{"@context":"https://schema.org","@type":"NewsArticle","mainEntityOfPage":"/noticias/para/577568/entre-silencios-e-gritos-de-socorro-machismo-e-culpabilizacao-das-vitimas-matam-mulheres-todos-os-dias","headline":"Entre silêncios e gritos de socorro: machismo e culpabilização das vítimas matam mulheres todos os dias","datePublished":"2020-03-11T14:41:49-03:00","dateModified":"2020-03-11T14:47:31-03:00","author":{"@type":"Person","name":"Andressa Ferreira, Enderson Oliveira, Demax Silva e Vicente Crispino","url":"/noticias/para/577568/entre-silencios-e-gritos-de-socorro-machismo-e-culpabilizacao-das-vitimas-matam-mulheres-todos-os-dias"},"image":"/img/Artigo-Destaque/570000/capa_00577568_0_.jpg?xid=1241933","publisher":{"@type":"Organization","name":"DOL","url":"/","logo":"/themes/DOL/img/logoDOL.png","Point":{"@type":"Point","Type":"Customer ","telephone":"+55-91-98412-6477","email":"[email protected]"},"address":{"@type":"PostalAddress","streetAddress":"Rua Gaspar Viana, 773/7","addressLocality":"Belém","addressRegion":"PA","postalCode":"66053-090","addressCountry":"BR"}},"description":"Por que ser mulher se tornou ainda mais difícil no Brasil? Na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher, o DOL apresenta um triste cenário em que o machismo estrutural facilita homens violentos agredirem suas companheiras","articleBody":"\\u0026lt;p\\u0026gt;“Uma vez, ele viu um ex-namorado meu na rua e chegou em casa, pegou uma cruzeta de madeira e quebrou na minha perna. Outra (vez) eu estava com meu filho no colo, ele me empurrou no ch\\u0026#227;o com uma crian\\u0026#231;a de dois meses, ficou um arranh\\u0026#227;ozinho na moleira dele” (sic). O relato chocante \\u0026#233; da advogada V. L. O., 33 anos, m\\u0026#227;e de uma crian\\u0026#231;a de 11 e que pediu para n\\u0026#227;o ser identificada.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Meu ex-marido tentou me atropelar com o nosso filho na garupa de uma bicicleta. Ele avan\\u0026#231;ou com o carro em cima da gente”. O desabafo \\u0026#233; de Eliana Perdig\\u0026#227;o, m\\u0026#227;e de um menino de 9 anos, que hoje atua como ativista de direitos das mulheres.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O que essas mulheres t\\u0026#234;m em comum? Elas foram perseguidas, amedrontadas, coagidas, amea\\u0026#231;adas, culpabilizadas e sofreram diversos tipos de viol\\u0026#234;ncia dentro da pr\\u0026#243;pria casa. S\\u0026#227;o tristes e concretos exemplos de como ser mulher tem sido cada dia mais dif\\u0026#237;cil em uma sociedade em que o machismo \\u0026#233; estrutural, quase institucionalizado.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Se voc\\u0026#234; \\u0026#233; mulher e infelizmente compreende o que falamos at\\u0026#233; agora ou mesmo \\u0026#233; homem, n\\u0026#227;o se incomoda ou considera “mimimi” este debate, prossiga na leitura deste especial, afinal esta realidade est\\u0026#225; mais pr\\u0026#243;xima de voc\\u0026#234; do que pode imaginar.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n \\u0026lt;figure class=\\u0026quot;dol-img-article\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\u0026lt;img loading=\\u0026quot;lazy\\u0026quot; class=\\u0026quot;lozad desk\\u0026quot; alt=\\u0026quot;Entre sil\\u0026amp;#234;ncios e gritos de socorro: machismo e culpabiliza\\u0026amp;#231;\\u0026amp;#227;o das v\\u0026amp;#237;timas matam mulheres todos os dias\\u0026quot; data-src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/Infografico-01_00577568_0_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2FInfografico-01_00577568_0_.jpg%3Fxid%3D1241936%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241936\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/Infografico-01_00577568_0_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2FInfografico-01_00577568_0_.jpg%3Fxid%3D1241936%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241936\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\u0026lt;figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;span\\u0026gt;\\u0026#128247; |\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;strong\\u0026gt;Vicente Crispino/DOL\\u0026lt;/strong\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figure\\u0026gt;\\r\\n\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Segundo a delegada de Pol\\u0026#237;cia Civil, Janice Maia de Aguiar Brito, diretora da Delegacia da Mulher de Bel\\u0026#233;m (DEAM), os primeiros sinais de viol\\u0026#234;ncia em uma rela\\u0026#231;\\u0026#227;o costumam ser os mesmos: ci\\u0026#250;me exagerado, controle excessivo, sentimento de posse, seguidos de ofensas e viol\\u0026#234;ncia.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;‘Muitas mulheres t\\u0026#234;m dificuldade de identificar que est\\u0026#227;o sofrendo viol\\u0026#234;ncia, que est\\u0026#227;o em um relacionamento abusivo, pois a cultura machista e baseada em uma sociedade patriarcal faz parecer normal comportamentos como ci\\u0026#250;me, controle sobre a vida da mulher, suas companhias e at\\u0026#233; roupas”, alerta a delegada.\\u0026amp;nbsp;\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Foi o que aconteceu com V. L. O, que come\\u0026#231;ou a se relacionar com seu agressor quando tinha 21 anos. Ela conta que no in\\u0026#237;cio do namoro ele era atencioso, cuidadoso e nunca demonstrou nenhum comportamento agressivo. Tudo mudou depois que ela engravidou e eles decidiram morar juntos.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O mesmo viveu Eliana. Ela e o companheiro se separaram quando o filho tinha apenas cinco anos. Depois disso, o ex-marido se transformou em algu\\u0026#233;m que ela n\\u0026#227;o conhecia. ou a persegui-la, vigi\\u0026#225;-la, inventar situa\\u0026#231;\\u0026#245;es e at\\u0026#233; procur\\u0026#225;-la em lugares que n\\u0026#227;o frequentava.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;iframe allowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; webkitallowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; mozallowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; width=\\u0026quot;640\\u0026quot; height=\\u0026quot;360\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/ddf6becdb117f378cf06db723585ea78/05c8c4a7b0bf3c94c01dcea05227d2ed\\u0026quot; scrolling=\\u0026quot;no\\u0026quot; frameborder=\\u0026quot;0\\u0026quot; allow=\\u0026quot;geolocation; microphone; camera; encrypted-media; midi\\u0026quot;\\u0026gt;\\u0026lt;/iframe\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Eu nunca apanhei, mas vai machucando mais que um tapa. A agress\\u0026#227;o psicol\\u0026#243;gica te deixa t\\u0026#227;o desestabilizada quanto a viol\\u0026#234;ncia f\\u0026#237;sica. As coisas que ele falava, fazia, me deixava sem rea\\u0026#231;\\u0026#227;o. ‘Vagabunda’ \\u0026#233; a palavra que as mulheres que sofrem viol\\u0026#234;ncia mais ouvem, fica no teu ouvido... Eu escrevi isso na minha parede, para n\\u0026#227;o esquecer e para eu nunca mais voltar para essa pessoa que me desrespeitou dessa forma. Essa palavra eu n\\u0026#227;o tenho como revidar. Eu ia chamar ele de qu\\u0026#234;? De vagabundo tamb\\u0026#233;m?”, questiona ela.\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Graduada em Ci\\u0026#234;ncias Sociais e mestra em Ci\\u0026#234;ncia Pol\\u0026#237;tica pela Universidade Federal do Par\\u0026#225; (UFPA), a professora universit\\u0026#225;ria Karen Santos destaca que essa desigualdade entre mulheres e homens \\u0026#233; um tra\\u0026#231;o presente na maioria das sociedades, inclusive no Brasil, em que por vezes nem \\u0026#233; camuflada.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“S\\u0026#227;o muitos os campos de atua\\u0026#231;\\u0026#227;o no enfrentamento desse panorama desigual. \\u0026#201; um dilema multidimensional, que n\\u0026#227;o deve ser encarado apenas no campo jur\\u0026#237;dico-normativo, \\u0026#233; urgente e necess\\u0026#225;rio a ocupa\\u0026#231;\\u0026#227;o dos espa\\u0026#231;os pol\\u0026#237;ticos e de poder decis\\u0026#243;rio. Hoje por exemplo, as mulheres comp\\u0026#245;em cerca de 52% do col\\u0026#233;gio eleitoral, mas s\\u0026#227;o ainda poucas com cargos eletivos. As mulheres est\\u0026#227;o presentes nesses espa\\u0026#231;os, mas muitas vezes como coadjuvantes o que favorece a perpetua\\u0026#231;\\u0026#227;o de pol\\u0026#237;ticas p\\u0026#250;blicas que tendem a invisibilizar os dilemas de g\\u0026#234;nero que causam impactos significativos nas subjetividades das mulheres”, explica.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n \\u0026lt;figure class=\\u0026quot;dol-img-article\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\u0026lt;img loading=\\u0026quot;lazy\\u0026quot; class=\\u0026quot;lozad desk\\u0026quot; alt=\\u0026quot;“A viol\\u0026amp;#234;ncia contra a mulher \\u0026amp;#233; um das consequ\\u0026amp;#234;ncia da discrimina\\u0026amp;#231;\\u0026amp;#227;o de g\\u0026amp;#234;nero, do machismo e sexismo”, afirma Karen Santos.\\u0026quot; data-src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/karen-santos_00577568_1_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2Fkaren-santos_00577568_1_.jpg%3Fxid%3D1241937%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241937\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/karen-santos_00577568_1_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2Fkaren-santos_00577568_1_.jpg%3Fxid%3D1241937%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241937\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\u0026lt;figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;span\\u0026gt;\\u0026#128247; “A viol\\u0026amp;#234;ncia contra a mulher \\u0026amp;#233; um das consequ\\u0026amp;#234;ncia da discrimina\\u0026amp;#231;\\u0026amp;#227;o de g\\u0026amp;#234;nero, do machismo e sexismo”, afirma Karen Santos. |\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;strong\\u0026gt;Diogo Miranda/ Arquivo pessoal\\u0026lt;/strong\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figure\\u0026gt;\\r\\n\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Neste complexo panorama, V. L. O foi agredida diversas vezes. A maioria delas durante a gravidez. “(Seu ex-companheiro) j\\u0026#225; pegou minha cabe\\u0026#231;a dando na parede durante a gravidez, j\\u0026#225; tentou arrancar com o carro quando eu ia descer. Meu filho parou de se mexer na minha barriga quando estava com dois meses. Eu tive que ir para o hospital para saber se ele estava bem e o m\\u0026#233;dico explicou que tudo o que eu sentia, a forma de me recolher, de me isolar, era a mesma rea\\u0026#231;\\u0026#227;o que ele estava tendo”, conta ela.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O n\\u0026#250;mero de casos de viol\\u0026#234;ncia contra a mulher vem crescendo ao longo dos \\u0026#250;ltimos anos, acompanhando o plano pol\\u0026#237;tico de culpabiliza\\u0026#231;\\u0026#227;o da v\\u0026#237;tima e a naturaliza\\u0026#231;\\u0026#227;o desse tipo de viol\\u0026#234;ncia.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;De acordo com Karen Santos, o entendimento do perfil da viol\\u0026#234;ncia feminina ajuda a garantir que pol\\u0026#237;ticas p\\u0026#250;blicas voltadas para a prote\\u0026#231;\\u0026#227;o dessa popula\\u0026#231;\\u0026#227;o sejam efetivas.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“A viol\\u0026#234;ncia contra a mulher no ambiente dom\\u0026#233;stico e nos espa\\u0026#231;os p\\u0026#250;blicos \\u0026#233; uma das consequ\\u0026#234;ncias da discrimina\\u0026#231;\\u0026#227;o de g\\u0026#234;nero, do machismo e sexismo, sendo reflexo de um cen\\u0026#225;rio de coa\\u0026#231;\\u0026#227;o e opress\\u0026#227;o, por isso, o foco do enfrentamento deve ter como frente de atua\\u0026#231;\\u0026#227;o pol\\u0026#237;ticas p\\u0026#250;blicas preventivas e a\\u0026#231;\\u0026#245;es afirmativas que tenham como prop\\u0026#243;sito diminuir as desigualdades de g\\u0026#234;nero, garantindo igualdade de oportunidade e tratamento entre mulheres e homens”, pondera.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para Gabrielle Mau\\u0026#233;s e B\\u0026#225;rbara Tuanni, vice-presidenta e integrante, respectivamente, da Comiss\\u0026#227;o da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Par\\u0026#225; (OAB/PA), amparados no discurso de pol\\u0026#237;ticos do alto escal\\u0026#227;o, inclusive o Presidente da Rep\\u0026#250;blica, os homens se sentem livres para exercer uma l\\u0026#243;gica hierarquizada de poder sobre as mulheres, por meio da viol\\u0026#234;ncia.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n \\u0026lt;figure class=\\u0026quot;dol-img-article\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\u0026lt;img loading=\\u0026quot;lazy\\u0026quot; class=\\u0026quot;lozad desk\\u0026quot; alt=\\u0026quot;Entre sil\\u0026amp;#234;ncios e gritos de socorro: machismo e culpabiliza\\u0026amp;#231;\\u0026amp;#227;o das v\\u0026amp;#237;timas matam mulheres todos os dias\\u0026quot; data-src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/Infografico-02_00577568_2_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2FInfografico-02_00577568_2_.jpg%3Fxid%3D1241938%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241938\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/Infografico-02_00577568_2_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2FInfografico-02_00577568_2_.jpg%3Fxid%3D1241938%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241938\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\u0026lt;figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;span\\u0026gt;\\u0026#128247; |\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;strong\\u0026gt;Vicente Crispino/ DOL\\u0026lt;/strong\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figure\\u0026gt;\\r\\n\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“O desmonte de pol\\u0026#237;ticas p\\u0026#250;blicas voltadas para as mulheres, como a redu\\u0026#231;\\u0026#227;o sistem\\u0026#225;tica de recursos de programas federais de enfrentamento \\u0026#224; viol\\u0026#234;ncia, tamb\\u0026#233;m impacta nesse aumento, pois se as v\\u0026#237;timas n\\u0026#227;o se sentem suficientemente seguras e acolhidas, n\\u0026#227;o ir\\u0026#227;o denunciar e os agressores ir\\u0026#227;o continuar praticando a viol\\u0026#234;ncia, que normalmente vai se agravando at\\u0026#233; culminar no feminic\\u0026#237;dio (ou na tentativa)”, alertam as representantes da OAB/PA.\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Inseguran\\u0026#231;a, falta de sensibilidade e treinamento durante o acolhimento e empatia at\\u0026#233; mesmo por parte de profissionais que deveriam estar preparados para lidar com as v\\u0026#237;timas de viol\\u0026#234;ncia foi o que fizeram V. L. O se sentir ainda mais sozinha, sem ter com quem contar, sem sa\\u0026#237;da.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para V. L. O, um dos piores sentimentos foi se sentir culpabilizada pela viol\\u0026#234;ncia sofrida. “O psiquiatra queria responsabilizar e atribuir a mim todo o comportamento do agressor. Era muito conveniente para o m\\u0026#233;dico me manter nesta situa\\u0026#231;\\u0026#227;o, n\\u0026#227;o intervir. Era mais dinheiro. Cada vez mais eu me via nas m\\u0026#227;os de profissionais que n\\u0026#227;o estavam de fato preocupados em me ajudar”. Os absurdos, no entanto, n\\u0026#227;o pararam por a\\u0026#237;.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Hoje advogada, ela sentiu novamente o peso do vazio do desamparo ap\\u0026#243;s ser agredida mais uma vez e procurar a Delegacia da Mulher em uma virada de ano.\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Era fim de ano e eles estavam confraternizando. Tive que esperar todo aquele momento. Quando fui atendida, n\\u0026#227;o foi nem por uma delegada, acredito que tenha sido por uma escriv\\u0026#227;. Embora eu tivesse relatado tudo o que eu ei, ela tentou minimizar a situa\\u0026#231;\\u0026#227;o porque ele tinha feito um esc\\u0026#226;ndalo na porta da minha casa, na frente da minha fam\\u0026#237;lia toda, ela quis se ater apenas a essa situa\\u0026#231;\\u0026#227;o isolada e registrou como perturba\\u0026#231;\\u0026#227;o ao sossego alheio, como se ele tivesse fazendo uma algazarra na porta da minha casa e n\\u0026#227;o representasse nenhum risco para mim. Fui para casa extremamente frustrada, sabendo que isso n\\u0026#227;o iria causar nenhum impacto efetivo no comportamento dele comigo”, relembra.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;iframe allowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; webkitallowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; mozallowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; width=\\u0026quot;640\\u0026quot; height=\\u0026quot;360\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/ddf6becdb117f378cf06db723585ea78/bddd891ec6019f28d0859c788c353f6a\\u0026quot; scrolling=\\u0026quot;no\\u0026quot; frameborder=\\u0026quot;0\\u0026quot; allow=\\u0026quot;geolocation; microphone; camera; encrypted-media; midi\\u0026quot;\\u0026gt;\\u0026lt;/iframe\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para as representantes da OAB/PA, al\\u0026#233;m dos motivos individuais e sociais de cada caso, como depend\\u0026#234;ncia e rela\\u0026#231;\\u0026#227;o pr\\u0026#233;via de afeto com o agressor, existe ainda a naturaliza\\u0026#231;\\u0026#227;o do comportamento violento e o medo da den\\u0026#250;ncia n\\u0026#227;o gerar o resultado esperado, de prote\\u0026#231;\\u0026#227;o e seguran\\u0026#231;a.\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“\\u0026#201; por isso que precisamos combater o machismo na sociedade. Achar que gritos, ofensas, a agressividade com o outro s\\u0026#227;o comportamentos naturais do masculino, e n\\u0026#227;o um tipo de viol\\u0026#234;ncia e agress\\u0026#227;o, precisa ser uma vis\\u0026#227;o combatida. Tem tamb\\u0026#233;m o medo do agressor punir aquela mulher ap\\u0026#243;s a den\\u0026#250;ncia, o medo da den\\u0026#250;ncia n\\u0026#227;o receber o cr\\u0026#233;dito necess\\u0026#225;rio por parte da sociedade e da v\\u0026#237;tima ser exclu\\u0026#237;da de determinados ambientes que eram comuns a ela, o medo dos marcadores de ra\\u0026#231;a e classe fazerem com que o agressor fique impune, e at\\u0026#233; o medo do sistema policial e judici\\u0026#225;rio, que est\\u0026#227;o inseridos no contexto patriarcal da sociedade e nem sempre est\\u0026#227;o preparados para lidar com a viol\\u0026#234;ncia contra a mulher, ao n\\u0026#227;o tratar de forma respeitosa e com acolhimento a v\\u0026#237;tima, ou dar o e psicol\\u0026#243;gico, social, e de seguran\\u0026#231;a, que a mulher, e aqueles que dela dependem, precisam”, enfatizam Gabrielle Mau\\u0026#233;s e B\\u0026#225;rbara Tuanni.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Karen Santos, que tamb\\u0026#233;m \\u0026#233; coordenadora do projeto de Inicia\\u0026#231;\\u0026#227;o Cient\\u0026#237;fica e Extens\\u0026#227;o “Rede de enfrentamento a viol\\u0026#234;ncia contra a mulher, a perspectiva da justi\\u0026#231;a no Estado do Par\\u0026#225;” na Faculdade Est\\u0026#225;cio Par\\u0026#225;, destaca que tamb\\u0026#233;m \\u0026#233; preciso transformar mentalidades e valores dos operadores jur\\u0026#237;dicos, com forma\\u0026#231;\\u0026#245;es e aperfei\\u0026#231;oamentos na conduta dos agentes policiais.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Os desafios institucionais se apresentam de diversas formas para criar essa sensibilidade que culturalmente est\\u0026#225; distante das delegacias. A Comiss\\u0026#227;o Parlamentar Mista de Inqu\\u0026#233;rito (MI) no Congresso Nacional para investigar, entre outras quest\\u0026#245;es, den\\u0026#250;ncias de omiss\\u0026#227;o por parte do poder p\\u0026#250;blico com rela\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#224; aplica\\u0026#231;\\u0026#227;o dos instrumentos legais de prote\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#224;s mulheres em situa\\u0026#231;\\u0026#227;o de viol\\u0026#234;ncia, constatou v\\u0026#225;rios casos precisavam ser denunciados em distritos policiais comuns, onde os agentes e delegados n\\u0026#227;o t\\u0026#234;m sensibilidade nem treinamento para acolher as mulheres. Muitas vezes, o depoimento era marcado para v\\u0026#225;rios dias mais tarde, o que deixava as v\\u0026#237;timas sujeitas a novos ataques”, aponta.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n \\u0026lt;figure class=\\u0026quot;dol-img-article\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\u0026lt;img loading=\\u0026quot;lazy\\u0026quot; class=\\u0026quot;lozad desk\\u0026quot; alt=\\u0026quot;“A mulher ainda \\u0026amp;#233; v\\u0026amp;#237;tima de viol\\u0026amp;#234;ncia por causa da vis\\u0026amp;#227;o machista que ainda existe de que a mulher \\u0026amp;#233; um objeto \\u0026amp;#224; disposi\\u0026amp;#231;\\u0026amp;#227;o”, afirma a delegada Janice Maia de Aguiar\\u0026quot; data-src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/janice-aguiar_00577568_3_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2Fjanice-aguiar_00577568_3_.jpg%3Fxid%3D1241939%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241939\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/janice-aguiar_00577568_3_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2Fjanice-aguiar_00577568_3_.jpg%3Fxid%3D1241939%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241939\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\u0026lt;figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;span\\u0026gt;\\u0026#128247; “A mulher ainda \\u0026amp;#233; v\\u0026amp;#237;tima de viol\\u0026amp;#234;ncia por causa da vis\\u0026amp;#227;o machista que ainda existe de que a mulher \\u0026amp;#233; um objeto \\u0026amp;#224; disposi\\u0026amp;#231;\\u0026amp;#227;o”, afirma a delegada Janice Maia de Aguiar |\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;strong\\u0026gt;Arquivo pessoal\\u0026lt;/strong\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figure\\u0026gt;\\r\\n\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;A diretora da Delegacia da Mulher de Bel\\u0026#233;m (DEAM) destaca que, apesar do avan\\u0026#231;o na legisla\\u0026#231;\\u0026#227;o de prote\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#224; mulher, como a Lei Maria da Penha e com os novos tipos penais de importuna\\u0026#231;\\u0026#227;o sexual e feminic\\u0026#237;dio, “a cultura machista \\u0026#233; muito forte e muito dif\\u0026#237;cil de ser mudada de uma hora para outra”, sendo importante a realiza\\u0026#231;\\u0026#227;o de campanhas que “disseminam orienta\\u0026#231;\\u0026#245;es para a popula\\u0026#231;\\u0026#227;o como instrumentos de conscientiza\\u0026#231;\\u0026#227;o dos direitos das mulheres”.\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026#201; POSS\\u0026#205;VEL MUDAR?\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Foi denunciando, buscando a Justi\\u0026#231;a, atr\\u0026#225;s de medidas protetivas e o acompanhamento da Patrulha Maria da Penha, que Eliana Perdig\\u0026#227;o conseguiu reagir.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ap\\u0026#243;s ficar deitada em uma rede por mais de 24 horas depressiva, sem nem ao menos conseguir comer, Eliana viu que precisava reagir por ela e pelo filho, que na \\u0026#233;poca tinha cinco anos. “Eu falei: ‘caramba, se eu ficar aqui eu vou morrer e quem vai cuidar do meu filho?’. E reagi. Mesmo com medo das amea\\u0026#231;as que eu sofria, eu n\\u0026#227;o podia continuar assim, pelo meu filho. E eu sei que a maioria das mulheres, quando elas lutam, reagem, \\u0026#233; pelo mesmo motivo” (sic).\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Foi tamb\\u0026#233;m pelo filho que V. L. O reagiu. Ela conta que sempre foi uma mulher muito forte e que se sentia envergonhada por n\\u0026#227;o conseguir dar um fim \\u0026#224; viol\\u0026#234;ncia. Incans\\u0026#225;vel, n\\u0026#227;o parou de lutar at\\u0026#233; as medidas protetivas sa\\u0026#237;rem. No entanto, nem isso intimidou o agressor, que a amea\\u0026#231;ou dentro do f\\u0026#243;rum criminal, onde ela estagiava.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Ele entrou para perseguir, amea\\u0026#231;ar e me imprensou dentro do f\\u0026#243;rum criminal, na parede. Meu chefe apareceu, o guarda apareceu. Ele tentou dissimular o que estava acontecendo e n\\u0026#227;o parou por a\\u0026#237;. Eu cheguei na parada de \\u0026#244;nibus para ir para casa e quando eu vi ele estava atr\\u0026#225;s de mim. Dava uma fraqueza nas pernas, eu tinha a sensa\\u0026#231;\\u0026#227;o que ia cair, n\\u0026#227;o sei de onde tirei for\\u0026#231;as para sair fazendo um esc\\u0026#226;ndalo”, relembra ela.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Foi tamb\\u0026#233;m depois de persegui\\u0026#231;\\u0026#245;es presencialmente e nas redes sociais, que Eliana conheceu as hist\\u0026#243;rias de viol\\u0026#234;ncia contra outras mulheres e decidiu fazer a diferen\\u0026#231;a.\\u0026amp;nbsp;\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Eu comecei a me incomodar quando estava sentada para fazer um novo BO e ouvia o relato de outras mulheres. Eu sentava, conversava, ia ouvir o que elas estavam falando, ia dar uma palavra. Essas outras mulheres me estimularam a procurar, saber respostas, e isso come\\u0026#231;ou a virar um trabalho, digamos assim. Eu comecei a me envolver com elas e eu n\\u0026#227;o consigo fazer diferente porque eu sei a dor que elas sentem. \\u0026#201; diferente de quem s\\u0026#243; vai l\\u0026#225; para saber e realmente n\\u0026#227;o sabe o quanto d\\u0026#243;i, at\\u0026#233; onde d\\u0026#243;i, as dificuldades. Eu sei tudo. Eu fico ali ouvindo e depois eu digo, eu sei tudo que voc\\u0026#234; est\\u0026#225; sentindo porque eu senti igual”, explica Perdig\\u0026#227;o.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;iframe allowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; webkitallowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; mozallowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; width=\\u0026quot;640\\u0026quot; height=\\u0026quot;360\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/ddf6becdb117f378cf06db723585ea78/7622b7d2bc86d6d5fd47e4cc03f27732\\u0026quot; scrolling=\\u0026quot;no\\u0026quot; frameborder=\\u0026quot;0\\u0026quot; allow=\\u0026quot;geolocation; microphone; camera; encrypted-media; midi\\u0026quot;\\u0026gt;\\u0026lt;/iframe\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para as representantes da OAB/PA, ajudar e ensinar as mulheres sobre seus direitos atrav\\u0026#233;s da discuss\\u0026#227;o sobre o machismo \\u0026#233; fator fundamental para entender que comportamentos agressivos, ainda que fora do aspecto f\\u0026#237;sico, constituem viol\\u0026#234;ncia contra a mulher e n\\u0026#227;o devem ser tolerados.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Nesse contexto, o feminismo surge como ferramenta principal, pois a teoria feminista nos proporciona instrumentos para enfrentar a socializa\\u0026#231;\\u0026#227;o que temos desde crian\\u0026#231;as, auxiliando no combate aos estere\\u0026#243;tipos de g\\u0026#234;nero, que fundamentam a viol\\u0026#234;ncia contra a mulher”, explicam.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para Gabrielle Mau\\u0026#233;s e B\\u0026#225;rbara Tuanni, a informa\\u0026#231;\\u0026#227;o tamb\\u0026#233;m ajuda na propaga\\u0026#231;\\u0026#227;o do conhecimento sobre direitos, como, onde para quem a v\\u0026#237;tima deve fazer a den\\u0026#250;ncia e, quais os deveres que o Estado tem para prote\\u0026#231;\\u0026#227;o.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“N\\u0026#227;o \\u0026#233; hoje que ser mulher tem sido dif\\u0026#237;cil. N\\u0026#227;o \\u0026#233; preciso sair na rua para sofrer ass\\u0026#233;dio ou viol\\u0026#234;ncia. Como \\u0026#233; uma mudan\\u0026#231;a estrutural, nossas institui\\u0026#231;\\u0026#245;es, desde a fam\\u0026#237;lia ao Estado, a sociedade, as comunidades e os indiv\\u0026#237;duos precisam repensar a educa\\u0026#231;\\u0026#227;o, o comportamento machista, racista e classista que h\\u0026#225; gera\\u0026#231;\\u0026#245;es vem sendo reproduzido. \\u0026#201; uma luta \\u0026#225;rdua, e permanente, das mulheres, j\\u0026#225; que a constru\\u0026#231;\\u0026#227;o hist\\u0026#243;rica da nossa sociedade foi baseada em paradigmas de opress\\u0026#227;o”, enfatizam as representantes da OAB/PA.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n \\u0026lt;figure class=\\u0026quot;dol-img-article\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\u0026lt;img loading=\\u0026quot;lazy\\u0026quot; class=\\u0026quot;lozad desk\\u0026quot; alt=\\u0026quot;Entre sil\\u0026amp;#234;ncios e gritos de socorro: machismo e culpabiliza\\u0026amp;#231;\\u0026amp;#227;o das v\\u0026amp;#237;timas matam mulheres todos os dias\\u0026quot; data-src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/eliana-perdigao_00577568_4_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2Feliana-perdigao_00577568_4_.jpg%3Fxid%3D1241940%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241940\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/eliana-perdigao_00577568_4_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2Feliana-perdigao_00577568_4_.jpg%3Fxid%3D1241940%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241940\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\u0026lt;figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;span\\u0026gt;\\u0026#128247; |\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;strong\\u0026gt;Arquivo Pessoal\\u0026lt;/strong\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figure\\u0026gt;\\r\\n\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Apesar da visibilidade, dados revelam subnotifica\\u0026#231;\\u0026#227;o dos casos de viol\\u0026#234;ncia contra a mulher. Segundo o Atlas da Viol\\u0026#234;ncia 2019, do Instituto de Pesquisa Econ\\u0026#244;mica Aplicada (Ipea), 4.936 mulheres foram assassinadas em 2017, maior n\\u0026#250;mero j\\u0026#225; registrado em 10 anos.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ainda segundo dados do Ipea, no Par\\u0026#225;, a taxa de viol\\u0026#234;ncia \\u0026#233; de 7,6 para cada 100 mil mulheres. “O levantamento de \\u0026#237;ndices sobre a viol\\u0026#234;ncia contra a mulher no Par\\u0026#225; \\u0026#233; uma tarefa dif\\u0026#237;cil, em raz\\u0026#227;o da aus\\u0026#234;ncia de dados sistematizados no estado, no qual somente 18,7% dos munic\\u0026#237;pios possuem \\u0026#243;rg\\u0026#227;os do executivo voltados \\u0026#224;s pol\\u0026#237;ticas para mulheres, contra 25% no ano de 2013. Apenas 27 das 144 cidades contam com servi\\u0026#231;os de atendimento espec\\u0026#237;fico para mulheres, conforme dados do IBGE”, destacam as representantes da OAB/PA.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O enfrentamento da viol\\u0026#234;ncia contra a mulher exige pol\\u0026#237;ticas p\\u0026#250;blicas para que o problema de fato seja monitorado e a\\u0026#231;\\u0026#245;es efetivas de prote\\u0026#231;\\u0026#227;o as v\\u0026#237;timas.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para a professora Karen Santos, o ac\\u0026#250;mulo de processos e as demandas civis n\\u0026#227;o atendidas fragilizam a prote\\u0026#231;\\u0026#227;o das mulheres v\\u0026#237;timas de viol\\u0026#234;ncia. Ela destaca que as pol\\u0026#237;ticas p\\u0026#250;blicas de enfrentamento precisam n\\u0026#227;o s\\u0026#243; mudar, como serem constantemente monitoradas.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Deve-se reconhecer que algum esfor\\u0026#231;o tem sido empreendido no sentido de capacitar os profissionais envolvidos na aplica\\u0026#231;\\u0026#227;o da lei, de desenvolver projetos variados de atendimento (inclusive para autores de viol\\u0026#234;ncia). Contudo, como dilema multidimensional existem dificuldades para concretizar os dispositivos da Lei Maria da Penha. Mesmo aqueles ju\\u0026#237;zes que defendem a aplica\\u0026#231;\\u0026#227;o da lei e se esfor\\u0026#231;am em incorporar uma vis\\u0026#227;o diferente, esbarram nos limites objetivos – excesso de processos, escassez de pessoal, necessidade de obedecer aos ritos e c\\u0026#243;digos penais, cobran\\u0026#231;a por celeridade e produtividade – e subjetivos – o valor da fam\\u0026#237;lia como ente a ser preservado a qualquer custo, os pap\\u0026#233;is esperados das mulheres na sociedade, a incompreens\\u0026#227;o sobre o ciclo da viol\\u0026#234;ncia dom\\u0026#233;stica. A preven\\u0026#231;\\u0026#227;o de novos casos de viol\\u0026#234;ncia contra a mulher esbarra na mentalidade coletiva e, \\u0026#233; esse ponto de transforma\\u0026#231;\\u0026#227;o que devemos buscar enquanto sociedade brasileira e paraense”, sugere.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;COMO ROMPER O CICLO DE VIOL\\u0026#202;NCIA?\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;O medo de n\\u0026#227;o obter \\u0026#234;xito na den\\u0026#250;ncia, de sofrer repres\\u0026#225;lias do agressor, de n\\u0026#227;o se sentirem acolhidas para enfrentar o estigma social e a revitimiza\\u0026#231;\\u0026#227;o experimentada no processo da den\\u0026#250;ncia s\\u0026#227;o alguns dos aspectos que fazem com que muitas v\\u0026#237;timas n\\u0026#227;o consigam romper o ciclo da viol\\u0026#234;ncia.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para as representantes da Comiss\\u0026#227;o da Mulher Advogada da OAB/PA, as mudan\\u0026#231;as precisam ser pensadas para esta e para as pr\\u0026#243;ximas gera\\u0026#231;\\u0026#245;es de forma cont\\u0026#237;nua ou cada vez mais mulheres ser\\u0026#227;o v\\u0026#237;timas, ter\\u0026#227;o seus direitos e corpos violados, e sonhos aprisionados.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“A mudan\\u0026#231;a vem primeiro com o reconhecimento de que a nossa sociedade hoje inflige sobre a mulher essa s\\u0026#233;rie de viol\\u0026#234;ncias, que como uma sociedade patriarcal monitoramos comportamentos, a\\u0026#231;\\u0026#245;es e at\\u0026#233; planos de vida, que a liberdade e a autonomia dessa mulher s\\u0026#227;o comprometidas, e que ao garantir direitos, responsabilizar agressores, e educar a sociedade para mudan\\u0026#231;a de paradigmas n\\u0026#243;s caminharemos para uma sociedade mais equ\\u0026#226;nime e menos violenta”, destacam Gabrielle Mau\\u0026#233;s e B\\u0026#225;rbara Tuanni.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para proteger de fato as v\\u0026#237;timas de viol\\u0026#234;ncia, Karen Santos enfatiza a necessidade da presen\\u0026#231;a do Estado agindo como ator transformador, atrav\\u0026#233;s do sistema de puni\\u0026#231;\\u0026#227;o efetivo.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“N\\u0026#227;o apenas gera mais seguran\\u0026#231;a como cria uma expectativa de realiza\\u0026#231;\\u0026#227;o plena da justi\\u0026#231;a. Tamb\\u0026#233;m \\u0026#233; necess\\u0026#225;rio focar na outra ponta do problema, que \\u0026#233; a cultura arraigada do machismo e patriarcado na sociedade brasileira. Um estudo feito em 2019, pelo Conselho Nacional de Justi\\u0026#231;a sobre o poder judici\\u0026#225;rio no enfrentamento \\u0026#224; viol\\u0026#234;ncia dom\\u0026#233;stica e familiar contra a mulher destaca que existe uma percep\\u0026#231;\\u0026#227;o pelo poder judici\\u0026#225;rio das varia\\u0026#231;\\u0026#245;es que afetam desde entendimentos sobre os princ\\u0026#237;pios do Direito Penal at\\u0026#233; o papel do Judici\\u0026#225;rio e dos ju\\u0026#237;zes, ando por concep\\u0026#231;\\u0026#245;es e valores ligados \\u0026#224;s rela\\u0026#231;\\u0026#245;es de g\\u0026#234;nero. Ou seja, \\u0026#233; preciso ir al\\u0026#233;m das a\\u0026#231;\\u0026#245;es repressivas contra os agressores e focar em a\\u0026#231;\\u0026#245;es educativas”, aponta.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para se ter uma ideia, segundo dados da Organiza\\u0026#231;\\u0026#227;o Pan-Americana de Sa\\u0026#250;de de 2017 apontam que 42% das mulheres v\\u0026#237;timas por parte do parceiro relatam les\\u0026#245;es como consequ\\u0026#234;ncia da viol\\u0026#234;ncia. Al\\u0026#233;m das marcas f\\u0026#237;sicas, permanecem tamb\\u0026#233;m os traumas psicol\\u0026#243;gicos, como os que V. L. O. carregou por muito tempo.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n\\r\\n \\r\\n\\r\\n\\r\\n \\u0026lt;figure class=\\u0026quot;dol-img-article\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\r\\n \\u0026lt;img loading=\\u0026quot;lazy\\u0026quot; class=\\u0026quot;lozad desk\\u0026quot; alt=\\u0026quot;Entre sil\\u0026amp;#234;ncios e gritos de socorro: machismo e culpabiliza\\u0026amp;#231;\\u0026amp;#227;o das v\\u0026amp;#237;timas matam mulheres todos os dias\\u0026quot; data-src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/Infografico-03_00577568_5_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2FInfografico-03_00577568_5_.jpg%3Fxid%3D1241941%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241941\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://cdn.dol-br.noticiasalagoanas.com/img/inline/570000/767x0/Infografico-03_00577568_5_.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.dol-br.noticiasalagoanas.com%2Fimg%2Finline%2F570000%2FInfografico-03_00577568_5_.jpg%3Fxid%3D1241941%26resize%3D380%252C200%26t%3D1748592388\\u0026amp;amp;xid=1241941\\u0026quot;\\u0026gt;\\r\\n\\r\\n \\r\\n \\u0026lt;figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;span\\u0026gt;\\u0026#128247; |\\u0026lt;/span\\u0026gt;\\u0026lt;strong\\u0026gt;Vicente Crispino/DOL\\u0026lt;/strong\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figcaption\\u0026gt;\\r\\n \\u0026lt;/figure\\u0026gt;\\r\\n\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Eu ei anos da minha vida andando olhando para tr\\u0026#225;s achando que eu estava sendo seguida, eu ei a evitar determinados lugares em que eu achasse que iria encontrar. Quando comecei a sair novamente, tinha que estar acompanhada sempre uma figura masculina para de me manter segura”.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para as especialistas da Delegacia da Mulher de Bel\\u0026#233;m e da OAB/PA, a cultura do estupro, do ass\\u0026#233;dio, da viol\\u0026#234;ncia est\\u0026#227;o relacionadas \\u0026#224; cultura machista. Por isso, \\u0026#233; fundamental lutar para mudar este paradigma.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“Somente \\u0026#233; poss\\u0026#237;vel com orienta\\u0026#231;\\u0026#227;o e instru\\u0026#231;\\u0026#227;o, principalmente nas escolas, \\u0026#233; preciso que essa orienta\\u0026#231;\\u0026#227;o seja constante, inclusive essa orienta\\u0026#231;\\u0026#227;o \\u0026#233; uma diretriz prevista no artigo 8\\u0026#186; da Lei Maria da Penha”, aponta a delegada Janice Brito.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Gabrielle Mau\\u0026#233;s e B\\u0026#225;rbara Tuanni enfatizam que para mudar a cultura \\u0026#233; preciso rever os comportamentos naturalizados na sociedade que “fazem com que as mulheres sejam vulnerabilizadas e tenham direitos cerceados, como o direito de ir e vir, a liberdade de a\\u0026#231;\\u0026#227;o e pensamento, o direito a educa\\u0026#231;\\u0026#227;o, a seguran\\u0026#231;a, e o direito sobre seu pr\\u0026#243;prio corpo”.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;iframe allowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; webkitallowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; mozallowfullscreen=\\u0026quot;\\u0026quot; width=\\u0026quot;640\\u0026quot; height=\\u0026quot;360\\u0026quot; src=\\u0026quot;https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/ddf6becdb117f378cf06db723585ea78/c0b1bc5ab87c92804f074b720e3e44a6\\u0026quot; scrolling=\\u0026quot;no\\u0026quot; frameborder=\\u0026quot;0\\u0026quot; allow=\\u0026quot;geolocation; microphone; camera; encrypted-media; midi\\u0026quot;\\u0026gt;\\u0026lt;/iframe\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para Eliana Perdig\\u0026#227;o, a \\u0026#250;nica forma de enfrentar o agressor e permanecer viva \\u0026#233; reagindo. “N\\u0026#227;o se calem. 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Eu estava vendo a minha vida ir embora e eu optei por mim”.\\u0026amp;nbsp;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;COMO E ONDE DENUNCIAR?\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;•\\tTodas as delegacias no Brasil podem registrar boletim de ocorr\\u0026#234;ncia por viol\\u0026#234;ncia contra a mulher, crime amparado pela Lei Maria da Penha. Pol\\u0026#237;cia: 190.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;•\\tCaso se sinta mais confort\\u0026#225;vel, busque uma Delegacia da Mulher, que fica localizada na Travessa Mauriti, n\\u0026#176; 2.394, entre 25 de setembro e Duque de Caxias, Bel\\u0026#233;m. Em Ananindeua, deve-se procurar a Travessa WE 31, n\\u0026#176; 1.112, Conjunto Cidade Nova 5. Tamb\\u0026#233;m \\u0026#233; poss\\u0026#237;vel pedir uma medida protetiva de urg\\u0026#234;ncia em qualquer delegacia. O pedido, no entanto, ainda ser\\u0026#225; avaliado por um juiz.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;•\\tDemais den\\u0026#250;ncias podem ser feitas pela Central de Atendimento \\u0026#224; Mulher em Viol\\u0026#234;ncia: Disque 180. O n\\u0026#250;mero funciona todos os dias da semana, inclusive feriados, 24h.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;•\\tNo caso de viol\\u0026#234;ncia obst\\u0026#233;trica, entre em contato com o Disque Sa\\u0026#250;de 136.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;• Voc\\u0026#234; tamb\\u0026#233;m pode utilizar o aplicativo m\\u0026#243;vel da \\u0026quot;SOS Patrulha Maria da Penha\\u0026quot;, dispon\\u0026#237;vel para Android e IOS. L\\u0026#225; \\u0026#233; poss\\u0026#237;vel pedir ajuda e tamb\\u0026#233;m obter todas as informa\\u0026#231;\\u0026#245;es sobre a Lei Maria da Penha.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Reportagem: \\u0026lt;a href=\\u0026quot;https://www.instagram.com/maedobenicio_/\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Andressa Ferreira\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Dire\\u0026#231;\\u0026#227;o e edi\\u0026#231;\\u0026#227;o:\\u0026lt;/b\\u0026gt; \\u0026lt;b\\u0026gt;\\u0026lt;a href=\\u0026quot;https://www.instagram.com/o_enderson_/\\u0026quot; target=\\u0026quot;_blank\\u0026quot;\\u0026gt;Enderson Oliveira\\u0026lt;/a\\u0026gt;\\u0026lt;/b\\u0026gt;\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Capta\\u0026#231;\\u0026#227;o de imagens:\\u0026lt;/b\\u0026gt; RBA TV\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Edi\\u0026#231;\\u0026#227;o de v\\u0026#237;deos:\\u0026lt;/b\\u0026gt; Demax Silva\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Infogr\\u0026#225;ficos:\\u0026lt;/b\\u0026gt; Vicente Crispino\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Coordena\\u0026#231;\\u0026#227;o S\\u0026#234;nior:\\u0026lt;/b\\u0026gt; Ronald Sales\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;b\\u0026gt;Coordena\\u0026#231;\\u0026#227;o Executiva:\\u0026lt;/b\\u0026gt; Mauro Neto\\u0026lt;br\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;","keywords":""}
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REPORTAGEM ESPECIAL

Entre silêncios e gritos de socorro: machismo e culpabilização das vítimas matam mulheres todos os dias

Por que ser mulher se tornou ainda mais difícil no Brasil? Na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher, o DOL apresenta um triste cenário em que o machismo estrutural facilita homens violentos agredirem suas companheiras

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Imagem ilustrativa da notícia Entre silêncios e gritos de socorro: machismo e culpabilização das vítimas matam mulheres todos os dias camera Reprodução

“Uma vez, ele viu um ex-namorado meu na rua e chegou em casa, pegou uma cruzeta de madeira e quebrou na minha perna. Outra (vez) eu estava com meu filho no colo, ele me empurrou no chão com uma criança de dois meses, ficou um arranhãozinho na moleira dele” (sic). O relato chocante é da advogada V. L. O., 33 anos, mãe de uma criança de 11 e que pediu para não ser identificada.

“Meu ex-marido tentou me atropelar com o nosso filho na garupa de uma bicicleta. Ele avançou com o carro em cima da gente”. O desabafo é de Eliana Perdigão, mãe de um menino de 9 anos, que hoje atua como ativista de direitos das mulheres.

O que essas mulheres têm em comum? Elas foram perseguidas, amedrontadas, coagidas, ameaçadas, culpabilizadas e sofreram diversos tipos de violência dentro da própria casa. São tristes e concretos exemplos de como ser mulher tem sido cada dia mais difícil em uma sociedade em que o machismo é estrutural, quase institucionalizado.

Se você é mulher e infelizmente compreende o que falamos até agora ou mesmo é homem, não se incomoda ou considera “mimimi” este debate, prossiga na leitura deste especial, afinal esta realidade está mais próxima de você do que pode imaginar.

Entre silêncios e gritos de socorro: machismo e culpabilização das vítimas matam mulheres todos os dias
📷 |Vicente Crispino/DOL

Segundo a delegada de Polícia Civil, Janice Maia de Aguiar Brito, diretora da Delegacia da Mulher de Belém (DEAM), os primeiros sinais de violência em uma relação costumam ser os mesmos: ciúme exagerado, controle excessivo, sentimento de posse, seguidos de ofensas e violência.

‘Muitas mulheres têm dificuldade de identificar que estão sofrendo violência, que estão em um relacionamento abusivo, pois a cultura machista e baseada em uma sociedade patriarcal faz parecer normal comportamentos como ciúme, controle sobre a vida da mulher, suas companhias e até roupas”, alerta a delegada.

Foi o que aconteceu com V. L. O, que começou a se relacionar com seu agressor quando tinha 21 anos. Ela conta que no início do namoro ele era atencioso, cuidadoso e nunca demonstrou nenhum comportamento agressivo. Tudo mudou depois que ela engravidou e eles decidiram morar juntos.

O mesmo viveu Eliana. Ela e o companheiro se separaram quando o filho tinha apenas cinco anos. Depois disso, o ex-marido se transformou em alguém que ela não conhecia. ou a persegui-la, vigiá-la, inventar situações e até procurá-la em lugares que não frequentava.

“Eu nunca apanhei, mas vai machucando mais que um tapa. A agressão psicológica te deixa tão desestabilizada quanto a violência física. As coisas que ele falava, fazia, me deixava sem reação. ‘Vagabunda’ é a palavra que as mulheres que sofrem violência mais ouvem, fica no teu ouvido... Eu escrevi isso na minha parede, para não esquecer e para eu nunca mais voltar para essa pessoa que me desrespeitou dessa forma. Essa palavra eu não tenho como revidar. Eu ia chamar ele de quê? De vagabundo também?”, questiona ela.

Graduada em Ciências Sociais e mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Pará (UFPA), a professora universitária Karen Santos destaca que essa desigualdade entre mulheres e homens é um traço presente na maioria das sociedades, inclusive no Brasil, em que por vezes nem é camuflada.

“São muitos os campos de atuação no enfrentamento desse panorama desigual. É um dilema multidimensional, que não deve ser encarado apenas no campo jurídico-normativo, é urgente e necessário a ocupação dos espaços políticos e de poder decisório. Hoje por exemplo, as mulheres compõem cerca de 52% do colégio eleitoral, mas são ainda poucas com cargos eletivos. As mulheres estão presentes nesses espaços, mas muitas vezes como coadjuvantes o que favorece a perpetuação de políticas públicas que tendem a invisibilizar os dilemas de gênero que causam impactos significativos nas subjetividades das mulheres”, explica.

“A violência contra a mulher é um das consequência da discriminação de gênero, do machismo e sexismo”, afirma Karen Santos.
📷 “A violência contra a mulher é um das consequência da discriminação de gênero, do machismo e sexismo”, afirma Karen Santos. |Diogo Miranda/ Arquivo pessoal

Neste complexo panorama, V. L. O foi agredida diversas vezes. A maioria delas durante a gravidez. “(Seu ex-companheiro) já pegou minha cabeça dando na parede durante a gravidez, já tentou arrancar com o carro quando eu ia descer. Meu filho parou de se mexer na minha barriga quando estava com dois meses. Eu tive que ir para o hospital para saber se ele estava bem e o médico explicou que tudo o que eu sentia, a forma de me recolher, de me isolar, era a mesma reação que ele estava tendo”, conta ela.

O número de casos de violência contra a mulher vem crescendo ao longo dos últimos anos, acompanhando o plano político de culpabilização da vítima e a naturalização desse tipo de violência.

De acordo com Karen Santos, o entendimento do perfil da violência feminina ajuda a garantir que políticas públicas voltadas para a proteção dessa população sejam efetivas.

“A violência contra a mulher no ambiente doméstico e nos espaços públicos é uma das consequências da discriminação de gênero, do machismo e sexismo, sendo reflexo de um cenário de coação e opressão, por isso, o foco do enfrentamento deve ter como frente de atuação políticas públicas preventivas e ações afirmativas que tenham como propósito diminuir as desigualdades de gênero, garantindo igualdade de oportunidade e tratamento entre mulheres e homens”, pondera.

Para Gabrielle Maués e Bárbara Tuanni, vice-presidenta e integrante, respectivamente, da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Pará (OAB/PA), amparados no discurso de políticos do alto escalão, inclusive o Presidente da República, os homens se sentem livres para exercer uma lógica hierarquizada de poder sobre as mulheres, por meio da violência.

Entre silêncios e gritos de socorro: machismo e culpabilização das vítimas matam mulheres todos os dias
📷 |Vicente Crispino/ DOL

“O desmonte de políticas públicas voltadas para as mulheres, como a redução sistemática de recursos de programas federais de enfrentamento à violência, também impacta nesse aumento, pois se as vítimas não se sentem suficientemente seguras e acolhidas, não irão denunciar e os agressores irão continuar praticando a violência, que normalmente vai se agravando até culminar no feminicídio (ou na tentativa)”, alertam as representantes da OAB/PA.

Insegurança, falta de sensibilidade e treinamento durante o acolhimento e empatia até mesmo por parte de profissionais que deveriam estar preparados para lidar com as vítimas de violência foi o que fizeram V. L. O se sentir ainda mais sozinha, sem ter com quem contar, sem saída.

Para V. L. O, um dos piores sentimentos foi se sentir culpabilizada pela violência sofrida. “O psiquiatra queria responsabilizar e atribuir a mim todo o comportamento do agressor. Era muito conveniente para o médico me manter nesta situação, não intervir. Era mais dinheiro. Cada vez mais eu me via nas mãos de profissionais que não estavam de fato preocupados em me ajudar”. Os absurdos, no entanto, não pararam por aí.

Hoje advogada, ela sentiu novamente o peso do vazio do desamparo após ser agredida mais uma vez e procurar a Delegacia da Mulher em uma virada de ano.

“Era fim de ano e eles estavam confraternizando. Tive que esperar todo aquele momento. Quando fui atendida, não foi nem por uma delegada, acredito que tenha sido por uma escrivã. Embora eu tivesse relatado tudo o que eu ei, ela tentou minimizar a situação porque ele tinha feito um escândalo na porta da minha casa, na frente da minha família toda, ela quis se ater apenas a essa situação isolada e registrou como perturbação ao sossego alheio, como se ele tivesse fazendo uma algazarra na porta da minha casa e não representasse nenhum risco para mim. Fui para casa extremamente frustrada, sabendo que isso não iria causar nenhum impacto efetivo no comportamento dele comigo”, relembra.

Para as representantes da OAB/PA, além dos motivos individuais e sociais de cada caso, como dependência e relação prévia de afeto com o agressor, existe ainda a naturalização do comportamento violento e o medo da denúncia não gerar o resultado esperado, de proteção e segurança.

“É por isso que precisamos combater o machismo na sociedade. Achar que gritos, ofensas, a agressividade com o outro são comportamentos naturais do masculino, e não um tipo de violência e agressão, precisa ser uma visão combatida. Tem também o medo do agressor punir aquela mulher após a denúncia, o medo da denúncia não receber o crédito necessário por parte da sociedade e da vítima ser excluída de determinados ambientes que eram comuns a ela, o medo dos marcadores de raça e classe fazerem com que o agressor fique impune, e até o medo do sistema policial e judiciário, que estão inseridos no contexto patriarcal da sociedade e nem sempre estão preparados para lidar com a violência contra a mulher, ao não tratar de forma respeitosa e com acolhimento a vítima, ou dar o e psicológico, social, e de segurança, que a mulher, e aqueles que dela dependem, precisam”, enfatizam Gabrielle Maués e Bárbara Tuanni.

Karen Santos, que também é coordenadora do projeto de Iniciação Científica e Extensão “Rede de enfrentamento a violência contra a mulher, a perspectiva da justiça no Estado do Pará” na Faculdade Estácio Pará, destaca que também é preciso transformar mentalidades e valores dos operadores jurídicos, com formações e aperfeiçoamentos na conduta dos agentes policiais.

“Os desafios institucionais se apresentam de diversas formas para criar essa sensibilidade que culturalmente está distante das delegacias. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (MI) no Congresso Nacional para investigar, entre outras questões, denúncias de omissão por parte do poder público com relação à aplicação dos instrumentos legais de proteção às mulheres em situação de violência, constatou vários casos precisavam ser denunciados em distritos policiais comuns, onde os agentes e delegados não têm sensibilidade nem treinamento para acolher as mulheres. Muitas vezes, o depoimento era marcado para vários dias mais tarde, o que deixava as vítimas sujeitas a novos ataques”, aponta.

“A mulher ainda é vítima de violência por causa da visão machista que ainda existe de que a mulher é um objeto à disposição”, afirma a delegada Janice Maia de Aguiar
📷 “A mulher ainda é vítima de violência por causa da visão machista que ainda existe de que a mulher é um objeto à disposição”, afirma a delegada Janice Maia de Aguiar |Arquivo pessoal

A diretora da Delegacia da Mulher de Belém (DEAM) destaca que, apesar do avanço na legislação de proteção à mulher, como a Lei Maria da Penha e com os novos tipos penais de importunação sexual e feminicídio, “a cultura machista é muito forte e muito difícil de ser mudada de uma hora para outra”, sendo importante a realização de campanhas que “disseminam orientações para a população como instrumentos de conscientização dos direitos das mulheres”.

É POSSÍVEL MUDAR?

Foi denunciando, buscando a Justiça, atrás de medidas protetivas e o acompanhamento da Patrulha Maria da Penha, que Eliana Perdigão conseguiu reagir.

Após ficar deitada em uma rede por mais de 24 horas depressiva, sem nem ao menos conseguir comer, Eliana viu que precisava reagir por ela e pelo filho, que na época tinha cinco anos. “Eu falei: ‘caramba, se eu ficar aqui eu vou morrer e quem vai cuidar do meu filho?’. E reagi. Mesmo com medo das ameaças que eu sofria, eu não podia continuar assim, pelo meu filho. E eu sei que a maioria das mulheres, quando elas lutam, reagem, é pelo mesmo motivo” (sic).

Foi também pelo filho que V. L. O reagiu. Ela conta que sempre foi uma mulher muito forte e que se sentia envergonhada por não conseguir dar um fim à violência. Incansável, não parou de lutar até as medidas protetivas saírem. No entanto, nem isso intimidou o agressor, que a ameaçou dentro do fórum criminal, onde ela estagiava.

“Ele entrou para perseguir, ameaçar e me imprensou dentro do fórum criminal, na parede. Meu chefe apareceu, o guarda apareceu. Ele tentou dissimular o que estava acontecendo e não parou por aí. Eu cheguei na parada de ônibus para ir para casa e quando eu vi ele estava atrás de mim. Dava uma fraqueza nas pernas, eu tinha a sensação que ia cair, não sei de onde tirei forças para sair fazendo um escândalo”, relembra ela.

Foi também depois de perseguições presencialmente e nas redes sociais, que Eliana conheceu as histórias de violência contra outras mulheres e decidiu fazer a diferença.

“Eu comecei a me incomodar quando estava sentada para fazer um novo BO e ouvia o relato de outras mulheres. Eu sentava, conversava, ia ouvir o que elas estavam falando, ia dar uma palavra. Essas outras mulheres me estimularam a procurar, saber respostas, e isso começou a virar um trabalho, digamos assim. Eu comecei a me envolver com elas e eu não consigo fazer diferente porque eu sei a dor que elas sentem. É diferente de quem só vai lá para saber e realmente não sabe o quanto dói, até onde dói, as dificuldades. Eu sei tudo. Eu fico ali ouvindo e depois eu digo, eu sei tudo que você está sentindo porque eu senti igual”, explica Perdigão.

Para as representantes da OAB/PA, ajudar e ensinar as mulheres sobre seus direitos através da discussão sobre o machismo é fator fundamental para entender que comportamentos agressivos, ainda que fora do aspecto físico, constituem violência contra a mulher e não devem ser tolerados.

“Nesse contexto, o feminismo surge como ferramenta principal, pois a teoria feminista nos proporciona instrumentos para enfrentar a socialização que temos desde crianças, auxiliando no combate aos estereótipos de gênero, que fundamentam a violência contra a mulher”, explicam.

Para Gabrielle Maués e Bárbara Tuanni, a informação também ajuda na propagação do conhecimento sobre direitos, como, onde para quem a vítima deve fazer a denúncia e, quais os deveres que o Estado tem para proteção.

“Não é hoje que ser mulher tem sido difícil. Não é preciso sair na rua para sofrer assédio ou violência. Como é uma mudança estrutural, nossas instituições, desde a família ao Estado, a sociedade, as comunidades e os indivíduos precisam repensar a educação, o comportamento machista, racista e classista que há gerações vem sendo reproduzido. É uma luta árdua, e permanente, das mulheres, já que a construção histórica da nossa sociedade foi baseada em paradigmas de opressão”, enfatizam as representantes da OAB/PA.

Entre silêncios e gritos de socorro: machismo e culpabilização das vítimas matam mulheres todos os dias
📷 |Arquivo Pessoal

Apesar da visibilidade, dados revelam subnotificação dos casos de violência contra a mulher. Segundo o Atlas da Violência 2019, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 4.936 mulheres foram assassinadas em 2017, maior número já registrado em 10 anos.

Ainda segundo dados do Ipea, no Pará, a taxa de violência é de 7,6 para cada 100 mil mulheres. “O levantamento de índices sobre a violência contra a mulher no Pará é uma tarefa difícil, em razão da ausência de dados sistematizados no estado, no qual somente 18,7% dos municípios possuem órgãos do executivo voltados às políticas para mulheres, contra 25% no ano de 2013. Apenas 27 das 144 cidades contam com serviços de atendimento específico para mulheres, conforme dados do IBGE”, destacam as representantes da OAB/PA.

O enfrentamento da violência contra a mulher exige políticas públicas para que o problema de fato seja monitorado e ações efetivas de proteção as vítimas.

Para a professora Karen Santos, o acúmulo de processos e as demandas civis não atendidas fragilizam a proteção das mulheres vítimas de violência. Ela destaca que as políticas públicas de enfrentamento precisam não só mudar, como serem constantemente monitoradas.

“Deve-se reconhecer que algum esforço tem sido empreendido no sentido de capacitar os profissionais envolvidos na aplicação da lei, de desenvolver projetos variados de atendimento (inclusive para autores de violência). Contudo, como dilema multidimensional existem dificuldades para concretizar os dispositivos da Lei Maria da Penha. Mesmo aqueles juízes que defendem a aplicação da lei e se esforçam em incorporar uma visão diferente, esbarram nos limites objetivos – excesso de processos, escassez de pessoal, necessidade de obedecer aos ritos e códigos penais, cobrança por celeridade e produtividade – e subjetivos – o valor da família como ente a ser preservado a qualquer custo, os papéis esperados das mulheres na sociedade, a incompreensão sobre o ciclo da violência doméstica. A prevenção de novos casos de violência contra a mulher esbarra na mentalidade coletiva e, é esse ponto de transformação que devemos buscar enquanto sociedade brasileira e paraense”, sugere.

COMO ROMPER O CICLO DE VIOLÊNCIA?

O medo de não obter êxito na denúncia, de sofrer represálias do agressor, de não se sentirem acolhidas para enfrentar o estigma social e a revitimização experimentada no processo da denúncia são alguns dos aspectos que fazem com que muitas vítimas não consigam romper o ciclo da violência.

Para as representantes da Comissão da Mulher Advogada da OAB/PA, as mudanças precisam ser pensadas para esta e para as próximas gerações de forma contínua ou cada vez mais mulheres serão vítimas, terão seus direitos e corpos violados, e sonhos aprisionados.

“A mudança vem primeiro com o reconhecimento de que a nossa sociedade hoje inflige sobre a mulher essa série de violências, que como uma sociedade patriarcal monitoramos comportamentos, ações e até planos de vida, que a liberdade e a autonomia dessa mulher são comprometidas, e que ao garantir direitos, responsabilizar agressores, e educar a sociedade para mudança de paradigmas nós caminharemos para uma sociedade mais equânime e menos violenta”, destacam Gabrielle Maués e Bárbara Tuanni.

Para proteger de fato as vítimas de violência, Karen Santos enfatiza a necessidade da presença do Estado agindo como ator transformador, através do sistema de punição efetivo.

“Não apenas gera mais segurança como cria uma expectativa de realização plena da justiça. Também é necessário focar na outra ponta do problema, que é a cultura arraigada do machismo e patriarcado na sociedade brasileira. Um estudo feito em 2019, pelo Conselho Nacional de Justiça sobre o poder judiciário no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher destaca que existe uma percepção pelo poder judiciário das variações que afetam desde entendimentos sobre os princípios do Direito Penal até o papel do Judiciário e dos juízes, ando por concepções e valores ligados às relações de gênero. Ou seja, é preciso ir além das ações repressivas contra os agressores e focar em ações educativas”, aponta.

Para se ter uma ideia, segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde de 2017 apontam que 42% das mulheres vítimas por parte do parceiro relatam lesões como consequência da violência. Além das marcas físicas, permanecem também os traumas psicológicos, como os que V. L. O. carregou por muito tempo.

Entre silêncios e gritos de socorro: machismo e culpabilização das vítimas matam mulheres todos os dias
📷 |Vicente Crispino/DOL

“Eu ei anos da minha vida andando olhando para trás achando que eu estava sendo seguida, eu ei a evitar determinados lugares em que eu achasse que iria encontrar. Quando comecei a sair novamente, tinha que estar acompanhada sempre uma figura masculina para de me manter segura”.

Para as especialistas da Delegacia da Mulher de Belém e da OAB/PA, a cultura do estupro, do assédio, da violência estão relacionadas à cultura machista. Por isso, é fundamental lutar para mudar este paradigma.

“Somente é possível com orientação e instrução, principalmente nas escolas, é preciso que essa orientação seja constante, inclusive essa orientação é uma diretriz prevista no artigo 8º da Lei Maria da Penha”, aponta a delegada Janice Brito.

Gabrielle Maués e Bárbara Tuanni enfatizam que para mudar a cultura é preciso rever os comportamentos naturalizados na sociedade que “fazem com que as mulheres sejam vulnerabilizadas e tenham direitos cerceados, como o direito de ir e vir, a liberdade de ação e pensamento, o direito a educação, a segurança, e o direito sobre seu próprio corpo”.

Para Eliana Perdigão, a única forma de enfrentar o agressor e permanecer viva é reagindo. “Não se calem. Se você vir outra mulher ser agredida ou ameaçada, mesmo que você não conheça, não importa. Sempre intervenha”.

Assim como Eliana, V. L. O garante apesar das dificuldades, é possível tomar coragem para quebrar o ciclo de violência: “Não muda, não vai mudar e nós não temos capacidade e nem obrigação de tentar mudar ou salvar alguém, isso não está nas nossas mãos. Eu superei isso quando eu vi que ou era eu, ou era ele. Eu estava vendo a minha vida ir embora e eu optei por mim”.

COMO E ONDE DENUNCIAR?

• Todas as delegacias no Brasil podem registrar boletim de ocorrência por violência contra a mulher, crime amparado pela Lei Maria da Penha. Polícia: 190.

• Caso se sinta mais confortável, busque uma Delegacia da Mulher, que fica localizada na Travessa Mauriti, n° 2.394, entre 25 de setembro e Duque de Caxias, Belém. Em Ananindeua, deve-se procurar a Travessa WE 31, n° 1.112, Conjunto Cidade Nova 5. Também é possível pedir uma medida protetiva de urgência em qualquer delegacia. O pedido, no entanto, ainda será avaliado por um juiz.

• Demais denúncias podem ser feitas pela Central de Atendimento à Mulher em Violência: Disque 180. O número funciona todos os dias da semana, inclusive feriados, 24h.

• No caso de violência obstétrica, entre em contato com o Disque Saúde 136.

• Você também pode utilizar o aplicativo móvel da "SOS Patrulha Maria da Penha", disponível para Android e IOS. Lá é possível pedir ajuda e também obter todas as informações sobre a Lei Maria da Penha.

Reportagem: Andressa Ferreira

Direção e edição: Enderson Oliveira

Captação de imagens: RBA TV

Edição de vídeos: Demax Silva

Infográficos: Vicente Crispino

Coordenação Sênior: Ronald Sales

Coordenação Executiva: Mauro Neto

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