
O impressionante ataque promovido pela Ucrânia contra as bases de bombardeiros estratégicos da Rússia no domingo (1º) mirou o coração da Força Aérea de Vladimir Putin. E acertou.
O impacto da ação é simbólico, tático e estratégico. O primeiro efeito é óbvio: a engenhosidade da operação expõe falhas graves de vigilância e inteligência.
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A sensação de vulnerabilidade russa foi exacerbada, com apresentadores da TV estatal atônitos ao descrever os eventos. Aqui e ali surgem comparações com Pearl Harbor, o ataque japonês à frota americana que levou os Estados Unidos à Segunda Guerra Mundial em 1941.
Como lá, ativos vitais das Forças Armadas rivais foram atingidos quando pareciam protegidos numa base distante. Parece evidente que cabeças rolarão em Moscou, e especula-se que o ataque retaliatório russo poderá ser brutal, talvez repetindo o uso do míssil balístico Orechnik, empregado na guerra apenas uma vez.
Do ponto de vista tático, o sucesso operacional novamente prova que os drones vieram para mudar a natureza da guerra. Foram empregados pequenos quadricópteros do tipo FPV (visão em primeira pessoa, na sigla inglesa), armados com uma única carga explosiva.
Em resumo, 117 armamentos que custam menos de R$ 2.500 cada atingiram aviões de dezenas de milhões de dólares. Os pneus colocados sobre asas dos aviões nas bases, que dificultam o sistema de guiagem de drones de longo alcance, foram inúteis.
Além disso, o planejamento foi preciso. Os ucranianos disseram ter contratado motoristas locais que não sabiam o que estavam transportando. Pode ser verdade ou não, mas o fato é que, como em outros ataques a bases aéreas com pequenos drones no ado, a ação ocorreu dentro do território inimigo.
No caso do domingo, bem dentro: as duas bases que registraram danos são bastante distantes da Ucrânia. Olenia, no Ártico, fica a 1.900 km do país vizinho, enquanto Belaia, na Sibéria, fica a 4.300 km. Elas não têm sistemas de hangares reforçados justamente por confiar no seu isolamento.
Os drones estavam escondidos em tetos falsos dos veículos, que abriam por controle remoto e explodiram depois que os aviões-robôs foram lançados.
Do ponto de vista estratégico, ou seja, de impacto de longo prazo, os danos ainda precisam ser determinados, mas tudo indica que a frota de bombardeiros de longo alcance de Putin foi duramente afetada.
Segundo um analista militar russo disse à reportagem, até 20% da força pode ter sido perdida. Isso é uma enormidade, algo nunca registrado -aviões começaram a ser empregados com fins bélicos na Guerra Ítalo-Turca em 1911.
No domingo, o serviço secreto ucraniano falou em 41 aviões atingidos, o que equivaleria a 31% dos bombardeiros rivais. Nesta segunda, o Escritório contra Desinformação em Kiev disse que só tinha confirmação da destruição de 13 aviões, o que daria 10% da frota, além de um número incerto de danificados.
Qualquer cenário é desastroso para os russos. As bases em questão abrigavam o esteio da força de bombardeiros, o quadrimotor turboélice Tu-95MS, e os modelos supersônicos Tu-22M3. Os aviões têm sido usados intensivamente na guerra, participando dos ataques em ondas contra a Ucrânia.
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Eles lançam seus mísseis de cruzeiro de dentro do espaço aéreo russo, evitando o risco de abate. Com efeito, até aqui o site de monitoramento de perdas militares Oryx só contava cinco Tu-22 derrubados e um Tu-95 danificado em solo até aqui.
A Rússia operava na virada do ano, segundo o britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, 58 Tu-95 e outros 58 Tu-22, mas é incerto quantos estavam de fato em condição de voo.
O terceiro modelo de bombardeio de Moscou é o poderoso Tu-160, maior supersônico do mundo, que tem 16 unidades em uso. Nenhuma foi atingida no domingo. Todos os três aparelhos podem levar armas nucleares, mas atualmente só o Tu-95 e o Tu-160 são designados para a tarefa.
Adicionando ônus estratégico, há o fato de que nem o Tu-22, nem o Tu-95 são fabricados. Suas versões em uso são modelos modernizados das aeronaves, produzidas na antiga União Soviética.
Além disso, há rumores de que ao menos um avião-radar A-50 foi atingido na ação, de uma frota de menos de dez operacionais. Se for fato, é uma baixa importante, pois essas aeronaves monitoram grandes áreas e coordenam a ação de outros aviões. Dois já foram abatidos nesta guerra iniciada em 2022.
Ao todo, o instituto conta 1.169 aviões de guerra a serviço do Kremlin. O Oryx relata 141 aviões perdidos no conflito pela Força Aérea russa, ante 108 por Kiev.
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