
É no alto de uma das comunidades mais conhecidas do Brasil, a Rocinha, no Rio de Janeiro, que parte do comando do crime organizado do Ceará escolheu se esconder. Entre ruas estreitas e ladeiras sinuosas, luxuosas mansões e edifícios residenciais exclusivos abrigam líderes do Comando Vermelho (CV), que comandam atividades criminosas à distância - inclusive homicídios e tráfico de drogas - sem sair do conforto das suas casas com piscina aquecida e área gourmet.
Uma operação deflagrada no último sábado (31), após meses de investigação conjunta entre o Ministério Público do Ceará (MP-CE), o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e forças de segurança dos dois estados, confirmou o paradeiro dos principais chefes da facção no Ceará. Eles estavam na comunidade no momento em que os agentes iniciaram a ação, mas escaparam entrando em uma área de mata densa, vizinha aos imóveis.
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"O grande problema é que ao lado de onde estavam existe uma mata imensa; a geografia os favorece. Vimos, logo após a incursão, criminosos com fuzil e roupas camufladas entrando nessa mata. Os drones e helicóptero não conseguiam enxergar lá dentro. Não houve vazamento, fugiram depois da operação iniciada", afirmou o subprocurador-geral de Justiça Jurídico do MP-CE, Plácido Rios.
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A ofensiva mobilizou cerca de 80 agentes, incluindo homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do Batalhão de Choque do Rio. Apesar da dimensão da operação, apenas um dos 29 mandados de prisão expedidos foi cumprido. Ainda assim, os investigadores acreditam que o esforço pode render novos avanços. "A gente conseguiu apreender celulares que vão ser fruto de novas investigações, além de termos apreendidos bens de luxo, fuzis e outras armas", afirmou Plácido Rios.
CASA COM PISCINA AQUECIDA
Entre os principais alvos está Anastácio Paiva Pereira, conhecido como "Doze", que vivia em uma casa com piscina aquecida, academia e área de lazer completa. “Esses líderes maiores levam uma vida nababesca”, observou Rios. Outro criminoso de destaque é Antonio, classificado como “perigoso” pela Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS), acusado de homicídios, tráfico e associação criminosa. Ele morava em uma casa localizada em uma rua dominada por imóveis de luxo habitados por cearenses ligados à facção.
Um prédio de seis andares também chamou a atenção das autoridades. Construído por membros do grupo, tinha os quatro primeiros andares ocupados por seguranças armados e os dois últimos reservados às lideranças do CV cearense. A localização privilegiada e o aparato de segurança dificultaram a ação das forças policiais.
DELAÇÃO PREMIADA REVELOU ESCONDERIJOS
A descoberta dos esconderijos só foi possível graças a uma delação premiada feita por um integrante da facção preso durante a campanha eleitoral em Santa Quitéria (CE). Segundo as autoridades, o grupo chegou a intimidar eleitores para favorecer um candidato à prefeitura, que posteriormente teve o mandato cassado.
Para o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Antonio José Campos Moreira, as investigações indicam o tamanho da influência desses criminosos. "Há indícios de que mais de mil homicídios tenham sido ordenados do Rio para aquele estado ao longo dos últimos dois anos", afirmou.
TRÁFICO, HOMICÍDIOS E ATAQUES NA INTERNET
Além de tráfico de drogas, armas e assassinatos, os líderes também estariam por trás de ataques recentes a provedores de internet no Ceará, em tentativa de dominar um novo mercado lucrativo. "De lá, eles devem estar trazendo para o Ceará um modelo de ineditismo. Aqui eles tentaram se apoderar desse ramo, porque sabem que isso ia render muito para eles", explicou Plácido Rios.
A operação marca um novo estágio no combate ao crime organizado, segundo Rios: "O recado que essa ação a para esses criminosos é: eles agora sabem que nós sabemos onde eles estão, que estamos atrás e perto deles. Seja para onde forem, nós temos como os encontrar. Nós estamos com uma integração importante dos órgãos de combate às organizações criminosas, e vamos seguir e expandir essas ações."

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