
Uma descoberta arqueológica em pleno centro de Salvador está trazendo à tona uma parte esquecida da história brasileira.
Ossadas humanas foram encontradas no subsolo do antigo Cemitério do Campo da Pólvora, onde hoje funciona o estacionamento da Santa Casa de Misericórdia. O local foi utilizado para o sepultamento de pessoas escravizadas e outras populações marginalizadas durante os séculos XVIII e XIX.
As escavações tiveram início no dia 15 de maio deste ano (2025), após uma pesquisa de doutorado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) identificar a área como um antigo cemitério.
A investigação é conduzida pelo projeto Levantamento Arqueológico na Área do Antigo Cemitério do Campo da Pólvora, financiado pela empresa Arqueólogos Pesquisa e Consultoria Arqueológica, com acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
De acordo com os pesquisadores, trata-se possivelmente do maior cemitério de escravizados da América Latina. O trabalho de campo é liderado pela arqueóloga Jeanne Dias, que destacou os desafios enfrentados durante as escavações.
“Foi um processo complexo, com duas etapas marcantes. Primeiro, tivemos que lidar com chuvas intensas e duraram quase uma semana. Depois, enfrentamos um aterro muito mais profundo do que o esperado, cerca de 2,90 metros, até alcançarmos a camada natural de solo, onde estavam os vestígios ósseos”, explicou.

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Além do resgate arqueológico, o projeto tem como foco a valorização da memória de comunidades negras que foram enterradas sem identificação.
Jeanne reforça que a iniciativa pode resultar na criação de um banco de dados genéticos e contribuir para a discussão sobre igualdade racial no Brasil.
“É também uma oportunidade de revisitar a presença desses grupos em Salvador e reconstruir uma narrativa histórica que por muito tempo os invisibilizou”, afirmou.
As escavações começaram com um ato inter-religioso simbólico, realizado no mesmo dia em que se completaram 190 anos da Revolta dos Malês, maior levante de pessoas escravizadas na história da Bahia.
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Pesquisadores acreditam que os restos mortais de participantes dessa revolta, bem como da Revolta dos Búzios (1798) e da Revolução Pernambucana (1817), podem estar entre os vestígios encontrados.
A expectativa é que o material recolhido ajude a aprofundar o entendimento sobre a presença negra na formação histórica de Salvador e inspire ações de memória e reparação na região.
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