Paraenses se preparam para o maior Círio de Nazaré 

O anúncio da volta da programação tradicional do Círio de Nazaré, que este ano contará com 13 procissões, aqueceu o coração dos devotos de Nossa Senhora. Tanto romeiros, quanto promesseiros, empreendedores, e a própria Diretoria da Festa, acreditam que este será o maior Círio de todos os tempos, já que são dois anos sem ter a Imagem Peregrina saindo com a berlinda nas ruas de Belém por causa da pandemia de covid-19. Entretanto, é importante destacar que para que a programação tradicional seja realizada, é fundamental que a população siga se imunizando contra o coronavírus.

“Somente se acontecer uma nova onda de casos de covid-19 – o que dependerá de uma nova cepa – é que a gente pode alterar a programação. A possibilidade existe? Não vamos dizer que não. Tanto que estamos acompanhando também o cenário pandêmico, mas tudo, hoje, nos leva a continuar acreditando e trabalhando para termos de volta as romarias e o Círio de Nossa Senhora de Nazaré”, disse o Diretor Coordenador da Festa, Antônio Souza.

Ele é enfático ao dizer que os trabalhos estão transcorrendo para um “círio normal”. Estratégias alternativas também foram pensadas por precaução, caso em outubro novas medidas sanitárias estabeleçam restrições. “Uma novidade será a décima terceira procissão, que no calendário de eventos é a primeira a ocorrer. A Imagem Peregrina será conduzida numa berlinda junto com os carros de promessas até o galpão da CDP, onde ficarão até a procissão do domingo”, ressaltou Antônio. Esta procissão entrou para a programação oficial em 2020, mas ainda não foi realizada.

O Círio de Nazaré, como todo paraense sabe, leva 2,2 milhões de pessoas às ruas do centro de Belém no 2º domingo de outubro. O cálculo para se chegar a este total de público leva em consideração o espaço do trajeto da procissão (vias e transversais) e a quantidade de pessoas que cabem. “Este ano, acreditamos que os devotos vão ocupar as vias para além do trajeto e transversais. Por isso, estamos elaborando um planejamento contando com maior segurança e cuidados”, antecipou o coordenador da Festa de Nazaré.

Outra questão que tem sido bastante levantada sobre a procissão é o tempo que ela irá durar. Nos últimos anos, a berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré tem chegado à Basílica Santuário antes das 12h. Com a expectativa de um público maior, existe a possibilidade da caminhada levar mais tempo. “O horário do Círio, na prática, é o povo que determina. Isto já ficou claro! Mas o nosso planejamento segue prevendo uma romaria entre cinco a seis horas de duração, ou seja, chegando antes do meio-dia”, pontuou Antônio.

Segundo ele, gerentes de meios de hospedagem já começaram a vender pacotes de hospedagem para o mês de outubro. “A gente tem recebido alguns empresários, ouvido estes relatos”, reiterou.

PROMESSAS

A expectativa de que o público vai acompanhar as procissões em outubro de maneira intensa já começa a ser pensada pelo empresário Pedro Manoel Barbosa, dono da Casa Cirio. Ele trabalha com as peças e objetos de cera que os promesseiros costumam levar durante a procissão do 2º domingo de outubro. Os itens, hoje, são chamados de ‘promessas’ ou ‘votos’.

A fábrica do “Pedrinho”, como ele é mais conhecido, fica na Cidade Velha, próximo a Catedral Metropolitana, local de partida do Círio. “Agora em maio estarei revendo toda a minha logística e engenharia de produção para já começar a confeccionar as ‘promessas’. As vendas ocorrem o ano todo, mas este ano, um volume maior de peças já estará disponível a partir de junho”, disse.

Casas de cera, rostos, órgãos, bonecos, barcos e velas já começaram a ter procura. Pedrinho já começou a receber pequenas encomendas e visitas de promesseiros, querendo saber se ele produz determinados objetos. “São dois anos sem procissão tradicional. Tem pessoas que estão se sentindo em débito e vão participar das romarias”, comentou.

Movimentação em prol da festa já começou

O cartaz do Círio 2022 foi selecionado na última quarta-feira (4) e será apresentado no final deste mês, mais precisamente no dia 29, após a missa das 18h, na Basílica de Nazaré. Antes mesmo que o ícone da festividade seja divulgado pela Diretoria da Festa, os artistas plásticos Davi Azevedo e Marco Portugal já escolheram um projeto gráfico próprio para este ano.

Os dois trabalham com confecção de camisas personalizadas, placas, balões personalizados, artigos de decoração, brindes, embalagens e arranjos florais temáticos. “Loja física temos há um ano, mas já fazíamos este trabalho bem antes. O Círio de Nazaré é a melhor temporada para a gente. Melhor até que o Natal”, disse Davi.

A coleção Círio deles inclui até imagens da padroeira dos paraenses. “Quase todos os clientes que atendemos ano ado praticamente já começaram a nos procurar. Famílias de Mocajuba (no Baixo Tocantins) que virão ar o Círio em Belém já encomendaram camisas”, ressaltou Dani.

Marco lembrou que eles começaram a trabalhar com a linha própria em 2020, ano em que as procissões foram suspensas por causa da pandemia e as confraternizações e celebrações foram mais singelas. Esta será a primeira coleção pensada de fato para um círio com a programação tradicional. “Será um Círio com muito mais gente nas ruas, com famílias se reunindo e trocando recordações, querendo homenagear Nossa Senhora com algo mais personalizado. Estamos com uma expectativa de que iremos atender muito mais pessoas que nos últimos dois anos, quando a programação não teve procissões”, disse.

DEVOTOS

Devoto de Nossa Senhora de Nazaré desde a infância, Raphael Lima é um dos fundadores do grupo “Amigos do Círio”, que participa das procissões evangelizando e ajudando promesseiros. Ele está na expectativa de que o público seja muito maior este ano. “É um grupo, uma família, irmãos, que se conhecem desde a infância. Mantemos um grupo no WhatsApp que acaba tendo maior movimento quando se aproxima a quadra nazarena. Este ano iremos viver um círio diferente de tudo aquilo que a gente já vivenciou”, acredita.

O professor Edenilson Lima, 39, participa das celebrações na Basílica Santuário de Nazaré. Devoto da Rainha da Amazônia, disse estar ansioso com a volta das procissões na programação. “Este ano não tenho promessa para pagar, mas estarei lá (na caminhada) com o meu terço nas mãos. Tenho muito o que agradecer à Ela”, comentou.

Foi diante do Glória, onde está a Imagem Original de Nossa Senhora de Nazaré encontrada pelo caboclo Plácido, que a devota Vera Santos, 54, reafirmou o compromisso de aguardar a chegada da Imagem Peregrina na Basílica, no próximo 2º domingo de outubro. “Eu não acompanho mais a procissão, mas fico, aqui, esperando por Ela”, contou.

Vera acredita que além de um público maior, o círio este ano será carregado de muito mais emoção e demonstrações de fé. “As pessoas virão com mais devoção. Muitas agradecendo a vida, outras representando os entes que perderam para a covid-19. São dois anos com um formato de Círio diferente e a volta da programação tradicional será o símbolo de que todo o mal que a gente enfrentou e estamos vencendo”, disse.