231;\\u0026#227;o. As auditorias nada t\\u0026#234;m a ganhar com as fraudes, ao contr\\u0026#225;rio, s\\u0026#227;o v\\u0026#237;timas dessa situa\\u0026#231;\\u0026#227;o”, disse.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Movimento pendular\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Lu\\u0026#237;s Andr\\u0026#233; Azevedo explicou que o Brasil e o mundo vivenciam movimentos pendulares, ora mais regulamenta\\u0026#231;\\u0026#227;o do estado, ora menos. Ele acredita que a eclos\\u0026#227;o do caso Americanas pode ser um “divisor de \\u0026#225;guas” que fortalecer\\u0026#225; a regulamenta\\u0026#231;\\u0026#227;o estatal.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Como exemplo, ele lembra a profunda crise do subprime (cr\\u0026#233;dito imobili\\u0026#225;rio duvidoso) iniciada nos Estados Unidos em 2007 e 2008, que se espalhou pelo mundo. \\u0026#192; \\u0026#233;poca, havia pouca interven\\u0026#231;\\u0026#227;o regulat\\u0026#243;ria do governo americano, explica o professor. “Depois veio uma reforma que recrudesceu a regula\\u0026#231;\\u0026#227;o”, acrescenta.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;No Brasil, com o epis\\u0026#243;dio Americanas, Azevedo enxerga “uma crise de governan\\u0026#231;a”. “Olhando para a frente, a gente pode esperar um movimento de aumento de normas, aumento da fiscaliza\\u0026#231;\\u0026#227;o do Estado, um pouco mais desse poder de pol\\u0026#237;cia regulat\\u0026#243;ria”, emenda o especialista.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Equil\\u0026#237;brio da regula\\u0026#231;\\u0026#227;o\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Na vis\\u0026#227;o de Azevedo, apesar do esc\\u0026#226;ndalo recente da rede varejista, desde a d\\u0026#233;cada de 90, o Brasil atravessa um per\\u0026#237;odo de crescente regula\\u0026#231;\\u0026#227;o estatal e, agora, pode estar se aproximando de um “incremento” desses mecanismos.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O professor defende que a ideia de que o mercado regula por si s\\u0026#243; \\u0026#233; uma fal\\u0026#225;cia, pois existem as chamadas “falhas de mercado”. H\\u0026#225; necessidade de participa\\u0026#231;\\u0026#227;o do Estado. No entanto, Azevedo afirma que as pol\\u0026#237;ticas regulat\\u0026#243;rias precisam ser feitas de forma que n\\u0026#227;o sejam um custo adicional \\u0026#224; atividade empresarial.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“A gente tem que ter cuidado para n\\u0026#227;o jogar fora a \\u0026#225;gua suja com o beb\\u0026#234; dentro. A estrat\\u0026#233;gia regulat\\u0026#243;ria tem que ser um pouco mais desenvolvimentista, no sentido de permitir inova\\u0026#231;\\u0026#227;o, desenvolvimento e crescimento, sem criar um \\u0026#244;nus exacerbado para as companhias. Uma regula\\u0026#231;\\u0026#227;o cuidadosa”, descreve.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para Azevedo, a busca de um “n\\u0026#237;vel \\u0026#243;timo” de regulamenta\\u0026#231;\\u0026#227;o vai permitir o desenvolvimento do mercado de capitais do pa\\u0026#237;s, que considera “muito pequeno para o tamanho do pa\\u0026#237;s. Deveria ser algo muito mais desenvolvido, e muita regula\\u0026#231;\\u0026#227;o pode sufocar esse crescimento”.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O mercado de capitais brasileiro \\u0026#233; ado n\\u0026#227;o s\\u0026#243; por grandes institui\\u0026#231;\\u0026#245;es, como bancos, mas tamb\\u0026#233;m por pequenos investidores individuais. Muitas vezes associado como uma seara meramente especulativa, o mercado de capitais, ou seja, negocia\\u0026#231;\\u0026#227;o de ativos financeiros, como a\\u0026#231;\\u0026#245;es de empresas, \\u0026#233; uma fonte de capital para empresas, que podem utilizar os recursos para investimentos, favorecendo a cria\\u0026#231;\\u0026#227;o de emprego e renda.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;CVM\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O professor Azevedo chama ainda a aten\\u0026#231;\\u0026#227;o para uma das limita\\u0026#231;\\u0026#245;es do radar da CVM: a comiss\\u0026#227;o depende de informa\\u0026#231;\\u0026#245;es prestadas pelas empresas para poder realizar a fiscaliza\\u0026#231;\\u0026#227;o e tomar decis\\u0026#245;es. N\\u0026#227;o \\u0026#233; que a CVM n\\u0026#227;o imponha regras de transpar\\u0026#234;ncia, que existem, embora a gente sempre v\\u0026#225; depender da informa\\u0026#231;\\u0026#227;o oriunda do n\\u0026#250;cleo duro da companhia.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Esse m\\u0026#233;todo de atua\\u0026#231;\\u0026#227;o integra o princ\\u0026#237;pio do full and fair disclosure (divulga\\u0026#231;\\u0026#227;o completa e justa, na tradu\\u0026#231;\\u0026#227;o livre). Segundo a CVM, a atua\\u0026#231;\\u0026#227;o com base no regime informacional \\u0026#233; assim no Brasil e nos principais pa\\u0026#237;ses.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A comiss\\u0026#227;o detalha que o trabalho de supervis\\u0026#227;o e fiscaliza\\u0026#231;\\u0026#227;o tem base em dois pilares: “espont\\u0026#226;neo, por meio do Plano de Supervis\\u0026#227;o Baseada em Risco (SBR), elaborado pelas \\u0026#225;reas t\\u0026#233;cnicas; e por demanda, no qual h\\u0026#225; a fundamental participa\\u0026#231;\\u0026#227;o do investidor, denunciando potenciais ind\\u0026#237;cios de irregularidades por ele observadas”. Ou seja, mesmo que n\\u0026#227;o seja provocada por terceiros, a CVM pode iniciar investiga\\u0026#231;\\u0026#245;es.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Sobre o caso Americanas, a autarquia diz que “n\\u0026#227;o comenta casos espec\\u0026#237;ficos”. No entanto, no site da comiss\\u0026#227;o est\\u0026#227;o relacionados mais de 20 processos istrativos que foram abertos para apurar irregularidades.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A p\\u0026#225;gina registra que “caso venham a ser formalmente caracterizadas infra\\u0026#231;\\u0026#245;es, cada um dos eventuais respons\\u0026#225;veis ser\\u0026#225; devidamente responsabilizado com a aplica\\u0026#231;\\u0026#227;o e o rigor da lei”.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Alerta para investidores\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Entre os servi\\u0026#231;os realizados pela CVM est\\u0026#225; o alerta aos investidores sobre a sa\\u0026#250;de financeira e transpar\\u0026#234;ncia das companhias. Na \\u0026#250;ltima quarta-feira (3), a comiss\\u0026#227;o divulgou que o Grupo Americanas est\\u0026#225; considerado inadimplente junto ao \\u0026#243;rg\\u0026#227;o, porque deixou de enviar, h\\u0026#225; mais de tr\\u0026#234;s meses, pelo menos um desses formul\\u0026#225;rios: de Demonstra\\u0026#231;\\u0026#245;es Financeiras Padronizadas (DFP), de Informa\\u0026#231;\\u0026#245;es Trimestrais (ITR) ou de Refer\\u0026#234;ncia (FRE).\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“No documento, a Superintend\\u0026#234;ncia de Rela\\u0026#231;\\u0026#245;es com Empresas (SEP) alerta os investidores e o p\\u0026#250;blico em geral sobre a import\\u0026#226;ncia de considerar essas informa\\u0026#231;\\u0026#245;es em suas rela\\u0026#231;\\u0026#245;es com as companhias citadas ou em suas decis\\u0026#245;es de investimento”, diz o comunicado.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A Ag\\u0026#234;ncia Brasil pediu coment\\u0026#225;rios ao Grupo Americanas sobre a inclus\\u0026#227;o na lista de inadimplentes, mas n\\u0026#227;o recebeu retorno at\\u0026#233; a conclus\\u0026#227;o desta reportagem.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Novo Mercado\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Outra iniciativa de autorregula\\u0026#231;\\u0026#227;o do mercado de capitais \\u0026#233; o selo Novo Mercado da B3, empresa que opera a bolsa de valores de S\\u0026#227;o Paulo. Lan\\u0026#231;ada em 2000, a listagem re\\u0026#250;ne companhias que t\\u0026#234;m, na defini\\u0026#231;\\u0026#227;o da B3, “padr\\u0026#227;o de governan\\u0026#231;a corporativa altamente diferenciado”.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Em teoria, a Novo Mercado identifica as companhias mais transparentes e com melhores governan\\u0026#231;as entre as cerca de 450 listadas na B3, o que a a ser um atrativo na hora em que investidores escolhem empresas para investir.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O Grupo Americanas era listado no Novo Mercado at\\u0026#233; 8 de novembro de 2023, quando foi suspenso pela B3. Al\\u0026#233;m da retirada, 22 integrantes da diretoria, do conselho de istra\\u0026#231;\\u0026#227;o e do comit\\u0026#234; de auditoria do grupo foram multados.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Entre as determina\\u0026#231;\\u0026#245;es do Novo Mercado n\\u0026#227;o cumpridas, est\\u0026#227;o a falta de efetiva observ\\u0026#226;ncia da pol\\u0026#237;tica de gerenciamento de riscos. A exclus\\u0026#227;o foi realizada ap\\u0026#243;s o pedido de recupera\\u0026#231;\\u0026#227;o judicial da companhia e n\\u0026#227;o impossibilita a compra e venda de a\\u0026#231;\\u0026#245;es.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O que se espera do mercado de capitais, diz Azevedo, \\u0026#233; que as companhias tenham incentivos para que se interessem em divulgar informa\\u0026#231;\\u0026#245;es adequadas, porque seriam recompensadas, ou seja, teriam o reconhecimento de empresas transparentes. \\u0026quot;Mas o que vemos \\u0026#233; que as companhias acabam ocultando informa\\u0026#231;\\u0026#245;es. Ent\\u0026#227;o, voltamos \\u0026#224;quele problema: como \\u0026#233; que o regulador vai agir se ele n\\u0026#227;o tem a informa\\u0026#231;\\u0026#227;o?.\\u0026quot;\\u0026lt;/p\\u0026gt;","keywords":"regulação mercado financeiro,caso Americanas,fraudes corporativas,governança corporativa,CVM regulamentação"}
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Caso Americanas desafia regulação no mercado financeiro

A regulação do mercado financeiro no Brasil está no centro do debate entre especialistas de economia devido ao caso das Lojas Americanas.

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Imagem ilustrativa da notícia Caso Americanas desafia regulação no mercado financeiro camera As lojas americanas estão no centro de uma operação da Polícia Federal. | (Antônio Cruz/ Agência Brasil)

Em 2023, as Lojas Americanas surpreenderam o mundo ao pedir recuperação judicial e acabaram virando até meme na internet por isso.

As notícias dos últimos dias envolvendo a Operação Disclosure, da Polícia Federal (PF), que mirou na antiga cúpula do Grupo Americanas, trouxeram à tona desafios e limites da regulamentação do mercado financeiro no país. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil e o próprio órgão regulador estatal reconhecem fatores que impedem o melhor acompanhamento de balanços contábeis e governanças de grandes companhias.

CONTEÚDOS RELACIONADOS:

Entre os aspectos apontados pelos entrevistados, estão a necessidade de um equilíbrio entre regulamentação estatal e do próprio mercado; conflitos de interesses que minam a autorregulação; sofisticação de fraudes empresariais, com um “time” estruturado para manipular dados; e orçamento inadequado e falta de pessoal no quadro de funcionários do órgão regulador estatal.

Os investigados pela Disclosure, entre eles o ex-CEO (diretor executivo) Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Cristina Ramos Saicali são suspeitos de envolvimento no escândalo fraudulento que levou a um rombo de mais de R$ 40 bilhões na companhia.

À época em que a fraude ganhou visibilidade, as ações da companhia, um dos principais nomes do varejo nacional, despencaram mais de 90%.

Saiba mais sobre o caso Americanas e a história da empresa:

CVM

A regulamentação estatal é exercida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). É função da autarquia, ligada ao Ministério da Fazenda, fiscalizar as atividades e os serviços do mercado de valores mobiliários, bem como a veiculação de informações relativas ao mercado, às pessoas que dele participam e aos valores nele negociados, e impor penalidades aos infratores.

A Comissão de Valores Mobiliários reconhece que o orçamento da autarquia não é o ideal. Atualmente, a dotação orçamentária é de R$ 330 milhões, sendo que R$ 300 milhões são comprometidos com encargos fixos, como pagamento de funcionários ativos e aposentados. Sobram R$ 30 milhões para despesas discricionárias, como investimentos.

“A CVM entende que o cenário orçamentário ideal seria a autarquia poder utilizar os recursos oriundos da taxa de fiscalização cobrada aos regulados para o financiamento da entidade”, diz a autarquia em nota enviada à Agência Brasil.

Essa taxa gera uma arrecadação que ultraa R$ 1 bilhão por ano. Além disso, multas e contrapartidas cobradas dos regulados rendem em torno de R$ 1 bilhão. No entanto, explica a autarquia, os recursos vão para a conta única do Tesouro Nacional, ficando a CVM apenas com o orçamento de R$ 330 milhões.

Além da questão orçamentária, a CVM reconhece que “a principal carência está relacionada à insuficiência do quadro de pessoal autorizado em lei”.

Para tentar resolver a questão, a comissão informa que tem feito esforços junto aos órgãos centrais do Executivo “para que seja enviado ao Congresso Nacional o Anteprojeto de Lei de Fortalecimento da CVM, que inclui, entre outras iniciativas, o aumento do quadro de pessoal.

O órgão regulador enfatiza que reconhece o trabalho do governo federal em prol da autarquia no último ano e meio, com a autorização de concurso público – que não é realizado desde 2014 – e ampliação do orçamento discricionário.

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Estado e mercado

O professor Luís André Azevedo, da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas São Paulo (FGV Direito/SP), explica que, além da regulação realizada pela CVM, o mercado de capitais no país tem a contraparte das próprias empresas, a chamada autorregulação.

Sobre a CVM, ele avalia que uma das principais frentes de atuação é o combate à prática de insider trading (uso de informações privilegiadas para comprar ou vender ações a fim de obter ganhos), um dos crimes investigados no episódio Americanas.

“O Brasil sempre teve uma regulação estatal muito boa, firme. A CVM esbarra em um problema de falta de orçamento, de recursos, mas regula e fiscaliza muito bem o mercado”, considera.

Na autorregulação das corporações, explica Azevedo, os controles são realizados por departamentos específicos dentro das próprias companhias. "Autorregulação significa dizer que o Estado e a sociedade confiam que as empresas vão criar mecanismos internos para prevenir fraudes, por meio da chamada governança corporativa", avalia.

"No caso das Americanas, ficou claro que esses controles internos eram insuficientes", adverte.

Fraude estruturada

O professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Gilberto Braga explica que, normalmente, fraudes contábeis são descobertas durante procedimentos aleatórios e revisão de auditorias. “Normalmente têm um caráter mais limitado.”

No caso do Grupo Americanas, ele faz a ressalva de que havia um time estruturado para esconder as irregularidades. “Os instrumentos de controle, de uma forma geral, são para processos e para pessoas, não para uma quadrilha. Então, [a fraude] fica muito mais difícil de ser identificada”, disse à Agência Brasil.

Braga lembra que as investigações em curso indicam a existência de um grupo de alto escalão, com pessoas de nível gerencial participando da “maquiagem” dos números.

O economista considera que, apesar de sistemas de detecção de fraudes terem falhado, não é possível apontar de quem é a culpa. “O sistema de governança corporativa das Americanas era muito elogiado e, no papel, era perfeito.”

“Cada órgão, seja regulador, auditor, órgãos internos de governança da companhia, como os conselhos de istração fiscal e de auditoria, atuavam dentro do que é a regra legal da companhia. É bastante provável que eles tenham sido enganados como os acionistas e o mercado.”

Sobre todo o escândalo, a atual diretoria das Americanas tem dito que “foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”.

Na opinião do professor, nunca se pode dizer que não existem fraudes em grandes corporações, mas ele considera o caso das Americanas “fora da curva”, e diz que nada sugere que possam ocorrer episódios semelhantes. “Não é provável.”

Apesar de não ser algo comum, Braga destaca que o evento que mexeu com o mercado financeiro brasileiro no começo de 2023 deve ser estudado para que sirva de aprendizado e aprimoramento das práticas empresariais.

Conflito de interesses

O economista lembra que o grupo controlador das Americanas era reconhecido por ser extremamente ousado e ofensivo em relação ao atingimento de metas, cobrança de resultados e recompensa para funcionários. “É necessário que estruturas de governança sejam muito mais rígidas em empresas com esse perfil”, avalia.

Braga lembra que, durante anos, os executivos foram recompensados com bônus financeiros em ações da própria companhia, cultura que servia de incentivo para as práticas irregulares. “Era uma corrida pela performance e pelas recompensas”, define.

Ao apontar questões pertinentes à autorregulação exercida pelas companhias, Luís André Azevedo, da FGV Direito SP, joga luz na questão dos conflitos de interesses, que podem causar problemas graves.

“A empresa vai ter incentivos para criar regras que impeçam comportamentos nocivos ou vai ter incentivos para, pelo contrário, permitir comportamentos nocivos que tragam ganhos extremos em curto prazo”, questiona.

Na visão de Gilberto Braga, os executivos das Americanas seguiam com a fraude e mantinham a expectativa de reversão nos negócios. “Eles foram cada vez mais aumentando a aposta e a fraude, e não conseguiram reverter ao longo dos anos”. O professor compara a situação com a da pessoa que, seguidamente, contrai empréstimos para pagar dívidas anteriores. “Chega um momento em que não tem mais condições de reverter a situação.”

Ele assinala que os controladores do Grupo Americanas tinham a opção de renovar o mandato dos executivos responsáveis pelas fraudes, mas que não chegavam a esse ponto, porque, encobrindo números reais, era possível entregar resultados positivos. “Isso gerava uma aprovação generalizada de acionistas e controladores”. Segundo Braga, era uma diretoria que tinha boa reputação perante o mercado.

“A maioria quase absoluta das empresas mantém executivos que têm bom desempenho. Em tese, não haveria nenhum indício para sugerir a troca da diretoria.”

Auditorias

A autorregulação do mercado conta também com auditorias independentes. A PricewaterhouseCoopers (PwC) e a KPMG, duas empresas que fizeram a auditoria de contas das Americanas entre 2017 e 2022, negam ter cometido falhas.

Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (I) das Americanas na Câmara dos Deputados, em agosto de 2023, o sócio da PwC Fábio Cajazeira Mendes classificou as fraudes como “de difícil detecção”.

“Em se confirmando a falsificação de documentos, a omissão deliberada no registro de operações, a prestação intencional de falsas representações aos auditores e o conluio de pessoas de diversas áreas da companhia, estará caracterizada uma fraude de gestão de difícil detecção, baseada em má conduta flagrante e intencional por parte da istração, incluindo [as áreas] comercial, financeira, tesouraria e contábil, com participação de, pelo menos, sete diretores executivos e dezenas de pessoas”, declarou aos deputados.

A sócia da KPMG, Carla Bellangero, contou que chegou a emitir cartas extraordinárias de controle externo em 2019, mas o contrato com a Americanas foi encerrado meses depois. “Os riscos estavam divulgados e eram de conhecimento da diretoria, do Conselho Fiscal, do Comitê de Auditoria e da maioria do Conselho de istração. As auditorias nada têm a ganhar com as fraudes, ao contrário, são vítimas dessa situação”, disse.

Movimento pendular

Luís André Azevedo explicou que o Brasil e o mundo vivenciam movimentos pendulares, ora mais regulamentação do estado, ora menos. Ele acredita que a eclosão do caso Americanas pode ser um “divisor de águas” que fortalecerá a regulamentação estatal.

Como exemplo, ele lembra a profunda crise do subprime (crédito imobiliário duvidoso) iniciada nos Estados Unidos em 2007 e 2008, que se espalhou pelo mundo. À época, havia pouca intervenção regulatória do governo americano, explica o professor. “Depois veio uma reforma que recrudesceu a regulação”, acrescenta.

No Brasil, com o episódio Americanas, Azevedo enxerga “uma crise de governança”. “Olhando para a frente, a gente pode esperar um movimento de aumento de normas, aumento da fiscalização do Estado, um pouco mais desse poder de polícia regulatória”, emenda o especialista.

Equilíbrio da regulação

Na visão de Azevedo, apesar do escândalo recente da rede varejista, desde a década de 90, o Brasil atravessa um período de crescente regulação estatal e, agora, pode estar se aproximando de um “incremento” desses mecanismos.

O professor defende que a ideia de que o mercado regula por si só é uma falácia, pois existem as chamadas “falhas de mercado”. Há necessidade de participação do Estado. No entanto, Azevedo afirma que as políticas regulatórias precisam ser feitas de forma que não sejam um custo adicional à atividade empresarial.

“A gente tem que ter cuidado para não jogar fora a água suja com o bebê dentro. A estratégia regulatória tem que ser um pouco mais desenvolvimentista, no sentido de permitir inovação, desenvolvimento e crescimento, sem criar um ônus exacerbado para as companhias. Uma regulação cuidadosa”, descreve.

Para Azevedo, a busca de um “nível ótimo” de regulamentação vai permitir o desenvolvimento do mercado de capitais do país, que considera “muito pequeno para o tamanho do país. Deveria ser algo muito mais desenvolvido, e muita regulação pode sufocar esse crescimento”.

O mercado de capitais brasileiro é ado não só por grandes instituições, como bancos, mas também por pequenos investidores individuais. Muitas vezes associado como uma seara meramente especulativa, o mercado de capitais, ou seja, negociação de ativos financeiros, como ações de empresas, é uma fonte de capital para empresas, que podem utilizar os recursos para investimentos, favorecendo a criação de emprego e renda.

CVM

O professor Azevedo chama ainda a atenção para uma das limitações do radar da CVM: a comissão depende de informações prestadas pelas empresas para poder realizar a fiscalização e tomar decisões. Não é que a CVM não imponha regras de transparência, que existem, embora a gente sempre vá depender da informação oriunda do núcleo duro da companhia.

Esse método de atuação integra o princípio do full and fair disclosure (divulgação completa e justa, na tradução livre). Segundo a CVM, a atuação com base no regime informacional é assim no Brasil e nos principais países.

A comissão detalha que o trabalho de supervisão e fiscalização tem base em dois pilares: “espontâneo, por meio do Plano de Supervisão Baseada em Risco (SBR), elaborado pelas áreas técnicas; e por demanda, no qual há a fundamental participação do investidor, denunciando potenciais indícios de irregularidades por ele observadas”. Ou seja, mesmo que não seja provocada por terceiros, a CVM pode iniciar investigações.

Sobre o caso Americanas, a autarquia diz que “não comenta casos específicos”. No entanto, no site da comissão estão relacionados mais de 20 processos istrativos que foram abertos para apurar irregularidades.

A página registra que “caso venham a ser formalmente caracterizadas infrações, cada um dos eventuais responsáveis será devidamente responsabilizado com a aplicação e o rigor da lei”.

Alerta para investidores

Entre os serviços realizados pela CVM está o alerta aos investidores sobre a saúde financeira e transparência das companhias. Na última quarta-feira (3), a comissão divulgou que o Grupo Americanas está considerado inadimplente junto ao órgão, porque deixou de enviar, há mais de três meses, pelo menos um desses formulários: de Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP), de Informações Trimestrais (ITR) ou de Referência (FRE).

“No documento, a Superintendência de Relações com Empresas (SEP) alerta os investidores e o público em geral sobre a importância de considerar essas informações em suas relações com as companhias citadas ou em suas decisões de investimento”, diz o comunicado.

A Agência Brasil pediu comentários ao Grupo Americanas sobre a inclusão na lista de inadimplentes, mas não recebeu retorno até a conclusão desta reportagem.

Novo Mercado

Outra iniciativa de autorregulação do mercado de capitais é o selo Novo Mercado da B3, empresa que opera a bolsa de valores de São Paulo. Lançada em 2000, a listagem reúne companhias que têm, na definição da B3, “padrão de governança corporativa altamente diferenciado”.

Em teoria, a Novo Mercado identifica as companhias mais transparentes e com melhores governanças entre as cerca de 450 listadas na B3, o que a a ser um atrativo na hora em que investidores escolhem empresas para investir.

O Grupo Americanas era listado no Novo Mercado até 8 de novembro de 2023, quando foi suspenso pela B3. Além da retirada, 22 integrantes da diretoria, do conselho de istração e do comitê de auditoria do grupo foram multados.

Entre as determinações do Novo Mercado não cumpridas, estão a falta de efetiva observância da política de gerenciamento de riscos. A exclusão foi realizada após o pedido de recuperação judicial da companhia e não impossibilita a compra e venda de ações.

O que se espera do mercado de capitais, diz Azevedo, é que as companhias tenham incentivos para que se interessem em divulgar informações adequadas, porque seriam recompensadas, ou seja, teriam o reconhecimento de empresas transparentes. "Mas o que vemos é que as companhias acabam ocultando informações. Então, voltamos àquele problema: como é que o regulador vai agir se ele não tem a informação?."

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