{"@context":"https://schema.org","@type":"NewsArticle","mainEntityOfPage":"/noticias/brasil/875337/relatorio-indica-conflitos-ligados-a-transicao-energetica","headline":"Relatório indica conflitos ligados à transição energética","datePublished":"2024-09-14T21:52:20.58-03:00","dateModified":"2024-09-14T21:52:07.22-03:00","author":{"@type":"Person","name":"Rafael Miyake","url":"/noticias/brasil/875337/relatorio-indica-conflitos-ligados-a-transicao-energetica"},"image":"/img/Artigo-Destaque/870000/mineracao-brasil-conflitops_00875337_0_.png?xid=2927906","publisher":{"@type":"Organization","name":"DOL","url":"/","logo":"/themes/DOL/img/logoDOL.png","Point":{"@type":"Point","Type":"Customer ","telephone":"+55-91-98412-6477","email":"[email protected]"},"address":{"@type":"PostalAddress","streetAddress":"Rua Gaspar Viana, 773/7","addressLocality":"Belém","addressRegion":"PA","postalCode":"66053-090","addressCountry":"BR"}},"description":"Estudo revela conflitos e violações de direitos na mineração para transição energética no Brasil, com foco na Amazônia e no Pará.","articleBody":"\\u0026lt;p\\u0026gt;Com a transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica para novas fontes renov\\u0026#225;veis, a necessidade de certos minerais para projetos aumentou, e com isso, tamb\\u0026#233;m aumentaram os conflitos em frentes explorat\\u0026#243;rias.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Um estudo sobre o tema identificou viola\\u0026#231;\\u0026#245;es de direitos de pequenos propriet\\u0026#225;rios rurais, trabalhadores e comunidades tradicionais, em especial na Amaz\\u0026#244;nia Legal e no Par\\u0026#225; que, sozinho, concentra mais de 40% das ocorr\\u0026#234;ncias.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O estudo \\u0026#233; do Grupo de Pesquisa e Extens\\u0026#227;o Pol\\u0026#237;tica, Economia, Minera\\u0026#231;\\u0026#227;o, Ambiente e Sociedade (Poemas), ao qual s\\u0026#227;o vinculados pesquisadores de diferentes institui\\u0026#231;\\u0026#245;es cient\\u0026#237;ficas, como as universidades federais de Juiz de Fora (UFJF), Fluminense (UFF) e de Vi\\u0026#231;osa (UFV).\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h2\\u0026gt;Conte\\u0026#250;do relacionado\\u0026lt;/h2\\u0026gt;\\u0026lt;ul\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/875319/brasil-concentra-719-das-queimadas-na-america-do-sul?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot; data-rel-defined=\\u0026quot;true\\u0026quot;\\u0026gt;Brasil concentra 71,9% das queimadas na Am\\u0026#233;rica do Sul\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/875183/indigenas-sao-baleados-em-confronto-com-a-pm-no-ms?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot; data-rel-defined=\\u0026quot;true\\u0026quot;\\u0026gt; Ind\\u0026#237;genas s\\u0026#227;o baleados em confronto com a PM no MS\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;li\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;/noticias/brasil/875146/mudancas-climaticas-agravam-inseguranca-alimentar?d=1\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot; data-rel-defined=\\u0026quot;true\\u0026quot;\\u0026gt;Mudan\\u0026#231;as clim\\u0026#225;ticas agravam inseguran\\u0026#231;a alimentar\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/li\\u0026gt;\\u0026lt;/ul\\u0026gt;\\u0026lt;h3\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Os casos mapeados se deram entre 2020 e 2023\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/h3\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;O que o estudo vem que mostrar \\u0026#233; que n\\u0026#227;o podemos tratar a minera\\u0026#231;\\u0026#227;o dos minerais cr\\u0026#237;ticos sem considerar os danos. E \\u0026#233; algo que j\\u0026#225; est\\u0026#225; ocorrendo\\u0026quot;, disse, em entrevista \\u0026#224; Ag\\u0026#234;ncia Brasil, o ge\\u0026#243;grafo e professor da UFF, Luiz Jardim Wanderley, um dos signat\\u0026#225;rios do estudo.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Os resultados est\\u0026#227;o no relat\\u0026#243;rio Transi\\u0026#231;\\u0026#227;o Desigual: as viola\\u0026#231;\\u0026#245;es da extra\\u0026#231;\\u0026#227;o dos minerais para a transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica no Brasil. O documento foi publicado em julho pelo Conselho do Observat\\u0026#243;rio dos Conflitos da Minera\\u0026#231;\\u0026#227;o no Brasil e pelo Comit\\u0026#234; Nacional em Defesa dos Territ\\u0026#243;rios Frente \\u0026#224; Minera\\u0026#231;\\u0026#227;o, os quais s\\u0026#227;o compostos por diferentes organiza\\u0026#231;\\u0026#245;es, entre elas o Poemas.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Os minerais cr\\u0026#237;ticos ou minerais de transi\\u0026#231;\\u0026#227;o s\\u0026#227;o aqueles cuja disponibilidade atual \\u0026#233; limitada e a explora\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#233; considerada necess\\u0026#225;ria para assegurar a transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica, j\\u0026#225; que s\\u0026#227;o essenciais para a fabrica\\u0026#231;\\u0026#227;o de pe\\u0026#231;as e equipamentos associados \\u0026#224; ideia de energia verde.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Por exemplo, h\\u0026#225; demanda por cobre nas usinas e\\u0026#243;licas, por sil\\u0026#237;cio para os pain\\u0026#233;is fotovoltaicos, por n\\u0026#237;quel e l\\u0026#237;tio para as baterias, por bauxita e alumina para os cabos de transmiss\\u0026#227;o.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;De acordo com dados reunidos no estudo, a explora\\u0026#231;\\u0026#227;o mineral no pa\\u0026#237;s cresceu de R$ 243 bilh\\u0026#245;es para R$ 266 bilh\\u0026#245;es em valores deflacionados entre 2013 e 2022. Trata-se de um avan\\u0026#231;o de 9,3%. No entanto, levando em conta apenas os minerais cr\\u0026#237;ticos, o aumento foi de 39%. \\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Dados dos investimentos das mineradoras em pesquisa mineral tamb\\u0026#233;m ajudam a ilustrar o cen\\u0026#225;rio. Houve um crescimento de 150%, entre 2013 e 2022. Quando se considera apenas os minerais cr\\u0026#237;ticos, por\\u0026#233;m, a alta foi de 240%. \\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Na \\u0026#250;ltima quarta-feira (11), o an\\u0026#250;ncio da australiana Pilbara Minerals, especializada na minera\\u0026#231;\\u0026#227;o de l\\u0026#237;tio, ilustrou o cen\\u0026#225;rio: a mineradora far\\u0026#225; um investimento de R$ 2,2 bilh\\u0026#245;es em um projeto no munic\\u0026#237;pio de Salinas (MG), no Vale do Jequitinhonha.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Nem sempre os conflitos est\\u0026#227;o associados a mais investimentos. Mas, sem d\\u0026#250;vida nenhuma, eles est\\u0026#227;o associados \\u0026#224; profus\\u0026#227;o de novos empreendimentos\\u0026quot;, afirma Luiz. O que preocupam os pesquisadores \\u0026#233; que a realidade j\\u0026#225; evidencia um grande volume de conflitos. \\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Foram identificadas 348 ocorr\\u0026#234;ncias em 249 localidades, no per\\u0026#237;odo de 2020 a 2023. Ao menos, 101 mil pessoas teriam sido afetadas. Segundo o estudo, os pequenos propriet\\u0026#225;rios rurais s\\u0026#227;o 23,9% das v\\u0026#237;timas de viola\\u0026#231;\\u0026#245;es de direitos. Trabalhadores representam 12,1% e ind\\u0026#237;genas 9,8%.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;S\\u0026#227;o conflitos que atingem diferentes grupos. Mas eu destacaria os pequenos produtores, sobretudo agricultores familiares que vivem em \\u0026#225;reas pr\\u0026#243;ximas aos empreendimentos de minera\\u0026#231;\\u0026#227;o. Os pr\\u0026#243;prios trabalhadores da minera\\u0026#231;\\u0026#227;o enfrentam uma s\\u0026#233;rie de viola\\u0026#231;\\u0026#245;es que envolvem condi\\u0026#231;\\u0026#245;es prec\\u0026#225;rias de trabalho e super explora\\u0026#231;\\u0026#227;o. E temos outros atores como ind\\u0026#237;genas e quilombolas que tamb\\u0026#233;m v\\u0026#234;m sofrendo com os impactos. No caso particular dos ind\\u0026#237;genas, chama aten\\u0026#231;\\u0026#227;o a quest\\u0026#227;o dos garimpos dos minerais de transi\\u0026#231;\\u0026#227;o. As comunidades t\\u0026#234;m sido impactadas por garimpos associados \\u0026#224; cassiterita, \\u0026#224; mangan\\u0026#234;s e ao cobre\\u0026quot;, diz Luiz.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A defini\\u0026#231;\\u0026#227;o de minerais cr\\u0026#237;ticos n\\u0026#227;o \\u0026#233; uniforme e varia conforme a base acad\\u0026#234;mica e as orienta\\u0026#231;\\u0026#245;es pol\\u0026#237;ticas de cada governo. No estudo, os pesquisadores enquadraram 31 subst\\u0026#226;ncias na categoria, dos quais 14 estiveram relacionadas com conflitos no Brasil: alumina/bauxita, cassiterita/estanho, cobre, cromo, grafite, l\\u0026#237;tio, mangan\\u0026#234;s (incluindo liga de mangan\\u0026#234;s), ni\\u0026#243;bio, n\\u0026#237;quel, prata, sil\\u0026#237;cio, ur\\u0026#226;nio, van\\u0026#225;dio e zinco.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Os minerais citados representam atualmente uma participa\\u0026#231;\\u0026#227;o minorit\\u0026#225;ria na produ\\u0026#231;\\u0026#227;o do setor. O \\u0026#250;ltimo balan\\u0026#231;o divulgado pelo Instituto Brasileiro de Minera\\u0026#231;\\u0026#227;o (Ibram), que re\\u0026#250;ne as maiores mineradoras do pa\\u0026#237;s, consolidou os dados do primeiro semestre de 2024. No per\\u0026#237;odo, 61,8% da produ\\u0026#231;\\u0026#227;o foi de min\\u0026#233;rio de ferro, seguido por 7,5% de min\\u0026#233;rio de ouro. S\\u0026#227;o duas subst\\u0026#226;ncias envolvidas em grandes trag\\u0026#233;dias nacionais.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A explora\\u0026#231;\\u0026#227;o de min\\u0026#233;rio de ferro est\\u0026#225; associada aos rompimentos das barragens da Samarco em Mariana (MG) e da Vale em Brumadinho (MG). J\\u0026#225; o garimpo ilegal de ouro est\\u0026#225; no epicentro da crise humanit\\u0026#225;ria na Terra Yanomami, em Rond\\u0026#244;nia. Os dados consolidados do Ibram, no entanto, dizem respeito apenas \\u0026#224; produ\\u0026#231;\\u0026#227;o legal.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;De acordo com Luiz, n\\u0026#227;o seria por acaso que Par\\u0026#225; (40,8%) e Minas Gerais (25,9%) concentrariam juntos 66,7% das ocorr\\u0026#234;ncias. S\\u0026#227;o tradicionalmente os dois principais estados mineradores do pa\\u0026#237;s, sobretudo por sediarem as grandes minas de explora\\u0026#231;\\u0026#227;o de min\\u0026#233;rio de ferro. \\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;No entanto, considerando apenas os minerais cr\\u0026#237;ticos, a produ\\u0026#231;\\u0026#227;o mineira entre 2013 e 2022 aparece apenas em quarto lugar, sendo superada n\\u0026#227;o apenas por Par\\u0026#225;, como tamb\\u0026#233;m por Goi\\u0026#225;s e Bahia.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ainda assim foram mapeados mais conflitos em munic\\u0026#237;pios de Minas Gerais do que em cidades goianas e baianas. Os pesquisadores tem uma explica\\u0026#231;\\u0026#227;o: os dados indicariam que os conflitos s\\u0026#227;o cont\\u0026#237;nuos em estados onde a minera\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#233; uma atividade com relev\\u0026#226;ncia hist\\u0026#243;rica.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Em Minas, voc\\u0026#234; tem um setor consolidado de minera\\u0026#231;\\u0026#227;o envolvendo minerais de transi\\u0026#231;\\u0026#227;o, como por exemplo a explora\\u0026#231;\\u0026#227;o de bauxita na Zona da Mata mineira. E tamb\\u0026#233;m tem as \\u0026#225;reas de expans\\u0026#227;o recente como \\u0026#233; o caso da explora\\u0026#231;\\u0026#227;o do l\\u0026#237;tio, que vem produzindo uma s\\u0026#233;rie de conflitos no Vale do Jequitinhonha. Ent\\u0026#227;o o estado tem essa caracter\\u0026#237;stica: ao mesmo tempo que j\\u0026#225; possui uma presen\\u0026#231;a consolidada do setor mineral, \\u0026#233; tamb\\u0026#233;m uma \\u0026#225;rea de expans\\u0026#227;o\\u0026quot;, avalia Luiz Jardim Wanderley.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h3\\u0026gt;Amaz\\u0026#244;nia\\u0026lt;/h3\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Chama a aten\\u0026#231;\\u0026#227;o que quase metade das ocorr\\u0026#234;ncias identificadas foram registradas na Amaz\\u0026#244;nia Legal. A regi\\u0026#227;o que inclui nove estados - Acre, Amap\\u0026#225;, Amazonas, Mato Grosso, Par\\u0026#225;, Rond\\u0026#244;nia, Roraima e Tocantins e parte do Maranh\\u0026#227;o - responde por 46,3% dos registros.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Os dados servem como alerta de que a transi\\u0026#231;\\u0026#227;o pode ser injusta para as localidades e para os povos afetados: ribeirinhos, quilombolas, ind\\u0026#237;genas, pequenos agricultores. Eles n\\u0026#227;o precisam fazer uma transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica porque, na verdade, essas popula\\u0026#231;\\u0026#245;es j\\u0026#225; contribuem com a captura de carbono. S\\u0026#227;o elas que resguardam a floresta e protegem a natureza. E, mesmo assim, v\\u0026#227;o ser elas que mais v\\u0026#227;o sofrer com os danos de um projeto para a transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica que \\u0026#233; sobretudo do Norte Global, ou seja, dos Estados Unidos e da Europa, al\\u0026#233;m da China e da \\u0026#205;ndia\\u0026quot;, avalia Luiz.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;De acordo com ele, a explora\\u0026#231;\\u0026#227;o desses minerais comp\\u0026#245;e mais uma amea\\u0026#231;a \\u0026#224; din\\u0026#226;mica amaz\\u0026#244;nica.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;Esse estudo n\\u0026#227;o tratou da perspectiva de futuro, mas o que j\\u0026#225; observamos em outros estudos desenvolvidos \\u0026#233; que temos tr\\u0026#234;s \\u0026#225;reas com maior demanda por t\\u0026#237;tulos minerais da transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica. Uma \\u0026#233; o semi\\u0026#225;rido nordestino, outra \\u0026#233; regi\\u0026#227;o amaz\\u0026#244;nica e a terceiro \\u0026#233; o miolo do Cerrado, na altura de Goi\\u0026#225;s com o Tocantins. S\\u0026#227;o \\u0026#225;reas que tendem a ser espa\\u0026#231;os de agravamento ainda maior do desmatamento. Tanto pelo efeito direto da minera\\u0026#231;\\u0026#227;o, como pelos efeitos secund\\u0026#225;rios que envolvem por exemplo a atra\\u0026#231;\\u0026#227;o de pessoas e a abertura de estradas\\u0026quot;, acrescentou.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;No recorte por munic\\u0026#237;pios com maior volume de viola\\u0026#231;\\u0026#245;es de direitos, lideram a lista Barcarena (PA) e Cana\\u0026#227; dos Caraj\\u0026#225;s (PA). Em terceiro lugar, aparece Cra\\u0026#237;bas (AL). Na cidade alagoana, Minera\\u0026#231;\\u0026#227;o Vale Verde, de capital ingl\\u0026#234;s, explora uma mina a c\\u0026#233;u aberto de cobre. O empreendimento, est\\u0026#225; atrelado a 29 ocorr\\u0026#234;ncias. S\\u0026#227;o registros que colocam Alagoas como o terceiro estado com maior n\\u0026#250;mero de conflitos: 8,3% do total mapeado.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;De acordo com o estudo, moradores do entorno da mina reclamam de explos\\u0026#245;es, tremores de terra e de rachaduras em suas resid\\u0026#234;ncias. Comunidades ind\\u0026#237;genas Kariri-Xok\\u0026#243;, Karapot\\u0026#243; e Tingui Bot\\u0026#243; tamb\\u0026#233;m t\\u0026#234;m manifestado temor de contamina\\u0026#231;\\u0026#227;o e de impactos em suas terras. Procurada pela Ag\\u0026#234;ncia Brasil, a Minera\\u0026#231;\\u0026#227;o Vale Verde n\\u0026#227;o retornou ao contato.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h3\\u0026gt;Mineradoras\\u0026lt;/h3\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O estudo tamb\\u0026#233;m apresenta uma an\\u0026#225;lise do perfil das mineradoras relacionadas com os conflitos. A maioria deles \\u0026#233; de m\\u0026#233;dio porte. Ainda assim, o ranking das principais envolvidas nas ocorr\\u0026#234;ncias mapeadas \\u0026#233; puxado por duas grandes empresas: a noruguesa Hydro, com 14,4%, e a brasileira Vale, com 11,5%.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Os n\\u0026#250;meros de ocorr\\u0026#234;ncias envolvendo as duas mineradoras s\\u0026#227;o impulsionados por situa\\u0026#231;\\u0026#245;es registradas no Par\\u0026#225;. A Hydro responde pela explora\\u0026#231;\\u0026#227;o de alumina nos munic\\u0026#237;pios Abaetetuba e Barcarena, que chegou a gerar uma a\\u0026#231;\\u0026#227;o coletiva movida pelos atingidos na Justi\\u0026#231;a holandesa. Eles alegam que as \\u0026#225;guas do rio Murucupi foram polu\\u0026#237;das, que h\\u0026#225; danos \\u0026#224; sa\\u0026#250;de e preju\\u0026#237;zos econ\\u0026#244;micos \\u0026#224; popula\\u0026#231;\\u0026#227;o local. viola\\u0026#231;\\u0026#245;es de direitos de povos ind\\u0026#237;genas teriam rela\\u0026#231;\\u0026#227;o com as minas Salobo e Sossego, nas quais h\\u0026#225; extra\\u0026#231;\\u0026#227;o de cobre em Cana\\u0026#227; dos Caraj\\u0026#225;s, e com a mina On\\u0026#231;a Puma, onde s\\u0026#227;o exploradas reservas de n\\u0026#237;quel a partir de uma opera\\u0026#231;\\u0026#227;o sediada em Ouril\\u0026#226;ndia do Norte.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Procurada pela Ag\\u0026#234;ncia Brasil, a Hydro negou a ocorr\\u0026#234;ncia de danos ambientais em seu empreendimento. A mineradora afirmou investir continuamente em tecnologias para tornar suas opera\\u0026#231;\\u0026#245;es cada vez mais sustent\\u0026#225;veis e em iniciativas socioambientais com foco em educa\\u0026#231;\\u0026#227;o, gera\\u0026#231;\\u0026#227;o de trabalho e renda, fortalecimento de organiza\\u0026#231;\\u0026#245;es sociais e desenvolvimento econ\\u0026#244;mico e social.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;A principal alega\\u0026#231;\\u0026#227;o apresentada no relat\\u0026#243;rio \\u0026#233; o suposto transbordamento das \\u0026#225;reas de armazenamento de res\\u0026#237;duos de bauxita ap\\u0026#243;s fortes chuvas em Barcarena em 2018. A Hydro reitera que nenhum transbordo foi confirmado por mais de 90 inspe\\u0026#231;\\u0026#245;es no local, inclusive pelas autoridades competentes. As atividades da Hydro s\\u0026#227;o devidamente licenciadas, monitoradas e auditadas pelas autoridades competentes. A Hydro tem o compromisso de ser uma boa vizinha, agindo com responsabilidade e colocando a sa\\u0026#250;de, o meio ambiente e a seguran\\u0026#231;a em primeiro lugar\\u0026quot;, diz o texto.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A Vale, por sua vez, afirma que n\\u0026#227;o realiza pesquisa mineral ou lavra em terras ind\\u0026#237;genas e que respeita a legisla\\u0026#231;\\u0026#227;o vigente. De acordo com a mineradora, laudos elaborados por peritos judiciais descartaram sua responsabilidade na contamina\\u0026#231;\\u0026#227;o da \\u0026#225;gua no rio Catet\\u0026#233;. A mineradora afirma j\\u0026#225; ter celebrado um acordo que encerrou a quase totalidade de controv\\u0026#233;rsias com os ind\\u0026#237;genas Xikrin e Kayap\\u0026#243;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026quot;O relacionamento com esses povos foi fortalecido e iniciativas volunt\\u0026#225;rias para o empoderamento e autonomia dessas comunidades t\\u0026#234;m sido trabalhadas, em alinhamento com a estrat\\u0026#233;gia de relacionamento da Vale, focada na gera\\u0026#231;\\u0026#227;o de benef\\u0026#237;cios m\\u0026#250;tuos. Alguns exemplos s\\u0026#227;o as a\\u0026#231;\\u0026#245;es de promo\\u0026#231;\\u0026#227;o do etnodesenvolvimento do Povo Xikrin, com destaque para o Projeto de Valoriza\\u0026#231;\\u0026#227;o da Cultura e Mem\\u0026#243;ria do Povo Xikrin do Catet\\u0026#233;. Junto ao Povo Kayap\\u0026#243;, a Vale apoiou a elabora\\u0026#231;\\u0026#227;o do Protocolo de Consulta desse povo, que foi desenvolvido pela Associa\\u0026#231;\\u0026#227;o Ind\\u0026#237;gena Floresta Protegida e aprovado na Assembleia Geral de Caciques e Lideran\\u0026#231;as da Terra Ind\\u0026#237;gena Kayap\\u0026#243;, que ocorreu na aldeia Gorotire em janeiro de 2024\\u0026quot;, acrescenta a mineradora.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Outro conflito destacado no relat\\u0026#243;rio coloca, de um lado, a Minera\\u0026#231;\\u0026#227;o Rio do Norte (MRN), e de outro, quilombolas e ribeirinhos de Oriximin\\u0026#225; (PA). No munic\\u0026#237;pio, minas para explora\\u0026#231;\\u0026#227;o de bauxita s\\u0026#227;o apontadas por moradores locais como respons\\u0026#225;veis por tornar o Lago do Batata impr\\u0026#243;prio para pesca e banho. A comunidade quilombola Boa Vista, que vive a menos de 500 metros do empreendimento, afirma ainda que a instala\\u0026#231;\\u0026#227;o da MRN afetou a extra\\u0026#231;\\u0026#227;o de castanhas.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;De acordo com nota divulgada pela MRN, o monitoramento conduzido em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1989 mostra que as condi\\u0026#231;\\u0026#245;es ecol\\u0026#243;gicas no Lago do Batata est\\u0026#227;o equivalentes \\u0026#224;s de locais onde n\\u0026#227;o ocorreram interven\\u0026#231;\\u0026#245;es. \\u0026quot;H\\u0026#225; registros de, ao menos, 199 esp\\u0026#233;cies de peixes e a pr\\u0026#225;tica da pesca \\u0026#233; comum entre os comunit\\u0026#225;rios, o que \\u0026#233; endossado pelo fato de pelo menos 142 dessas esp\\u0026#233;cies s\\u0026#227;o utilizadas para subsist\\u0026#234;ncia e com\\u0026#233;rcio de pescado. Da mesma forma, dados da qualidade da \\u0026#225;gua n\\u0026#227;o apresentam nenhum elemento que possa trazer risco \\u0026#224; sa\\u0026#250;de humana\\u0026quot;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ainda de acordo com a mineradora, a\\u0026#231;\\u0026#245;es socioambientais compensat\\u0026#243;rias e volunt\\u0026#225;rias fomentam a gera\\u0026#231;\\u0026#227;o de renda e o o \\u0026#224; educa\\u0026#231;\\u0026#227;o e sa\\u0026#250;de da popula\\u0026#231;\\u0026#227;o da comunidade Boa Vista. \\u0026quot;As iniciativas refor\\u0026#231;am o compromisso da empresa em fazer uma minera\\u0026#231;\\u0026#227;o sustent\\u0026#225;vel e respons\\u0026#225;vel, com respeito \\u0026#224;s pessoas e ao meio ambiente\\u0026quot;, registra o texto.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Quer ver mais not\\u0026#237;cias? \\u0026lt;a href=\\u0026quot;https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9IlAw2v1J02cbfQ31H\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot; data-rel-defined=\\u0026quot;true\\u0026quot;\\u0026gt;e nosso canal no WhatsApp\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;span style=\\u0026quot;font-size: 1.17em; font-weight: bold;\\u0026quot;\\u0026gt;Futuro\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;De acordo com Luiz Jardim Wanderley, o mapeamento das viola\\u0026#231;\\u0026#245;es \\u0026#233; importante porque revela dados necess\\u0026#225;rios para se discutir o futuro da minera\\u0026#231;\\u0026#227;o e seu papel na transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica. \\u0026quot;Acho que \\u0026#233; perigoso adotar um discurso que coloca todo o setor mineral como um setor essencial para a sociedade. Com base nesse discurso, se busca legitimar diferentes tipos de explora\\u0026#231;\\u0026#227;o. O setor ainda busca limpar a p\\u0026#233;ssima reputa\\u0026#231;\\u0026#227;o diante dos grandes desastres que ocorreram em Mariana e em Brumadinho. E faz isso tentando se mostrar como essencial \\u0026#233; um caminho\\u0026quot;, diz ele.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ele defende que a transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica n\\u0026#227;o pode ser compreendida como uma simples substitui\\u0026#231;\\u0026#227;o de bases tecnol\\u0026#243;gicas e fontes de energia. \\u0026#201; preciso considerar a necessidade de medidas para se coibir a amplia\\u0026#231;\\u0026#227;o dos conflitos ambientais. \\u0026quot;Esses minerais de transi\\u0026#231;\\u0026#227;o, na maior parte, n\\u0026#227;o s\\u0026#227;o para a sociedade brasileira e sim para a exporta\\u0026#231;\\u0026#227;o. H\\u0026#225; um discurso que coloca o cen\\u0026#225;rio atual como uma oportunidade. Ou seja, o Brasil deve aproveitar essa nova economia e usar a minera\\u0026#231;\\u0026#227;o como um vetor para financiar o desenvolvimento. Mas a minera\\u0026#231;\\u0026#227;o n\\u0026#227;o faz isso desde o per\\u0026#237;odo colonial. A gente tem uma hiperconcentra\\u0026#231;\\u0026#227;o de min\\u0026#233;rio. Foi assim com o ouro e hoje em dia \\u0026#233; com o ferro. N\\u0026#227;o houve gera\\u0026#231;\\u0026#227;o de desenvolvimento social e econ\\u0026#244;mico para a popula\\u0026#231;\\u0026#227;o brasileira\\u0026quot;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para os pesquisadores, o Estado precisa ter responsabilidade sobretudo ao discutir incentivos p\\u0026#250;blicos. Para estimular o setor na implementa\\u0026#231;\\u0026#227;o de novos projetos de minerais de transi\\u0026#231;\\u0026#227;o, o governo j\\u0026#225; criou, por exemplo o Fundo de Investimento em Participa\\u0026#231;\\u0026#245;es (FIP) Minerais Estrat\\u0026#233;gicos no Brasil. istrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econ\\u0026#244;mico e Social (BNDES), ele contar\\u0026#225; com aporte de at\\u0026#233; R$ 1 bilh\\u0026#227;o. O tema tamb\\u0026#233;m impulsiona a agenda diplom\\u0026#225;tica. Na \\u0026#250;ltima segunda-feira (10), a embaixada e os consulados dos Estados Unidos no Brasil organizaram um evento que debateu coopera\\u0026#231;\\u0026#227;o bilateral e o interc\\u0026#226;mbio t\\u0026#233;cnico visando a explora\\u0026#231;\\u0026#227;o de minerais cr\\u0026#237;ticos. Estiveram presentes autoridades do governo do pa\\u0026#237;s norte-americano que tratam do assunto.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Por sua vez, as mineradoras, representadas pelo Ibram, tamb\\u0026#233;m buscam apresentar suas posi\\u0026#231;\\u0026#245;es no debate sobre o tema. Recentemente, a entidade conseguiu colocar em tramita\\u0026#231;\\u0026#227;o algumas demandas atrav\\u0026#233;s do Projeto de Lei 2780/2024 apresentado pelo deputado federal Z\\u0026#233; Silva (Solidariedade-MG). Entre diversas medidas, ele prev\\u0026#234; a desonera\\u0026#231;\\u0026#227;o da produ\\u0026#231;\\u0026#227;o dos minerais cr\\u0026#237;tico, atrav\\u0026#233;s da dedu\\u0026#231;\\u0026#227;o de valores no recolhimento do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jur\\u0026#237;dica e da redu\\u0026#231;\\u0026#227;o da al\\u0026#237;quota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A proposta, de outro lado, n\\u0026#227;o trata da repara\\u0026#231;\\u0026#227;o dos impactos explorat\\u0026#243;rios.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O tema ganhou centralidade nos quatro dias da Exposibram 2024, que se encerrou nesta quinta-feira (12) em Belo Horizonte. O evento, considerado a maior exposi\\u0026#231;\\u0026#227;o de minera\\u0026#231;\\u0026#227;o da Am\\u0026#233;rica Latina, \\u0026#233; organizado pelo Ibram. “A minera\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#233; parte da hist\\u0026#243;ria e sem ela n\\u0026#227;o haveria a civiliza\\u0026#231;\\u0026#227;o que hoje conhecemos. Somos os art\\u0026#237;fices do futuro. Os minerais cr\\u0026#237;ticos e estrat\\u0026#233;gicos s\\u0026#227;o decisivos para a transi\\u0026#231;\\u0026#227;o energ\\u0026#233;tica e n\\u0026#227;o haver\\u0026#225; sa\\u0026#237;da para a humanidade, em raz\\u0026#227;o do agravamento da emerg\\u0026#234;ncia clim\\u0026#225;tica, sem considerarmos o crescimento da oferta desses minerais”, afirmou Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram, na mesa de abertura.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para Luiz Jardim Wanderley, a minera\\u0026#231;\\u0026#227;o j\\u0026#225; goza de muita isen\\u0026#231;\\u0026#227;o fiscal. \\u0026quot;Se reduzem o royalty da minera\\u0026#231;\\u0026#227;o, por exemplo, os munic\\u0026#237;pios n\\u0026#227;o ter\\u0026#227;o nem a pequena captura de recursos que j\\u0026#225; se d\\u0026#225; em n\\u0026#237;veis muito baixos. N\\u0026#227;o superam os 3,5%. E a\\u0026#237; fica para os munic\\u0026#237;pios s\\u0026#243; o dano ambiental e a transforma\\u0026#231;\\u0026#227;o violenta dos seus territ\\u0026#243;rios\\u0026quot;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;","keywords":"transição energética,conflitos mineração,direitos humanos,minerais críticos,Amazônia"}
plus
plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Edição do Dia
Previsão do Tempo 25°
cotação atual R$


home
MINERAÇÃO

Relatório indica conflitos ligados à transição energética

Municípios do Pará lideram entre os que mais tiveram conflitos entre 2020 e 2023

twitter Google News
Imagem ilustrativa da notícia Relatório indica conflitos ligados à transição energética camera Pará concentra mais de 40% das ocorrências entre 2020 e 2023 | ( José Cruz / Agência Brasil)

Com a transição energética para novas fontes renováveis, a necessidade de certos minerais para projetos aumentou, e com isso, também aumentaram os conflitos em frentes exploratórias.

Um estudo sobre o tema identificou violações de direitos de pequenos proprietários rurais, trabalhadores e comunidades tradicionais, em especial na Amazônia Legal e no Pará que, sozinho, concentra mais de 40% das ocorrências.

O estudo é do Grupo de Pesquisa e Extensão Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (Poemas), ao qual são vinculados pesquisadores de diferentes instituições científicas, como as universidades federais de Juiz de Fora (UFJF), Fluminense (UFF) e de Viçosa (UFV).

Conteúdo relacionado

Os casos mapeados se deram entre 2020 e 2023

"O que o estudo vem que mostrar é que não podemos tratar a mineração dos minerais críticos sem considerar os danos. E é algo que já está ocorrendo", disse, em entrevista à Agência Brasil, o geógrafo e professor da UFF, Luiz Jardim Wanderley, um dos signatários do estudo.

Os resultados estão no relatório Transição Desigual: as violações da extração dos minerais para a transição energética no Brasil. O documento foi publicado em julho pelo Conselho do Observatório dos Conflitos da Mineração no Brasil e pelo Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, os quais são compostos por diferentes organizações, entre elas o Poemas.

Os minerais críticos ou minerais de transição são aqueles cuja disponibilidade atual é limitada e a exploração é considerada necessária para assegurar a transição energética, já que são essenciais para a fabricação de peças e equipamentos associados à ideia de energia verde.

Por exemplo, há demanda por cobre nas usinas eólicas, por silício para os painéis fotovoltaicos, por níquel e lítio para as baterias, por bauxita e alumina para os cabos de transmissão.

De acordo com dados reunidos no estudo, a exploração mineral no país cresceu de R$ 243 bilhões para R$ 266 bilhões em valores deflacionados entre 2013 e 2022. Trata-se de um avanço de 9,3%. No entanto, levando em conta apenas os minerais críticos, o aumento foi de 39%.

Dados dos investimentos das mineradoras em pesquisa mineral também ajudam a ilustrar o cenário. Houve um crescimento de 150%, entre 2013 e 2022. Quando se considera apenas os minerais críticos, porém, a alta foi de 240%.

Na última quarta-feira (11), o anúncio da australiana Pilbara Minerals, especializada na mineração de lítio, ilustrou o cenário: a mineradora fará um investimento de R$ 2,2 bilhões em um projeto no município de Salinas (MG), no Vale do Jequitinhonha.

"Nem sempre os conflitos estão associados a mais investimentos. Mas, sem dúvida nenhuma, eles estão associados à profusão de novos empreendimentos", afirma Luiz. O que preocupam os pesquisadores é que a realidade já evidencia um grande volume de conflitos.

Foram identificadas 348 ocorrências em 249 localidades, no período de 2020 a 2023. Ao menos, 101 mil pessoas teriam sido afetadas. Segundo o estudo, os pequenos proprietários rurais são 23,9% das vítimas de violações de direitos. Trabalhadores representam 12,1% e indígenas 9,8%.

"São conflitos que atingem diferentes grupos. Mas eu destacaria os pequenos produtores, sobretudo agricultores familiares que vivem em áreas próximas aos empreendimentos de mineração. Os próprios trabalhadores da mineração enfrentam uma série de violações que envolvem condições precárias de trabalho e super exploração. E temos outros atores como indígenas e quilombolas que também vêm sofrendo com os impactos. No caso particular dos indígenas, chama atenção a questão dos garimpos dos minerais de transição. As comunidades têm sido impactadas por garimpos associados à cassiterita, à manganês e ao cobre", diz Luiz.

A definição de minerais críticos não é uniforme e varia conforme a base acadêmica e as orientações políticas de cada governo. No estudo, os pesquisadores enquadraram 31 substâncias na categoria, dos quais 14 estiveram relacionadas com conflitos no Brasil: alumina/bauxita, cassiterita/estanho, cobre, cromo, grafite, lítio, manganês (incluindo liga de manganês), nióbio, níquel, prata, silício, urânio, vanádio e zinco.

Os minerais citados representam atualmente uma participação minoritária na produção do setor. O último balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que reúne as maiores mineradoras do país, consolidou os dados do primeiro semestre de 2024. No período, 61,8% da produção foi de minério de ferro, seguido por 7,5% de minério de ouro. São duas substâncias envolvidas em grandes tragédias nacionais.

A exploração de minério de ferro está associada aos rompimentos das barragens da Samarco em Mariana (MG) e da Vale em Brumadinho (MG). Já o garimpo ilegal de ouro está no epicentro da crise humanitária na Terra Yanomami, em Rondônia. Os dados consolidados do Ibram, no entanto, dizem respeito apenas à produção legal.

De acordo com Luiz, não seria por acaso que Pará (40,8%) e Minas Gerais (25,9%) concentrariam juntos 66,7% das ocorrências. São tradicionalmente os dois principais estados mineradores do país, sobretudo por sediarem as grandes minas de exploração de minério de ferro.

No entanto, considerando apenas os minerais críticos, a produção mineira entre 2013 e 2022 aparece apenas em quarto lugar, sendo superada não apenas por Pará, como também por Goiás e Bahia.

Ainda assim foram mapeados mais conflitos em municípios de Minas Gerais do que em cidades goianas e baianas. Os pesquisadores tem uma explicação: os dados indicariam que os conflitos são contínuos em estados onde a mineração é uma atividade com relevância histórica.

"Em Minas, você tem um setor consolidado de mineração envolvendo minerais de transição, como por exemplo a exploração de bauxita na Zona da Mata mineira. E também tem as áreas de expansão recente como é o caso da exploração do lítio, que vem produzindo uma série de conflitos no Vale do Jequitinhonha. Então o estado tem essa característica: ao mesmo tempo que já possui uma presença consolidada do setor mineral, é também uma área de expansão", avalia Luiz Jardim Wanderley.

Amazônia

Chama a atenção que quase metade das ocorrências identificadas foram registradas na Amazônia Legal. A região que inclui nove estados - Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão - responde por 46,3% dos registros.

"Os dados servem como alerta de que a transição pode ser injusta para as localidades e para os povos afetados: ribeirinhos, quilombolas, indígenas, pequenos agricultores. Eles não precisam fazer uma transição energética porque, na verdade, essas populações já contribuem com a captura de carbono. São elas que resguardam a floresta e protegem a natureza. E, mesmo assim, vão ser elas que mais vão sofrer com os danos de um projeto para a transição energética que é sobretudo do Norte Global, ou seja, dos Estados Unidos e da Europa, além da China e da Índia", avalia Luiz.

De acordo com ele, a exploração desses minerais compõe mais uma ameaça à dinâmica amazônica.

"Esse estudo não tratou da perspectiva de futuro, mas o que já observamos em outros estudos desenvolvidos é que temos três áreas com maior demanda por títulos minerais da transição energética. Uma é o semiárido nordestino, outra é região amazônica e a terceiro é o miolo do Cerrado, na altura de Goiás com o Tocantins. São áreas que tendem a ser espaços de agravamento ainda maior do desmatamento. Tanto pelo efeito direto da mineração, como pelos efeitos secundários que envolvem por exemplo a atração de pessoas e a abertura de estradas", acrescentou.

No recorte por municípios com maior volume de violações de direitos, lideram a lista Barcarena (PA) e Canaã dos Carajás (PA). Em terceiro lugar, aparece Craíbas (AL). Na cidade alagoana, Mineração Vale Verde, de capital inglês, explora uma mina a céu aberto de cobre. O empreendimento, está atrelado a 29 ocorrências. São registros que colocam Alagoas como o terceiro estado com maior número de conflitos: 8,3% do total mapeado.

De acordo com o estudo, moradores do entorno da mina reclamam de explosões, tremores de terra e de rachaduras em suas residências. Comunidades indígenas Kariri-Xokó, Karapotó e Tingui Botó também têm manifestado temor de contaminação e de impactos em suas terras. Procurada pela Agência Brasil, a Mineração Vale Verde não retornou ao contato.

Mineradoras

O estudo também apresenta uma análise do perfil das mineradoras relacionadas com os conflitos. A maioria deles é de médio porte. Ainda assim, o ranking das principais envolvidas nas ocorrências mapeadas é puxado por duas grandes empresas: a noruguesa Hydro, com 14,4%, e a brasileira Vale, com 11,5%.

Os números de ocorrências envolvendo as duas mineradoras são impulsionados por situações registradas no Pará. A Hydro responde pela exploração de alumina nos municípios Abaetetuba e Barcarena, que chegou a gerar uma ação coletiva movida pelos atingidos na Justiça holandesa. Eles alegam que as águas do rio Murucupi foram poluídas, que há danos à saúde e prejuízos econômicos à população local. violações de direitos de povos indígenas teriam relação com as minas Salobo e Sossego, nas quais há extração de cobre em Canaã dos Carajás, e com a mina Onça Puma, onde são exploradas reservas de níquel a partir de uma operação sediada em Ourilândia do Norte.

Procurada pela Agência Brasil, a Hydro negou a ocorrência de danos ambientais em seu empreendimento. A mineradora afirmou investir continuamente em tecnologias para tornar suas operações cada vez mais sustentáveis e em iniciativas socioambientais com foco em educação, geração de trabalho e renda, fortalecimento de organizações sociais e desenvolvimento econômico e social.

"A principal alegação apresentada no relatório é o suposto transbordamento das áreas de armazenamento de resíduos de bauxita após fortes chuvas em Barcarena em 2018. A Hydro reitera que nenhum transbordo foi confirmado por mais de 90 inspeções no local, inclusive pelas autoridades competentes. As atividades da Hydro são devidamente licenciadas, monitoradas e auditadas pelas autoridades competentes. A Hydro tem o compromisso de ser uma boa vizinha, agindo com responsabilidade e colocando a saúde, o meio ambiente e a segurança em primeiro lugar", diz o texto.

A Vale, por sua vez, afirma que não realiza pesquisa mineral ou lavra em terras indígenas e que respeita a legislação vigente. De acordo com a mineradora, laudos elaborados por peritos judiciais descartaram sua responsabilidade na contaminação da água no rio Cateté. A mineradora afirma já ter celebrado um acordo que encerrou a quase totalidade de controvérsias com os indígenas Xikrin e Kayapó.

"O relacionamento com esses povos foi fortalecido e iniciativas voluntárias para o empoderamento e autonomia dessas comunidades têm sido trabalhadas, em alinhamento com a estratégia de relacionamento da Vale, focada na geração de benefícios mútuos. Alguns exemplos são as ações de promoção do etnodesenvolvimento do Povo Xikrin, com destaque para o Projeto de Valorização da Cultura e Memória do Povo Xikrin do Cateté. Junto ao Povo Kayapó, a Vale apoiou a elaboração do Protocolo de Consulta desse povo, que foi desenvolvido pela Associação Indígena Floresta Protegida e aprovado na Assembleia Geral de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Kayapó, que ocorreu na aldeia Gorotire em janeiro de 2024", acrescenta a mineradora.

Outro conflito destacado no relatório coloca, de um lado, a Mineração Rio do Norte (MRN), e de outro, quilombolas e ribeirinhos de Oriximiná (PA). No município, minas para exploração de bauxita são apontadas por moradores locais como responsáveis por tornar o Lago do Batata impróprio para pesca e banho. A comunidade quilombola Boa Vista, que vive a menos de 500 metros do empreendimento, afirma ainda que a instalação da MRN afetou a extração de castanhas.

De acordo com nota divulgada pela MRN, o monitoramento conduzido em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1989 mostra que as condições ecológicas no Lago do Batata estão equivalentes às de locais onde não ocorreram intervenções. "Há registros de, ao menos, 199 espécies de peixes e a prática da pesca é comum entre os comunitários, o que é endossado pelo fato de pelo menos 142 dessas espécies são utilizadas para subsistência e comércio de pescado. Da mesma forma, dados da qualidade da água não apresentam nenhum elemento que possa trazer risco à saúde humana".

Ainda de acordo com a mineradora, ações socioambientais compensatórias e voluntárias fomentam a geração de renda e o o à educação e saúde da população da comunidade Boa Vista. "As iniciativas reforçam o compromisso da empresa em fazer uma mineração sustentável e responsável, com respeito às pessoas e ao meio ambiente", registra o texto.

Quer ver mais notícias? e nosso canal no WhatsApp

Futuro

De acordo com Luiz Jardim Wanderley, o mapeamento das violações é importante porque revela dados necessários para se discutir o futuro da mineração e seu papel na transição energética. "Acho que é perigoso adotar um discurso que coloca todo o setor mineral como um setor essencial para a sociedade. Com base nesse discurso, se busca legitimar diferentes tipos de exploração. O setor ainda busca limpar a péssima reputação diante dos grandes desastres que ocorreram em Mariana e em Brumadinho. E faz isso tentando se mostrar como essencial é um caminho", diz ele.

Ele defende que a transição energética não pode ser compreendida como uma simples substituição de bases tecnológicas e fontes de energia. É preciso considerar a necessidade de medidas para se coibir a ampliação dos conflitos ambientais. "Esses minerais de transição, na maior parte, não são para a sociedade brasileira e sim para a exportação. Há um discurso que coloca o cenário atual como uma oportunidade. Ou seja, o Brasil deve aproveitar essa nova economia e usar a mineração como um vetor para financiar o desenvolvimento. Mas a mineração não faz isso desde o período colonial. A gente tem uma hiperconcentração de minério. Foi assim com o ouro e hoje em dia é com o ferro. Não houve geração de desenvolvimento social e econômico para a população brasileira".

Para os pesquisadores, o Estado precisa ter responsabilidade sobretudo ao discutir incentivos públicos. Para estimular o setor na implementação de novos projetos de minerais de transição, o governo já criou, por exemplo o Fundo de Investimento em Participações (FIP) Minerais Estratégicos no Brasil. istrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ele contará com aporte de até R$ 1 bilhão. O tema também impulsiona a agenda diplomática. Na última segunda-feira (10), a embaixada e os consulados dos Estados Unidos no Brasil organizaram um evento que debateu cooperação bilateral e o intercâmbio técnico visando a exploração de minerais críticos. Estiveram presentes autoridades do governo do país norte-americano que tratam do assunto.

Por sua vez, as mineradoras, representadas pelo Ibram, também buscam apresentar suas posições no debate sobre o tema. Recentemente, a entidade conseguiu colocar em tramitação algumas demandas através do Projeto de Lei 2780/2024 apresentado pelo deputado federal Zé Silva (Solidariedade-MG). Entre diversas medidas, ele prevê a desoneração da produção dos minerais crítico, através da dedução de valores no recolhimento do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica e da redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A proposta, de outro lado, não trata da reparação dos impactos exploratórios.

O tema ganhou centralidade nos quatro dias da Exposibram 2024, que se encerrou nesta quinta-feira (12) em Belo Horizonte. O evento, considerado a maior exposição de mineração da América Latina, é organizado pelo Ibram. “A mineração é parte da história e sem ela não haveria a civilização que hoje conhecemos. Somos os artífices do futuro. Os minerais críticos e estratégicos são decisivos para a transição energética e não haverá saída para a humanidade, em razão do agravamento da emergência climática, sem considerarmos o crescimento da oferta desses minerais”, afirmou Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram, na mesa de abertura.

Para Luiz Jardim Wanderley, a mineração já goza de muita isenção fiscal. "Se reduzem o royalty da mineração, por exemplo, os municípios não terão nem a pequena captura de recursos que já se dá em níveis muito baixos. Não superam os 3,5%. E aí fica para os municípios só o dano ambiental e a transformação violenta dos seus territórios".

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. e: dol-br.noticiasalagoanas.com/n/828815.

tags

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

    Mais em Notícias Brasil

    Leia mais notícias de Notícias Brasil. Clique aqui!

    Últimas Notícias