{"@context":"https://schema.org","@type":"NewsArticle","mainEntityOfPage":"/noticias/para/867479/castanha-do-para-e-o-acai-podem-desaparecer-entenda","headline":"Castanha-do-pará e o açaí podem desaparecer. 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Isso ocorre de forma diferente para cada esp\\u0026#233;cie”, explica Mauro Costa, gerente s\\u0026#234;nior de Relacionamento e Abastecimento da Sociobiodiversidade de uma empresa de cosm\\u0026#233;ticos.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para garantir o abastecimento dos insumos em risco, a fabricante de cosm\\u0026#233;ticos adotou pol\\u0026#237;tica de compra diferente, com uma porcentagem acima da demanda real para formar um estoque de seguran\\u0026#231;a.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Para fundos de investimentos e aceleradoras de neg\\u0026#243;cios verdes na floresta, os riscos do clima t\\u0026#234;m entrado na conta para novos projetos. Segundo mapeamento do Instituto de Conserva\\u0026#231;\\u0026#227;o e Desenvolvimento Sustent\\u0026#225;vel do Amazonas (Idesam), h\\u0026#225; cerca de 200 startups de bioeconomia na Amaz\\u0026#244;nia Legal. Dados da Associa\\u0026#231;\\u0026#227;o Brasileira de Startups (Abstartups) mostram que a Regi\\u0026#227;o Norte re\\u0026#250;ne 5% das empresas de base tecnol\\u0026#243;gica brasileiras dos v\\u0026#225;rios setores.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;h3\\u0026gt;Solu\\u0026#231;\\u0026#245;es pesquisas\\u0026lt;/h3\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Bruce Forsberg, gerente cient\\u0026#237;fico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amaz\\u0026#244;nia (LBA) tem identificado, nos \\u0026#250;ltimos 20 anos, extremos maiores nas secas e cheias da regi\\u0026#227;o. Ele ite que a varia\\u0026#231;\\u0026#227;o no clima \\u0026#233; c\\u0026#237;clica, mas avalia que os “ciclos est\\u0026#227;o ficando mais fortes”:\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“ N\\u0026#227;o \\u0026#233; que n\\u0026#227;o houve per\\u0026#237;odos secos no ado, mas n\\u0026#227;o eram t\\u0026#227;o frequentes e t\\u0026#227;o fortes. 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Isso est\\u0026#225; no nosso radar e os agr\\u0026#244;nomos fazem leituras di\\u0026#225;rias para entender como est\\u0026#225; o regime clim\\u0026#225;tico e o que podemos esperar”, acrescenta Zimpel, que opera com o sistema da Inocas tamb\\u0026#233;m no Cerrado e na Mata Atl\\u0026#226;ntica.\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;Ana Euler, diretora de Neg\\u0026#243;cios da Embrapa, diz que solu\\u0026#231;\\u0026#245;es de adapta\\u0026#231;\\u0026#227;o clim\\u0026#225;tica podem ser adotadas para ajudar na preserva\\u0026#231;\\u0026#227;o de cultivos sustent\\u0026#225;veis sob amea\\u0026#231;a na Amaz\\u0026#244;nia, como tecnologias de manejo florestal e sistemas de produ\\u0026#231;\\u0026#227;o mais integrados:\\u0026lt;/p\\u0026gt;\\u0026lt;p\\u0026gt;“ Mas n\\u0026#227;o existe uma bala de prata. 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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Castanha-do-pará e o açaí podem desaparecer. Entenda!

Estudo de pesquisadores brasileiros mostra que, nos próximos 30 anos, áreas climaticamente adequadas ao extrativismo na região amazônica devem reduzir até 91%, afetando o processo de produção da bioeconomia local

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Imagem ilustrativa da notícia Castanha-do-pará e o açaí podem desaparecer. Entenda! camera O cultivo do cacau é um dos prejudicados com a redução das áreas climaticamente adequadas | FOTO: MAURO ÂNGELO

Há mais de duas décadas, Paulo Sérgio Castro Alves, de 51 anos, dedica-se à produção artesanal de açaí em Santa Luzia, às margens do Rio Tapajós, no oeste do Pará. A atividade que sustenta a comunidade, no entanto, tem ficado menos produtiva nos últimos três anos. Cada safra, que rendia até 800 latas do fruto, agora dá metade disso. Ele aponta o aumento da “secura” como um dos principais motivos.

“Antes, eu via que chovia mais no nosso verão. Dava uma chuva que amenizava e molhava as árvores. Agora, não. E todo ano parece que vai diminuindo. Aí o açaí sente, não produz tudo que poderia”.

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Vistos como uma das saídas para o desenvolvimento sustentável para a Amazônia, negócios da bioeconomia sentem os efeitos das mudanças climáticas. Comunidades agroextrativistas, produtores agroflorestais e até grandes empresas que trabalham com insumos nativos têm mapeado - e sofrido as consequências - de secas mais severas, como evidenciou a de 2023.

Um estudo de pesquisadores brasileiros de cinco universidades, publicado recentemente na revista científica Biological Conservation, indica que, nos próximos 30 anos, as áreas climaticamente adequadas ao extrativismo na Amazônia Legal sofrerão um declínio de 91% de sua extensão total. A pesquisa, que avaliou 18 espécies de árvores e palmeiras, indica que castanha-do-pará, açaí, andiroba, copaíba, seringueira, cacau e cupuaçu correm risco de desaparecer ou ter a produção reduzida. Entre as 56 reservas extrativistas da região amazônica estudadas, 21 correm risco de perder uma ou mais espécies exploradas.

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Em Santa Luzia, Paulo diz que o período chuvoso deste ano, com menos água, contribuiu para a queda na produção de açaí, que já vinha impactada pela seca do ano ado, considerada a pior em mais de um século na Amazônia. Com isso, o preço do açaí, um produto cada vez mais popular no país e no mundo, subiu. Uma lata que era vendida por ele a R$ 20 ou a sair por R$ 30.

A última estiagem matou, pela primeira vez, todo o manejo sustentável de vitória-régia de Dulce Oliveira, de 52 anos. A partir das águas do Canal do Jari, também no Pará, a empreendedora há uma década transforma a planta-símbolo da Amazônia em pratos, geleias e conservas. Dulce foi pioneira ao tornar a vitória-régia um ingrediente para culinária e insumo para doces. Neste ano, a preocupação dela é que o nível da água do Jari, que segue abaixo do normal para essa época, limite mais a produção, que ainda sofre as consequências da seca de 2023:

“Não produzimos nada durante três meses no ano ado. A água demorou a voltar à frente da minha casa, onde faço o manejo. Tivemos que buscar pequenas lagoas que ficaram da seca anterior para produzir vitória-régia. Se a seca for extrema de novo, não teremos nada este ano”.

Ampliação

Cofundadora da Deveras Amazônia, que trabalha com a cadeia da bioeconomia para venda de produtos baseados em insumos nativos, Valéria Moura, doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), tem buscado ampliar a rede de comunidades fornecedoras diante da escassez de alguns ingredientes. Criado por ela e dois pesquisadores, o negócio tem 24 parceiros de seis comunidades do Baixo Amazonas, que produzem cupuaçu, camu-camu, açaí, vitória-régia e flor de jambu, entre outros.

“No início, quando começamos a trabalhar, tínhamos muita matéria-prima e muito ingrediente, que até não eram aproveitados. Mas faz alguns anos que vemos uma mudança brusca, que chegou ao auge na seca ada” - relata a empreendedora, que tem sentido, além da escassez, aumento dos preços e diferença na qualidade de frutos e ervas. “Todos estão preocupados com o que será este ano”.

Segundo levantamento da Embrapa, com dados do IBGE, dezoito produtos da sociobiodiversidade amazônica superaram R$ 11 bilhões em valor de produção em 2022. Desse montante, a maior parte vem do açaí, cacau e castanha-da-amazônia. Um estudo do WRI Brasil prevê que a Nova Economia da Amazônia (NEA) pode adicionar R$ 40 bilhões anuais ao PIB da região até 2050, através da conservação de ativos naturais, fortalecimento da bioeconomia e agropecuária e energia de baixa emissão de carbono.

Floresta em pé

Diretor-superintendente do Sebrae do Pará, Rubens Magno lembra que os negócios afetados pelas alterações no clima são justamente aqueles que, além de fomentar a economia para comunidades da região, têm gerado renda com “floresta de pé”, com um papel que também é o de ajudar na preservação da Amazônia.

A alteração no clima e os efeitos na economia da Amazônia estão também no radar de grandes empresas. Com uma cadeia de fornecedores de castanha do Brasil, cupuaçu, patauá, buriti e ucuuba, entre outros, a Natura ou a monitorar e classificar espécies mais vulneráveis às mudanças do clima, como a castanha. “De modo geral, o período de safra dessas espécies sofreu alterações, como, por exemplo, redução do período, mudança no início e fim da safra, antecipando o início e ou postergando o final. Isso ocorre de forma diferente para cada espécie”, explica Mauro Costa, gerente sênior de Relacionamento e Abastecimento da Sociobiodiversidade de uma empresa de cosméticos.

Para garantir o abastecimento dos insumos em risco, a fabricante de cosméticos adotou política de compra diferente, com uma porcentagem acima da demanda real para formar um estoque de segurança.

Para fundos de investimentos e aceleradoras de negócios verdes na floresta, os riscos do clima têm entrado na conta para novos projetos. Segundo mapeamento do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), há cerca de 200 startups de bioeconomia na Amazônia Legal. Dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) mostram que a Região Norte reúne 5% das empresas de base tecnológica brasileiras dos vários setores.

Soluções pesquisas

Bruce Forsberg, gerente científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) tem identificado, nos últimos 20 anos, extremos maiores nas secas e cheias da região. Ele ite que a variação no clima é cíclica, mas avalia que os “ciclos estão ficando mais fortes”:

“ Não é que não houve períodos secos no ado, mas não eram tão frequentes e tão fortes. O que vemos é que tem caído menos chuva no período da estiagem e as cotas dos rios da região ficaram mais baixas”.

Para culturas de ciclo longo como a macaúba, produzida pela Inocas, uma das saídas é calcular (e se planejar) para a mudança no regime de chuvas. A startup, que está na Amazônia desde 2022, criou um sistema de recuperação de pastagens degradadas com o plantio da macaúba, que tem ciclo produtivo de 40 anos.

Já são 600 hectares plantados em 11 fazendas do Pará. A palmeira é resiliente ao clima mais quente e à escassez de água, o que a faz mais adaptável a estiagens severas, explica Johannes Zimpel, fundador e CEO da Inocas. Mas, com menos água, cai a produtividade da palmeira, de onde é possível extrair o óleo vegetal que pode ser utilizado em diferentes indústrias, incluindo a cosmética e a de alimentos.

“A irregularidade no regime de chuvas dificulta também o planejamento e execução das atividades agronômicas. Isso está no nosso radar e os agrônomos fazem leituras diárias para entender como está o regime climático e o que podemos esperar”, acrescenta Zimpel, que opera com o sistema da Inocas também no Cerrado e na Mata Atlântica.

Ana Euler, diretora de Negócios da Embrapa, diz que soluções de adaptação climática podem ser adotadas para ajudar na preservação de cultivos sustentáveis sob ameaça na Amazônia, como tecnologias de manejo florestal e sistemas de produção mais integrados:

“ Mas não existe uma bala de prata. Em cada território, às vezes para os mesmos produtos, você vai precisar desenvolver estratégias que unem conhecimento científico com conhecimento tradicional”.

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